RESENHA | ‘Bom dia, Verônica’ é uma obra de fazer o coração palpitar de medo e ansiedade

Natalia Gulias

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18 de abril de 2017

Bom dia, Verônica de Andrea Killmore é puro mistério da forma mais intrigante que um leitor poderia encontrar. Desde o nome da autora, que não pode ser revelado e que se esconde atrás de um pseudônimo, até a vontade de desmascarar, ao lado de Verônica todos os segredos sujos do ser humano. Um thriller que promete revirar as camadas mais profundas dos desejos dos homens, principalmente, e que traz à tona diversos problemas atuais, como o machismo, os relacionamentos abusivos e as relações de poder.

Verônica Torres é uma secretária no Delegacia de Homicídios da cidade de São Paulo, porém carrega um passado sombrio: sua vida mudou completamente após os acontecimentos que levariam à morte de sua mãe e a sua tentativa de suicídio, o que a fez perder um cargo de importância na polícia civil.

Assim, com um casamento morno e um chefe já corrompido, Verônica decide fazer justiça. Presenciando o suicídio de uma mulher fragilizada dentro da delegacia e envolvendo no caso de uma vítima de violência doméstica, a mesma está a alguns passos de correr grandes riscos, atrevendo-se a ultrapassar a hierarquia do chefe Carvana para solucionar dois casos engavetados pelo mesmo.

“Era o primeiro dia do fim da minha vida.”

A trama vai de encontro a tudo que a sociedade busca esconder, mas não consegue, teimosamente, erradicar. Assassinatos, estupros, necrofilia. Os problemas principais da obra são causados pelos homens que geralmente seriam chamados de “homens de bem” pelo bom emprego, pela boa conduta social, por pagarem suas contas, por serem vistos como boas pessoas e não interferirem na vida dos outros. Assim pensam as pessoas que vivem da superficialidade dos sites de relacionamento que aparecem neste drama policial.

Com diversas metáforas para problemáticas atuais, os mistérios se revelam de forma gradual e a tensão do leitor é garantida, acompanhada do sentimento de estar com o coração palpitando, demasiada é a ansiedade causada pela forma direta que Killmore expressa as suas histórias, sem escrúpulos e com um linguajar bem característico do morador urbano brasileiro.

Além disso, deve-se destacar a possibilidade de o enredo ser baseado em fatos reais, uma vez que sabe-se que a autora já foi parte da polícia e não pode revelar a sua identidade, nem mesmo para a editora. Dessa forma, a apresentação é impecável, aumentando o clima misterioso, com ilustrações que se adequam ao estilo suspense.

A obra é perfeita para os fãs de “Diário de uma escrava”, também publicado pela Darkside Books e já resenhado pelo Blah Cultural, que buscam justiça para pessoas como a personagem principal Laura, demonstrando uma forte sede por vingança independente da ética que deveria existir no trabalho policial, já muito afetado pela corrupção estrutural do país.

O livro retrata como, muitas vezes, as mulheres são subjugadas fracas e incapacitadas de realizarem seus trabalhos e até mesmo de serem vilãs e de cometerem assassinatos. Aliás, pode-se ver o que as violências física e psicológica podem causar em indivíduos como Marta – que comete suicídio – ou Janete – que permanece amando o marido assassino –, personagens essenciais no contexto gera. É fácil ver como é quase natural para o ser humano tirar vantagem da fraqueza do outro quando este tem a chance.

“Agora ele vai ser capaz de me amar.”

Misturando histórias que já apareceram nos jornais de fato e boatos que surgiram há anos, como a “doença do beijo” e cemitérios clandestinos, o horror de cada descoberta não é explicável e é de cair os queixos, pois a cada página, o enredo ganha mais forma e menos sentido lógico, tornando-se mais absurdo e mais viciante, fazendo o leitor se perguntar se é apenas fruto da imaginação do autor ou se é fruto de uma experiência real.

À medida que aproxima-se do fim, o leitor é tomado por um misto de sentimentos, confundidos com medo, tensão, tristeza e esperança de justiça pela vida de Marta, Janete e todas as mulheres envolvidas nas atrocidades cometidas por Brandão – um assassino em série – e por Gregório – um necrófilo do Instituto Médico Legal.

“Não chorei as dores do mundo, mas minhas dores já eram suficientes para me inundar por completo.”

O livro é recomendado a todos que adoram um mistério a ser resolvido e para aqueles que buscam dar mais foco para autores brasileiros do gênero de suspense ou terror. A vingança e a justiça irão alimentar no leitor um desejo intenso para terminar a obra o mais rápido possível, porém deve-se haver cuidado para não deixar nenhuma informação passar pois a autora pode pregar pegadinhas naquele que não prestou devida atenção.

Natalia Gulias

Uma vestibulanda de medicina de 17 anos usa seu curto tempo livre para ler bastante e descansar da pesada rotina de estudante.
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