RESENHA | ‘O mundo de Aisha’ é um agradável encontro de arte, jornalismo, fotografia e literatura

Gabby Soares

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23 de outubro de 2017

A reportagem em quadrinhos O Mundo de Aisha, de Ugo Bertotti, conta diferentes histórias de mulheres do Iêmen e é inspirada nas imagens e entrevistas da fotojornalista Agnes Montanari. A HQ, dividida em três partes, explora as dificuldades culturais, sociais e econômicas que Sabiha, Hameda, Aisha, Houssen, Ghada, Ouda e Fatin enfrentam em suas vidas.

O elemento de unidade das histórias dessas mulheres é a questão da tradição do uso do niqab, véu que cobre todo o rosto e os cabelos com exceção dos olhos, e como suas vidas são impactadas por essa norma religiosa e social. Os relatos de preconceito, violências físicas e simbólicas e injustiças sociais e de gênero sofridas por cada uma delas são acompanhados por falas que expõem particularidades culturais, muitas vezes mal interpretadas pelo olhar ocidental, e trechos quase folclóricos que metaforizam a organização social e cultural do Iêmen.

Além do recurso literário e do discurso dos personagens, a história também conta com um narrador onisciente em terceira pessoa que apresenta alguns fatos e acontecimentos. Apesar dessa característica ajudar o leitor a compreender o que está acontecendo na narrativa, em alguns momentos mostra-se desnecessária, pois os desenhos carregam sentido suficiente para o leitor compreender o enredo. Apesar dos traços simples e as vezes disformes, as sombras criam muitos significados nessa HQ, que utiliza apenas o preto e o branco.

Outra característica de O Mundo de Aisha é a presença de fotografias em algumas partes da história. A inserção das imagens Montanari no layout da HQ ressalta a presença da fotojornalista no local além de aproximar os personagens do público. Esse recurso se assemelha a reportagem em quadrinhos “O Fotógrafo”, de Didier Lefèvre, Emmanuel Guibert e Frédéric Lemercier.

O subtítulo da reportagem de Bertotti “A revolução silenciosa das mulheres no Iêmen” indica que essas histórias, ainda que difíceis, apresentam inspiradores avanços para as trajetórias pessoais dessas mulheres assim como para a posição delas no país. A junção de eventos reais com ficção auxilia a construção quase que didática do roteiro sobre questões culturais e de gênero em um país marcado por tradições milenares. E de forma simples e eficaz, O Mundo de Aisha consegue traçar um quadro sobre a forma como as mulheres são tratadas nessa sociedade, o ideal de liberdade, a violência e a falta de espaço do feminino em locais públicos, na organização social, política e econômica do Iêmen.

Gabby Soares

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