Pra que Poesia?

José Danilo Rangel

Com poesia não se compra pão,
Com poesia não se compra carne,
Nem sapato, nem camisa, nem nada.
Nunca ouvi falar de uma promoção assim:
Traga uma poesia bem bonita
E ganhe dez por cento de desconto!
Nunca ouvi da boca de um taxista,
Ou de um garçom, ou no caixa do supermercado:
É a dinheiro, cartão, ou poesia?
Não conheço ninguém que tenha abonado
A falta no trabalho dizendo:
Chefe, ontem não pude vir,
Estava escrevendo uma poesia,
Mas tá aqui, tá pronta!
Não sei de nenhum professor
Que tenha aliviado depois de ouvir:
Professor, eu até tentei, mas a Poesia
Não me deixou terminar a tempo.
Não sei de ninguém que tenha
Tomado uma poesia para dor de cabeça,
Ou para insônia, ou para outro mal qualquer,
Não sei de ninguém que tenha
Matado a sede ou a fome com poesia,
Nem de alguém que tenha consertado
O carro, a bicicleta ou qualquer outra coisa
Com uma poesia.
Nunca ouvi frases assim:
Calma, vou ali buscar a poesia.
Calma, ainda temos a poesia.
Tudo bem, eu sempre trago uma poesia comigo.
Contudo, uma boa poesia
Pode nos falar de qualquer coisa
E quando queremos ouvir,
Isso é importante.
Uma boa poesia aconselha
E quando estamos perdidos,
Isso é importante.
Uma boa poesia é capaz de nos mostrar
Que não somos os únicos a pelejar pelos dias
E quando sofremos,
Saber disso é importante.
Uma boa poesia tem o poder de inquietar,
De consolar, sossegar, desassossegar,
De Indagar, descrever, colorir, descobrir,
De trazer para fora, ou levar para dentro,
O que por outro meio não transitaria.
A Poesia é capaz de dizer
O que de outra forma não seria dito,
Ela revela o que de outra forma
Ficaria escondido,
Proclama o que outra forma seria silêncio.
Mas eu entendo a pergunta,
Se a Poesia só é capaz disso,
De falar ao sujeito, de alcançar o sujeito,
Qual é mesmo a sua serventia
Num mundo cada vez mais prático,
Cada vez mais frio, mais fútil, mais mecânico?
Num mundo onde as pessoas
São meios e não fins,
Pra que, realmente, pra que Poesia?

José Danilo Rangel

José Danilo Rangel tem 29 anos, é cearense, de Itaitinga, vive há 20 anos em Porto Velho, Rondônia, e já foi conhecido nas rodas undergrounds portovelhenses, por ser esportista radical e pela frequência (e confusões) em festas de metal. Sempre leu muito, mas não gostava de Poesia, na verdade, considerava-a futilidade. Escrevia artigos, crônicas, contos, mas nada em verso. Apaixonado, entanto, decidiu escrever um soneto para se declarar, foi assim que encontrou na Poesia um meio de falar sobre o que sempre achou importante falar.
NAN