Paraíso nos apresenta uma história bem contada, mas sem nenhum charme
Bruno Oliveira
A beleza da ficção científica é sempre levantar discussões sobre ética e moral. Assim como tornar o homem equivalente a Deus com criações que buscam a solução, mas que na verdade, só trazem a decadência. A história sempre tem por base um futuro utópico onde os ricos ficam cada vez mais ricos e, ilusoriamente, os pobres possuem uma esperança. Lógico que temos temáticas que fogem dessa cartilha, mas Paraíso tem tudo isso entranhado e mais um pouco. Pode não ser a melhor obra do gênero, mas levanta questões interessantes para serem debatidas.
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Max (Kostja Ullman) é o gerente do ano da empresa Aeon, que consiste em drenar anos de vida de pessoas pobres por dinheiro e oferecer esses anos para bilionários que pagam valores altos pela juventude. Ele vive com sua mulher Elena (Marlene Tanczik) e os dois pretendem ter um filho em breve. O acaso ocorre e o apartamento em que moravam pega fogo e o seguro não cobre ao alegar negligência do casal. Com isso, sua esposa é obrigada a doar 38 anos de sua vida como hipoteca. Tendo o futuro juntos desperdiçados, Max resolve recuperar por meios nefastos os anos roubados de sua esposa.
Boa construção do mundo, mas falta carisma
A sinopse é interessante e já é suficientemente digna para uma discussão sobre certo e errado. O modo em que Elena perde seus anos de vida me soa como uma violência equivalente a um estupro. Mesmo assim, foi algo juridicamente legal pois estava sob contrato. Se de início nos é mostrado a utopia onde todos são felizes, nesse momento, notamos a grande falha dessa sociedade. É sempre assim e sempre será. Isso pode servir de alegoria para qualquer hipocrisia e falácias que vemos no nosso mundo real.
Quem se beneficiava disso logo é vítima e rapidamente o pensamento muda, pois agora está sentindo na pele o que grandes corporações podem fazer com os mais fracos. O desespero pode ser capaz de atos terríveis e a busca por justiça pode acabar machucando pessoas inocentes que não tem nada a ver com a história. Isso torna não só a sociedade hipócrita, como nossos protagonistas também. Estando na engrenagem está tudo bem, quando está fora, você faz o mesmo que as pessoas que você criticava.
A margem da sociedade, um grupo terrorista age contra esse tipo de corporação. Isso dá uma credibilidade grande ao filme, pois sabemos que nada no mundo é unânime. Se uma força cresce, automaticamente uma força contrária cresce do outro lado. Por ser mais fraca e menos poderosa, pode ser terrível por ter que chegar a níveis extremos em busca de justiça por sua causa. A construção desse mundo é excelente e não tenho o que tirar e pôr nessa equação.
Conclusão
Paraíso faz o feijão com arroz da ficção científica muito bem feito. Ele é perfeito por causa disso? Não mesmo. Embora não tenha um defeito muito claro, ele não é empolgante. O mundo construído é muito bom, mas falta carisma em tudo e em todos. Também não apresenta novidades em níveis que me fazem realmente feliz. Acabei vendo uma história bem contada, mas sem nenhum charme que me faça indicar que nem um louco por aí. Vale para aquela tarde sem graça sem ter o que fazer.
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Trailer do filme Paraíso
Ficha Técnica do filme Paraíso
Título original: Paradise
Direção: Boris Kunz
Roteiro: Simon Amberger, Peter Kocyla e Boris Kunz
Elenco: Kostja Ullman, Marlene Tanczik, Corinna Kirchhoff, Iris Berben, Lisa-Marie Koroll, Lorna Ishema, Numan Acar, Alina Levshin, Lisa Loven Kongsli
Onde assistir: Netflix
Data de estreia: 27 de julho de 2023
Duração: 117 minutos
País: Alemanha
Gênero: Ficção-científica
Ano: 2023
Classificação: 16 anos