Proibido Nascer No Paraíso documentário crítica

‘Proibido Nascer no Paraíso’, a luta das gestantes de Fernando de Noronha

Ana Rita

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20 de abril de 2021

Desde 2004, gestantes da ilha de Fernando de Noronha precisam se deslocar para realizar os partos e, em alguns casos, até o acompanhamento da gravidez. Devido à essa proibição, Joana Nin produziu e dirigiu o documentário Proibido Nascer no Paraíso. O filme é uma forma de denúncia e reflexão sobre as condições de algumas mulheres, na ilha paradisíaca.
Acompanhando parte da gestação de três mulheres, Ana Carolina da Silva “Babalu”, Ione Leão e Harlene Pereira, o documentário retrata todos os impasses e problemas que elas passaram. Do longo tempo fora de casa para o parto no continente a atuações mais incisivas do Governo, com alertas sobre a responsabilidade das mães com a gestação na ilha. Um momento bonito e especial da família se torna uma sequência de inúmeros conflitos e estresses.

Pertencer a Ilha

O documentário Proibido Nascer no Paraíso se inicia com a apresentação do paraíso em questão, a beleza natural de Fernando de Noronha, com suas ondas, seu mar azul. Com uma explicação rápida sobre a formação dos swells, a narração compara o parto da mulher com a formação das ondas. Nós, seres humanos, possuímos naturalmente uma conexão com o mar. No entanto, para uma nativa e moradora de Fernando de Noronha, aquele mar faz parte do seu lar. Afinal, para elas, Noronha não é apenas um lugar de beleza exótica, é o local ao qual elas pertencem.
Em 1972, foi inaugurado o Hospital São Lucas, onde os nascidos na ilha tinham assistência completa desde o berço e, assim, parte dos moradores da região podiam aumentar suas famílias sem precisar se desconectar com suas casas. Contudo, com o tempo, o hospital passou a ser apenas para o acompanhamento pré-natal, com alguns exames disponíveis.
Na sua maioria, as gestantes insistem no parto na ilha. É completamente natural que as mães queiram estar perto da sua família e de casa, um lugar de conforto e segurança. Entretanto, sem UTI neonatal, sem a infraestrutura necessária e sem o suporte para intercorrências em um parto, o Governo justifica que as gestantes não devam ter seus filhos na ilha. O conselho é de que elas façam uma viagem, geralmente, para Recife. Atualmente, o tempo limite de uma gestante em Fernando de Noronha é de sete meses, os outros dois meses são no continente. Além disso, após o nascimento do bebê, só podem retornar após dois meses.

Proibido Nascer no Paraíso crítica documentário

Foto: Divulgação

Paraíso e turismo

Fernando de Noronha é um arquipélago natural, com um interessante planejamento de conservação. Em 2001, foi declarado pela UNESCO  Patrimônio Natural da Humanidade e hoje é um dos pontos turísticos mais admirados no Brasil e no mundo. É, de fato, um lugar com forte potencial turístico, que logo chama a atenção de empresários e investidores. Consequentemente, o local deve apresentar boa infraestrutura para comportar esse crescimento advindo do turismo. Assim, essa reflexão é exposta durante o depoimento de um morador e investidor sobre a população trabalhar nesse meio de hospedagem.
Mesmo com fortes investimentos, as gestantes seguem desassistidas em Noronha. O governo alega que o custo para uma infraestrutura necessária é muito alto, sendo mais viável e barato arcar com viagem e hospedagem da gestante. “Para eles, o custo financeiro é mais importante que o sentimental”, diz Ione, uma das gestantes.

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Controle de natalidade

A história e formação do arquipélago é curiosa, uma vez que Fernando de Noronha já foi de presídio a base militar durante a Segunda Guerra Mundial. Com o fim da guerra, e o paraíso sendo definido como distrito de Pernambuco, o turismo começou a ser explorado. Com esse crescimento do turismo, é normal que turistas se relacionem com moradores e, assim, a população aumenta.
Não se fala diretamente isso, mas o documentário Proibido Nascer no Paraíso expõe que talvez essa decisão de não “permitir” partos em Noronha seja uma forma de controle da natalidade, sendo também mais difícil conseguir o titulo de nativo da ilha. No depoimento do médico do Hospital São Lucas, Dr. Milton comenta que falam que antigamente, em torno de 10 anos atrás, essa complicação para o parto no paraíso era de fato uma justificativa do controle de natalidade.
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De quem é a responsabilidade?

Além disso, as conversas com a direção do hospital, autuações do Conselho Tutelar reforçam o pensamento de que a gravidez é uma responsabilidade da mulher. O Governo não obriga nenhuma gestante a não ter seu parto na ilha, mas também, não fornece a estrutura necessária para isso.
Durante a ida a Recife, com Ione e Harlene no hotel, fica mais claro o incomodo por parte das mães em não terem o conforto de seus lares para a organização do enxoval do bebê. Elas precisam passar por uma situação desconfortável, precisam se hospedar em um hotel e continuar os exames como se estivessem no continente para tratar uma doença. Perde-se parte do brilho desse momento tão mágico para as famílias.
Assim, a responsabilidade recai sobre a mãe, com a alegação de que esta pode colocar em risco o parto de seu bebê, não o Estado, que deveria garantir toda a assistência devida. Como disse Harlene em depoimento, “As mulheres perderam o papel central na cena do parto e o poder de fazer as próprias escolhas”.
Enfim, o documentário de Proibido Nascer no Paraíso, de Joana Nin, expõe um problema que poucos conhecem, uma luta de mulheres moradoras de um dos mais importantes pontos turísticos do Brasil. É retratada uma triste realidade passada em um verdadeiro paraíso natural.

TRAILER

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FICHA TÉCNICA DE ‘PROIBIDO NASCER NO PARAÍSO’

Direção: Joana Nin
Onde assistir ao documentário ‘Proibido Nascer no Paraíso’: Globoplay (a partir de 1º de maio)
Data de estreia: sáb, 01/05/21
País: Brasil
Gênero: documentário
Ano de produção: 2021
Duração: 78 minutos
Classificação: livre

Ana Rita

Piauiense, nordestina e estudante de Arquitetura, querendo ser cinéfila, metida a crítica e apaixonada por cinema, séries, arte e música. Siga @trucagem no Instagram!
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Créditos Galáticos

Créditos Galáticos: 8

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