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REVIEW | Novo ‘God of War’ reinventa estrutura de Kratos com competência e incrível imersão

Leandro Stenlånd

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28 de abril de 2018

Há 13 anos, iniciava, no Playstation 2, um game que, inicialmente, seria só mais um título na biblioteca do console. Quase ninguém imaginaria a proporção épica que o nome God of War teria após vários jogos e uma longevidade de dar inveja à muita franquia por aí. Na maioria das vezes, somos contemplados por bons games, mas acabam caindo em um enorme marasmo. Isso não foi diferente nessa. Após seis jogos com Kratos, sendo todos eles no mesmo molde Hack N’ Slash, algo deveria de ser feito para que não tivéssemos que saborear, mais uma vez, um gênero há muito tempo cansado e datado do qual, hoje em dia, quase não se vê títulos por aí. Bayonetta, Dantes Inferno e Castlevania Lord of Shadow tiveram que pegar uma carona com Kratos para que ganhassem uma certa atenção. Agora, o novo jogo da Santa Monica Studios, ganha uma repaginada que poucos sequer imaginariam.

Após inúmeros combates contra deuses gregos, num vai e vem enorme, onde a história já não havia mais para onde seguir e nem o que fazer, hoje estamos diante de um Kratos enrijecido e ‘forjado’ por batalhas de outroras. Apesar de ser o Deus da Guerra, o tempo precisou passar e, em questão de anos, não se sabe o quanto na linha temporal o personagem avançou. Tudo que sabemos é que, agora, ele está vivendo com Atreus, seu filho, numa cabana no Norte da Europa, sem a menor menção de seu país de residência (Noruega, Finlândia, Islândia, Suécia ou Dinamarca). Antes de ser lançado, muitos começaram a questionar COMO Kratos teve um filho. A resposta não é obvia, mas tudo indica que é um novo ‘recomeço’ para ele. Longe de tudo e todos, e tendo que enfrentar uma legião de novos inimigos, o que cria uma nova ‘meta’ para quem gosta do jogo. Confesso que, mesmo gostando do jogo, já estava cansado de lutar contra Zeus, Hades, Ares, Poseidon e outros por aí. Não há mais Blades of Chaos (‘ao menos de início’) nem manopla de Hércules nem nada disso. Temos então um Kratos, além de velho, limitado pelo que restou de batalhas antigas.

Mais lento, mais velho, mais sábio e aparentemente com metade da força que um dia teve, agora há uma nova trama envolvendo o personagem. Tolhido de ter uma vida comum nos primórdios da franquia, sua vingança contra os deuses do Olimpo é passado e este vive como um homem comum no reino dos monstros e deuses nórdicos. E é nesse inóspito e implacável universo que, Kratos precisa lutar para sobreviver e descobrir o porquê de estarem em seu encalço. Essa nova versão de God of War desconstrói os principais elementos que definiram a série (combates gratificantes, proporção espetacular e uma narrativa poderosa), combinando-os de uma forma diferente. Na linha temporal, tudo indica que estamos pós terceiro título da franquia. Se vocês recordam, Kratos supostamente morreu ao fim de God of War III, mas na cenas pós créditos, alguns trovões apareceram no horizonte, podendo assim, quem sabe, ser Thor vindo em busca do corpo de Kratos. Alias, quem sabe estamos numa realidade alternativa? Seria isto possível? Bom, sabemos que, neste novo título, o amado protagonista dedica boa parte de seu tempo treinando o filho para juntos viajarem para o ponto mais alto deste reino gelado e lá possam lançar as cinzas da sua falecida mulher que inicialmente desconhecemos quem seria. Aqui o gameplay é o ingrediente que caminha de mãos dadas com o enredo. Em um mundo hostil que requer espírito de sobrevivência, a coleta de recursos e a criação de itens é algo fundamental, tendo em suas mãos mais poder de fogo, mais customizações, mais tudo. Sobre isso, falaremos mais abaixo.


O novo God of War está recheado de surpresas gratificantes. Se estava acostumado a sair desferindo golpes para todos os lados, no melhor molde de Hack ‘N’ Slash, se achando o ‘bam bam bam’, o ‘hulk esmaga’, tenha certeza que o buraco é bem mais embaixo agora. Alguns monstros estão fáceis de serem derrotados, outros recordarão o desbalanceamento forçado de NIOH. Um boss, por exemplo, raramente o matará com apenas um golpe, visto que você, de forma astuta, tentará bloquear ou se esquivar dos golpes, enquanto um mero ser bizarro (um simples assecla) em seu caminho poderá lhe matar com um hit e é algo que ninguém espera. Isso porque há indicadores de ataque vindo desses vilões. Os ataques são apontados em seu personagem através de três cores: rosa, amarelo âmbar e um tipo de vermelho. Essas três cores indicam como será o ataque do vilão e se está mais perto de consegui-lo. Há também um indicador que aparece nos personagens, mostrando que tipo de ataque é, ou seja, há como saber se morreremos em apenas um hit, se teremos pelo menos 50% de nosso life esvanecido, ou apenas uma brevidade de life reduzida. Este é um fator de sobrevivência que irritará alguns. Em boa parte dos casos, quase não há muito life provindo dos inimigos. Diferente de antes, não temos HP saindo a todo momento dessas pestes que estão nos atrapalhando. Por inúmeras vezes fomos surpreendidos até mesmo por chefes de um certo setor e nosso HP estava bem abaixo do ‘requerido’ para enfrentá-lo.

Outra grande surpresa é o elo que há entre Atreus e Kratos. A relação entre pai e filho pode não ser das melhores, visto que há uma certa rigidez imposta pelo protagonista, para que mostre o quanto seu primogênito precisa aprender a sobreviver, mas é aí que os ensinamentos farão jus à fama de Kratos. Por termos que aguentar o guri em toda a jornada, este também lhe será útil no embate corpo-a-corpo e de longa distância. Assim, podemos ficar de camarote (de longe) assistindo ele fazer quase tudo. Ao pressionarmos o botão Quadrado, o filho, começa a lançar flechas na direção em que o brutamontes estiver olhando. Se estivermos lutando contra alguém, o garoto também lutará de uma forma meio capenga, desengonçada e amadora, mas ajudará, uma vez que ele pode não ter força para matar um inimigo, mas atrapalha bastante a ponto de o foco desses vilões se voltarem totalmente para ele. É aí que entra o pulo do gato. Essas lutas são habilidades passivas que vamos conquistando durante a jornada e podemos comprar melhorias para o menino, desde suas flechas que vão tirar mais life dos inimigos, até mesmo sua forma de combater no mano a mano para chamar mais atenção do inimigo. Foi muito legal ver o quanto ele saia pulando no cangote de quase tudo que aparecia em nossa frente, com medo beirando a taxa de 0%, totalmente valente e eficaz. Com isso, o jogador ganha tempo para repensar sua estratégia de combate, pois caso esteja com pouco life, terá de buscar no mapa pelas ‘gotas’ de HP ‘dropadas’ no chão, possivelmente por inimigos mais casca grossa e complexos de serem derrotados.

A forma como o personagem se locomove também sofreu alterações, remetendo a For Honor em quase tudo, seja na movimentação ou no ângulo da câmera, que, agora, aproxima de nossas vistas o Deus da Guerra. Outro fator que remete muito ao método de ataque e defesa de For Honor é a forma com que precisamos mais defender do que atacar. Há os momentos de precisão, onde o contra-ataque remove totalmente a defesa do inimigo. Do contrário, eles removerão a sua. Se o ataque for muito pesado, com os indicadores mencionados logo acima, poderemos perder a defesa e ficarmos em total perigo. É nesse momento em que a esquiva precisa funcionar. Por vezes, foi melhor ficar esquivando para todos os lados do que tentar defender alguns ataques. Se tínhamos a defesa com suas Blades of Chaos, agora defender com um escudo Viking está melhor para você? Kratos está mais pesado e cascudo, além de ser o brutamonte de sempre que conhecemos, lembrando mais Rollo (Hrolf Ganger), da série “Vikings”, em especial quando lançamos a fúria espartana para atingir inimigos. Totalmente brutal, desfere muitos golpes e um deles lembra até mesmo Hulk pulando nos ‘ultrons’ proferindo: ‘Hulk Esmaga!’

O cenário ao nosso redor até pode ser mágico e fantasioso, mas o machado que temos em nosso poder é tão fabuloso quanto. Sabemos que o Mjölnir de Thor nos cinemas, tem a função de atacar o inimigo, mas volta para suas mãos, quando ele as abre. Isso também acontece com Leviatã (ou se preferir Leviathan), o machado de Kratos. As mecânicas de combate de guerra podem ser simples no papel, no entanto, mostram uma maior dificuldade para arranjar tempo tático em um jogo tão frenético no qual uma breve falha poderá ser fatal. Além da serventia para embater, a peça é usada para solucionar quebra-cabeças espalhados em TODAS as partes. Em muitos cenários, seu poder congelante se faz necessário para que possamos, por exemplo, congelar uma engrenagem, evitando que uma porta se feche. O mesmo vale para desvendarmos certas runas perdidas por ai. O sistema de combate direto, com a utilização de seu machado, é um bocado falho. Isso porque a câmera do jogo atrapalha bastante as ações, seja na hora de desviar dos ataques dos oponentes ou para encontrá-los e efetuar um contra-ataque. A sensação é de que falta algo para fixar a mira em um determinado alvo ou inimigo de forma precisa. Isso facilitaria bastante, principalmente na hora de realizar as esquivas para fugir dos ataques de seus adversários sem perdê-los de vista.

O mundo mágico da mitologia nórdica também está presente no novo God of War. Se por um lado conhecemos todos os universos através do filme de Thor, Asgard e os demais oito reinos, que acabam compondo um painel fascinante de uma galáxia invisível acima da Terra, no qual os mundos, alguns em harmonia, outros nem tanto, o Olimpo é página virada. Midgard, Nilfheim, Vanaheim, Alfheim, Nidalvellir, Jotunheim, Muspellheim, Asgard e Svartalheim estão  impregnados na narrativa. Após algum tempo de jogo, por exemplo, temos de viajar para Alfheim com um propósito. Neste universo desconhecido para Kratos, de cara, somos apresentados a seres iluminados sofrendo ataque de Elfos malignos. Esses seres de luz são imortais e, de alguma forma, começam a sucumbir logo à nossa frente. Como somos invasores neste mundo, fomos combatidos pelos guerreiros ‘élficos’ do local. Os invasores sobreviventes são condenados a nunca mais retornarem às suas terras de origem. A grande sacada de God of War foi justamente misturar esses elementos que hoje conhecemos graças ao filme do Thor, esses locais bem mais evoluídos espiritual e fisicamente.

Graficamente, God of War é consistente e competente. Claro que, por se tratar de um título na nova geração, o visual realmente é de espantar. Os jogos de luzes, as cores mais vivas em cenários onde há vida e não somente o caos como nos títulos anteriores, todo o processo de cores dos personagens e suas reações, fazem deste título um primor. Os modelos e cenários estão detalhadíssimos quase como em um filme! As cutscenes estão surpreendentes e a dublagem está muito boa, apesar de haver repetições de frases e jargões que enjoam após algum tempo, mas, mesmo rodando numa TV simples, sem ser full HD, o jogo já demonstra suas façanhas no lado visual. Testamos o game em uma TV LG 32LA613B-3D e em uma Philco PH55A17DSGWA Full HD. Ambos os testes foram num PS4 Slim e o resultado era magnífico de qualquer modo. Sobre travamentos, esqueça. Não tivemos nada similar e nem queda de quadros.

Sobre as melhorias do personagem, podemos fazer de quase tudo. Podemos ter talismãs que ajudarão Kratos a ter resistência contra feitiços, rajadas de fogo e gelo. O ‘ferreiro’ Brok, por exemplo, assim como seu irmão, disponibilizam uma loja onde podemos confeccionar armadura, pomo do machado e outros adereços. Há também como aprimorar aquilo que já estamos de posse, desde o machado ou até mesmo o Arco de Garra de Atreus. Comprar encantamentos exige poeira encantada e foi dificílimo encontrar perdida por aí, ainda que através do drop de certos bichos e inimigos. Aí, após uma caçada enorme, paramos para descansar da jornada no Brok mais uma vez, que, vira e mexe, está em todos os cantos do mapa. Então descobrimos que a Poeira Encantada também pode ser adquirida ao vender algum item valioso ao ferreiro. Os artefatos encontrados em nossa jornada não são úteis e podem ser vendidos sem maiores preocupações. Mas cuidado ao sair vendendo tudo que está contigo. As pedras de ressurreição são mágicas e possibilitam reviver Kratos com pouca saúde. Neste caso, quando somos atacados sem prévio aviso por um inimigo, ao pressionarmos um botão exigido, Atreus usará a pedra e teremos de volta nosso amado protagonista. As habilidades podem ser compradas ou melhoradas com pontos de experiência e cada uma delas baseada em uma subcategoria. Podemos melhorar os combates corpo-a-corpo com o machado Leviathan, mas há como aperfeiçoar o combate à distância tanto de Atreus quanto de Kratos.

Diferente do que acostumamos ao longo de 13 anos, ou melhor, seis jogos de Kratos, agora, o mapa não é simples como um dia foi. Temos um semi sandbox aqui. Ele é bem amplo, com inúmeras side quests a serem resolvidas, e o campo de visão, ao pressionarmos o touch do controle, logo mostra a semelhança com o mapa de “Horizon Zero Dawn”, mostrando as missões principais e as secundárias. Podemos sim esquivarmos das secundárias, no entanto, os itens de recompensa que coletamos nessas missões, não podem ser achados em qualquer outro lugar. God of War aperfeiçoará seu sétimo sentido, exigindo que não somente seja um andarilho em busca de ensinamentos para seu filho, mas que saiba lidar, acima de tudo, com novas adversidades mesmo sendo você o Deus da Guerra.

VEREDITO

Por tudo que God of War simboliza nos dias atuais, esse é um jogo que valeu a pena esperar cada segundo até que seu lançamento chegasse. Baseado no resultado que ele entrega, dentro de todos os pontos supracitados, certamente hoje você sabe que precisa ter um console da Sony. Nioh, Horizon Zero Dawn e, agora, God of War, são APENAS três exemplos de títulos que possuem um visual incrivelmente detalhado, uma narrativa esplêndida repleta de reviravoltas que prendem o jogador em curtos diálogos, não comprometendo o resultado final dessa obra-prima que, sem sombra de dúvidas, será um joia rara da Sony por muito tempo.

God of War foi analisado no Playstation 4 Slim com cópia cedida gentilmente pela Sony Entertainment do Brasil.

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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