RESENHA | “Shirley”: Uma narrativa que caminha entre o romance e o político
Gabby Soares
|22 de fevereiro de 2018
Como o prefácio aponta, este pode ser considerado o romance experimental de Charlotte Brontë uma das autoras mais clássicas do Romantismo. Não é uma de suas histórias mais famosas ou aclamadas pela crítica, ela encontra se mérito, no entanto, na forma como a mais velha das irmãs Brontë consegue apresentar as ligações sociais, políticas e econômicas que regem as relações e personagens da Inglaterra do início do século dezoito.
Shirley segue a narrativa da sobrinha de um clérigo, Caroline Helstone, e a dona de propriedades, Shirley Keeldar, duas amigas que vivem na paróquia de Briarfield, em Yorkshire, e têm as vidas entrelaçadas pela vida provinciana e por suas afeições por Robert Moore, um comerciante de tecidos da região. Entretanto, as relações sociais e econômicas de um país que está em guerra contra Napoleão Bonaparte, o interesse, seja romântico ou de amizade, faz com que nada seja tão simples.
A obra apresenta um retrato bem mais realista que romântico desses personagens e dos acontecimentos dessa sociedade, ainda que utilize a ideia do amor como uma fonte de conforto e redenção. Há uma certa ironia na descrição da narrativa e uma crítica inerente nos diálogos inteligentemente estruturados que dita, desde o começo, que aponta como esse tom analítico e um tanto cínico fazem parte do livro. E a narração é o elemento que mais aponta para essa característica.
A narradora conversa diretamente com o leitor; o trata como o interlocutor que é e estabelece um diálogo direto em muitos momentos. Além da narração apontar quais são as direções que a leitura deve seguir, também brinca com as expectativas e suposições que podem fazer parte do repertório do leitor. E no que diz respeito a repertório, um problema técnico da edição: muitas frases estão em francês e a tradutora, Solange Pinheiro, escolheu por deixa-las em francês e traduzir apenas em um apêndice no final da edição, o que atrapalha e irrita durante a leitura.
Entretanto, essa cuidadosa e significativa narrativa que traz um dos maiores defeitos do livro: o ritmo do texto. De muitas maneiras, a obra se perde na descrição de personagens e locais, se alongando de forma desnecessária, ou fazendo conexões que não aprecem acrescentar muito à história. Em alguns momentos, a autora parece entrar em completas digressões e leva um bom tempo para retornar a narrativa principal. Esse se torna o principal problema da leitura, já que o ritmo de acontecimentos já é lento sem esses devaneios narrativos. Poderiam ser retiradas 200 páginas facilmente das 900 que compõem o livro.
Exemplo de como o enredo pode se arrastar é o fato de a personagem que dá nome a obra, Shirley, só aparecer depois de a primeira parte da história ter se desenvolvido, momento em que o foco se volta para Caroline. A mudança de perspectiva que esse co-protagonismo faz com que os elementos narrados sejam mais diversos e interessantes, ainda assim é difícil de encarar ambas como protagonistas, já que são tão distintas uma da outra.
Inclusive, as diferenças e pontos de embate entre todos os personagens e como essa dinâmica funciona é o que faz valer a leitura. Brontë mostra de forma contundente e diversa como a economia, política e os relacionamentos, sejam esses de natureza amorosa, familiar, religiosa ou social, estavam intrinsecamente relacionados. E é esse retrato quase que documental que faz de Shirley uma interessante e diferente leitura.
FICHA TÉCNICA
PESO | 0.940 Kg |
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PRODUTO SOB ENCOMENDA | Sim |
MARCA | Martin Claret |
I.S.B.N. | 9788544001462 |
ALTURA | 21.00 cm |
LARGURA | 14.00 cm |
PROFUNDIDADE | 4.50 cm |
NÚMERO DE PÁGINAS | 905 |
IDIOMA | Português |
ACABAMENTO | Brochura |
TÍTULO ORIGINAL | Shirley |
TRADUTOR | Solange Pinheiro |
CÓD. BARRAS | 9788544001462 |
NÚMERO DA EDIÇÃO | 1 |
ANO DA EDIÇÃO | 2017 |