RESENHA | ‘Diário de Uma Escrava’ é um terror que escancara a realidade de uma sociedade suja

Natalia Gulias

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29 de dezembro de 2016

Diário de Uma Escrava é uma novela no estilo mais ‘tapa na cara” possível. Reunindo casos de diversos sequestros – no total, sete – Rô Mierling criou a trama policial que escancara a realidade suja da sociedade e, sobretudo, dos desejos do ser humano. Parecendo que saiu de um fórum da Deep Web – plataforma de acesso à internet sem rastreamento, onde ocorrem diversos crimes – o livro causa no leitor um misto de perturbação, agonia e, diversas vezes, ansiedade.

A obra assemelha-se a grandes clássicos do gênero terror, como livros do famoso Stephen King. Dessa forma, nasce no Sul do Brasil uma escritora com grande potencial para o gênero por não apenas criar um enredo intrigante, mas também por este ser totalmente baseado em fatos reais – os quais são descritos ao final da história.

O enredo se propõe a expor a vida de uma jovem que há quatro anos vive em um buraco, abaixo de uma casa. Após ser sequestrada por Ogro, o apelido que o sequestrador ganha, Laura sofre com diversos tipos de tortura. De violência física intensa, até violência sexual diária; a jovem depara-se com um ambiente que transforma completamente sua mente e a torna versátil para tentar fugir de acordo com humor de Ogro.

Com uma apresentação impecável, Diário de Uma Escrava sai do forno com uma capa dura e arte incrível na mesma, na qual há uma borboleta – que representaria a liberdade ou a prisão. Com a cabeça e a goteira tingidas em um degradê que começa em azul e termina em um roxo que retratam as cores da borboleta e que Laura, a prisioneira, não vê há tempos. Além desses elementos, o interior do livro carrega ilustrações simbólicas na trama e uma diagramação condizente com o estilo de carta e diário. Em suma, o trabalho da editora agrada os amantes de literatura de terror.

Assim como o degradê, a personalidade de Laura é moldada no decorrer da obra de forma gradativa. É possível acompanhar a raiva, ocasionada por seus maus tratos, e a confusão determinada pela violência psicológica que Ogro exerce. Pelos quatro anos de encarceramento, ele a faz acreditar que não é mais desejada no mundo, nem por seus familiares ou seus amigos, e que só ele seria capaz de amá-la e dá-la conforto. Dessa forma, Laura transforma-se em outra pessoa, uma vez que o sequestrador se empenha em tirar dela todo e qualquer lampejo de fugir.

Conforme a história vai se constituindo, as vítimas de Ogro são expostas, assim como sua vida pessoal. Choca a personagem principal e os leitores descobrir que o homem possui uma vida normal, é casado e é detentor de um sítio e, apesar de vizinhos desconfiarem de seu comportamento no passado, que mal aquele ser poderia causar isolando-se no meio da estrada? Assim, os leitores vão entendendo que não é necessário realmente se parecer com um Ogro ou um monstro, para ter em si puro desejo por maldade e, sobretudo, prazer no sofrimento alheio – basta ter a oportunidade de praticar o mal.

Consequentemente, vê-se a frieza do homem ao captar suas vítimas: meninas, jovens, belas e ditas como ingênuas. No início de sua puberdade, a maioria é retratada como em busca de um pouco de atenção e uma fraqueza reforçada pela sociedade patriarcal. Entende-se que a obra não busca um final belo em sua totalidade e, sim, mostrar para o leitor a verdade do mundo velado em que vive, um mundo sujo e que trata suas mulheres como objetos de prazer. Misturando a realidade com o toque macabro de Rô Mierling, Diário de Uma Escrava prende o leitor até a última página, em busca de uma reviravolta – que é garantida – e com aquele coração cheio de esperança por uma vitoria para Laura.

Entregando uma obra que assemelha-se a uma versão real do conto “A Bela e a Fera”, sem romantismos, porém Mierling propõe uma análise da síndrome de Estocolmo, já dita por especialistas que está presente na princesa que sente afeto pelo sequestrador, por ser ele que dá abrigo, comida, água e momentos raros sem sofrimento. A agonia nos momentos finais da trama é certa e o leitor tentará, com certeza, entender as “pegadinhas” que a mente poder pregar em momentos de desespero. A leitura é de linguagem acessível e vale o tempo e o dinheiro tanto daqueles que gostam do gênero, quanto daqueles que não tiveram a oportunidade de experienciar esta adrenalina.

FICHA TÉCNICA

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Título | Diário de uma Escrava
Editora | DarkSide® Books
Edição | 1ª
Idioma | Português
Especificações | 224 páginas, Limited Edition (capa dura)
Dimensões | 14 x 21 cm

Natalia Gulias

Uma vestibulanda de medicina de 17 anos usa seu curto tempo livre para ler bastante e descansar da pesada rotina de estudante.
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