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‘Quo Vadis, Aida?’ e o gélido bafo da morte

Bruno Giacobbo

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1 de abril de 2021

Vocês lembram o que estavam fazendo, no dia 13 de março de 2020, quando foram tomadas as primeiras medidas oficiais com o intuito de tentar controlar o avanço do Covid-19? Eu lembro. Era uma sexta-feira. Estava em uma feira cervejeira, na Barra, no Rio de Janeiro. Assim, discretamente, comemorei que no sábado, graças ao lockdown decretado pelo governador, não precisaria acordar cedo para ir à pós-graduação.
Enfim, quase um ano depois, ainda não vivemos como vivíamos antes. O Réveillon e o Carnaval, duas das maiores fontes de renda do Rio de Janeiro, por exemplo, foram cancelados. No dia a dia, como medida de segurança, as pessoas não podem sair sem máscara. Nesse ínterim, mais de 31 mil fluminenses tiveram suas vidas ceifadas. Ou seja, para as famílias desses cidadãos, levados abrupta e precocemente, nada será como antes, nada voltará ao normal. É, de fato, uma situação que me faz sentir como se estivesse dentro de um filme de guerra.

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Sobre ‘Quo Vadis, Aida?’

Dirigido e roteirizado pela cineasta Jasmila Žbanić, Quo Vadis, Aida? é um filme de guerra que representa a Bósnia e Herzegovina no Oscar 2021. Ainda inédita nos cinemas, essa esmerada produção retrata o “Massacre de Srebrenica”, um dos mais lamentáveis momentos da Guerra da Bósnia (1992 a 1995). Nessa cidade, localizada no leste do país, entre os dias 11 e 25 de julho de 95, segundo dados oficiais, 8.373 bósnios mulçumanos, entre jovens e velhos, foram chacinados por paramilitares sérvios comandados pelo general Ratko Mladić. Entretanto, no centro da trama temos Aida Selmanagić (Jasna Đuričić), uma professora que trabalha como intérprete para os militares holandeses que atuam na Tropa de Paz da ONU.
Apesar de optar por um recorte temporal bastante diminuto, a cineasta bósnia consegue evocar uma época pregressa, anterior à guerra, por meio de algumas poucas imagens que caracterizam as lembranças da protagonista e, principalmente, através de palavras e afetos. Estes dois últimos artífices aparecem a partir da entrada em cena de Nihad (Izudin Bajrović), Hamdija (Boris Ler) e Sejo (Dino Bajrović), respectivamente, marido e filhos de Aida. Inicialmente, eles estão fora da base holandesa onde milhares de bósnios mulçumanos se refugiaram. No entanto, entre um serviço e outro de tradução, ela consegue colocar sua família para dentro. E é aí que temos a chance de conhecê-los melhor.

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Lições de um período sombrio

Antes da guerra, Nihad era diretor de escola, talvez, a mesma em que a personagem principal do filme Quo Vadis, Aida? dava aula. Um dos rapazes, de acordo com palavras da própria mãe, atraía a atenção das meninas. Era bastante popular. Este mesmo rapaz completaria em breve o ensino médio. Por outro lado, o outro só pensava em música. Seu sonho era se tornar um astro pop internacional. Nihad tem uma agenda. Nela, há mais de três anos, ou seja, um pouco depois do começo da beligerância, o homem anota todo santo dia os acontecimentos vividos pela família. É uma espécie de diário para que eles não se esqueçam de nada e tirem lições, uma vez que a ideia é sobreviver e um dia voltar a viver como viviam antes. Acontece que para milhares de bósnios nada será como antes, nada voltará ao normal.
Nesse quase um ano de pandemia, ainda que bombas não tenham despencado sobre nossas cabeças, que vizinhos não tenham sido fuzilados, episódios, infelizmente, comuns em conflitos como a Guerra da Bósnia, a sensação de perda de liberdade devido ao Covid-19 é semelhante. Afinal, de uma hora para outra, nossas vidas mudaram e passamos a sentir o gélido bafo da morte. E se essas coisas não fossem suficientemente fortes para criar a sensação de estar dentro de um filme de guerra, a coincidência entre o diário de Nihad e o caderno no qual minha mãe anota quase todos os pormenores do nosso convívio familiar, ao longo do período de confinamento, soou como um tiro de misericórdia.
Desliguem os celulares e boa diversão.

TRAILER

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FICHA TÉCNICA DO FILME ‘QUO VADIS, AINDA?’

Título original do filme: Quo Vadis, Aida?
Direção: Jasmila Žbanić
Roteiro:
Jasmila Žbanić
Elenco:
Jasna Đuričić, Izudin Bajrović, Boris Isaković, Johan Heldenbergh, Raymond Thiry, Emir Hadžihafizbegović
Onde assistir ao filme ‘Quo Vadis, Aida?’: aluguel / compra no streaming
Data de estreia: qua, 21/04/2021
País: Bósnia
Gênero: drama, guerra
Ano de produção: 2020
Duração: 101 minutos
Classificação: a definir

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
10
Créditos Galáticos

Créditos Galáticos: 10

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