Malhação Toda Forma de Amar Guga Serginho

QUEERLAND | ‘Malhação’ e a sexualidade na adolescência

Giselle Costa Rosa

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6 de novembro de 2019

A orientação sexual pode ser uma estrada com curvas sinuosas e mal sinalizada. Na coluna da última semana de outubro, falei da sexualidade fluida. Dando continuidade ao assunto, abordo o programa de TV aberta “Malhação – Toda Forma de Amar”, da Rede Globo.

Na temporada de 2019, o seriado tem o seu primeiro protagonista gay, Guga, vivido pelo ator Pedro Alves (assumidamente bissexual na vida real). Mas antes dele se assumir para a família, o personagem fez sua jornada de descoberta ao se relacionar sério com Meg (Giullia Bertolli), terminar, namorar um homem e voltar a “dar uns pegas” nela. A “virada de chave”, de hétero para homo, fez com que o pai de Pedro, Max, ficasse extremamente confuso. Reação muito comum entre a maioria das pessoas diante uma situação dessas.

Não há consenso

Pesquisadores relatam que uma pessoa pode experimentar sua primeira atração sexual pelo mesmo sexo por volta dos 8 ou 9 anos, mas outros especialistas dizem que esse desejo só desperta perto dos 11 anos, enquanto outros discordam dos demais. Ou seja, não há nenhuma idade definida, não havendo um consenso acerca disso.

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Foto: Divulgação / Rede Globo

Orientação x identidade sexual

Fora que há uma diferença entre orientação e identidade sexual. A orientação sexual se refere à atração que uma pessoa sente por um ou mais de um sexo. Já a identidade sexual seria a percepção de gênero sexual que a pessoa tem de si própria. E para deixar tudo ainda mais confuso, a orientação e a identidade sexual não são estáticas e podem mudar ao longo do tempo de acordo com o contexto. Ou também nunca rolar.

Por isso, Max, além de estar confuso, fica irritado com a mudança brusca da escolha do filho. A postura foi rígida diante da revelação, resolvendo renegar os acontecimentos presentes. Isso o leva a achar que existe uma “chave hétero/homo”, que pode ser acionada quando se deseja. Mãe, pai e filho tentam lidar com a novidade em um consultório terapêutico. E, diante da psicóloga, Pedro solicita que Max seja transformado em heterossexual novamente (a velha terapia de conversão). Um total despautério.

Apoio e diálogo

Como se não bastasse o conflito comum que pode haver na adolescência acerca da própria sexualidade, muitos pais, afoitos e preocupados, desesperam-se com a jornada sexual de seus filhos. Não percebem que podem acabar sufocando-os com cobranças, rejeição, xingamentos e intolerância. Nada que é imposto trará resultados reais e satisfatórios. O apoio, bem como a conversa franca e equilibrada, evitam o afastamento entre filhos e pais, como também os ajudam nessa jornada que pode ser demasiadamente sofrida e angustiante.

Algumas pessoas com sexualidade fluida podem descobrir ao longo da vida uma orientação diferente. Mas, em geral, é na adolescência mesmo que a orientação sexual se desenvolve e se expressa. O gênero, por outro lado, desponta na infância.

Foto: Divulgação / Rede Globo

Todos os jovens que saem do armário correm o risco de sofrer preconceito, discriminação ou violência em suas casas, escolas, locais de trabalho, comunidades religiosas etc. O combate à intolerância é fundamental para que esses jovens não sofram, adoeçam e até mesmo se matem. A rejeição dos pais está intimamente ligada à problemas de saúde mental e comportamental.

A importância da TV aberta

Falar sobre isso na TV aberta é de suma importância para dar visibilidade ao tema. Não obstante, mostrar que o jovem precisa de apoio e amor dos pais em um momento delicado de sua jornada. Seja qual for o caminho escolhido por ele pode não o ser definitivo. E, mesmo que seja, não é o fim do mundo. E mais: há pessoas que transitam nos dois mundos, seres totalmente fluidos sexualmente. Estamos falando dos bissexuais.

Vale lembrar que não é a primeira vez que Malhação aborda a homossexualidade em suas histórias. Em “Malhação: Vidas Brasileiras”, os personagens de Pedro Vinícius e Giovanni Dopico protagonizaram o primeiro beijo gay da trama, em outubro do ano passado. Em 2017, em outra edição, a novela exibiu também um beijo entre duas mulheres.

A saber, “Malhação – Toda Forma de Amar” vai ao ar na Rede Globo de segunda a sexta, na faixa de horário das 17h ou no serviço de streaming da Globoplay.

Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
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