REVIEW | ‘Monster Hunter: World’ ou Jurassic Park na versão 1.0

Leandro Stenlånd

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31 de janeiro de 2018

A Capcom vem nos últimos anos tentando fazer com que as pessoas evitem ao máximo lembrar que seu reinado não está somente voltado para Street Fighter e Megaman. Além das famosas DLC’s que saem a todo instante, sabemos que, seja em qualquer título, o time de produção sempre se encontra compelido a botar os melhores ingredientes que um jogo de exploração venha a exigir: imersão, NPCs interessantes, variedade de coisas a se fazer, inteligência artificial que realmente funcione, além do quesito principal: personalidade. Todo jogo de exploração, seja ele com temática RPG ou não, possui puzzles, arsenal, inimigos, equipamentos e todo o resto que vêm por consequência. Mas nem sempre tudo o que desejamos está lá. Monster Hunter é o novo game de RPG com foco na exploração e que já está disponível tanto para PS4 quanto para Xbox One. Com gráficos um bocado aquém do que se esperava, um mapa razoavelmente pequeno e um enredo que até prende a atenção, o título, de certa forma, se destacará como uma das boas opções para os consoles nesse início de 2018.

Em Monster Hunter: World, nosso papel é investigar a jornada dos dragões anciões enquanto eles cruzam o mar em direção a uma terra conhecida como Novo Mundo, um evento que acontece a cada década e que é conhecido como Migração dos Anciões. Como membros da Comissão de Pesquisa da Guilda, você deverá embarcar numa grande jornada para essa terra vasta e misteriosa e descobrir os segredos por trás desse fenômeno. Com os caçadores partindo em sua missão, a atenção da Comissão está voltada para Zorah Magdaros, um dragão ancião colossal que brota da terra como um vulcão.

Para começo de conversa, Monster Hunter: World é um jogo altamente ambicioso. Por se tratar de uma espécie de port provindo da Nintendo, visto que boa parte dos títulos Monster Hunter saíram em sua maioria para os consoles da BIG N, temos que levar em consideração, de início, o gráfico e suas texturas. Claro que sempre batemos na tecla que nem sempre o visual importa desde que o título seja atraente aos nossos olhos. Quando tivemos acesso ao primeiro trailer do game, logo imaginamos algo aproximado ao que pudemos ver em The Witcher 3 e Horizon Zero Dawn. Um mapa amplo, bonito e espantoso graficamente com cenários diversos. Monster Hunter: World possui grandes planícies verdes, montanhas, florestas tropicais, desertos e muito mais. Infelizmente, fica só nisso no âmbito visual. Temos um jogo com falta de esmero nesse setor. As texturas, por exemplo, estão mal acabadas e, em diversos momentos, tivemos a noção de inúmeros serrilhamentos no mapa inicial. Nossa equipe efetuou o teste em um Xbox One Fat e, ainda que houvesse melhorias no X, não deveríamos sofrer com o primeiro console da geração One. Claro que não dá para agradar a gregos e troianos, mas o desempenho poderia ter sido melhor.

CONFIRA ABAIXO NOSSO GAMEPLAY:

Apesar de lembrar um Hack N’ Slash, vá esquecendo isso de sair ‘tancando’ monstros no murro sem nenhum tipo de estratégia. Mesmo com a inteligência artificial sendo bem burra, os monstros possuem ataque também e seu personagem tem a opção de esquiva e defesa. Essa IA, cuja qual ofendemos com a palavra ”burra”, não funciona muito bem para com o ecossistema que está ao nosso redor. Em muitas ocasiões, ao sermos perseguidos por alguns predadores, era só necessário se esconder em algum arbusto ou moita, que os bichos cessavam a caça, mesmo que ele visse seu personagem entrando nela. Após algum tempo de espera, eles iam embora. Tudo bem que devemos tirar proveito da vegetação, até mesmo para os itens que encontramos no caminho, mas ficar escondido de inimigos em uma ‘moitinha’ safada chega a ser estranho, diferente do que acontece em Horizon Zero Dawn, onde lidávamos com máquinas. Ora, ora, se em Monster Hunter, tudo é uma questão de animais selvagens, que por sinal são predadores, certamente possuem algum tipo de ‘faro’ e não poderiam nos deixar fugir tão facilmente escondidos num matagal qualquer, deveriam ao menos continuar a perseguição.

Outro fator importantíssimo é como a fauna é diversificada e não pode ser encontrada em qualquer lugar. Considerando que não podemos achar um canguru no Brasil, visto que não é um animal típico da América do Sul, o mesmo acontece em Monster Hunter: World. Se prestar bem atenção, há alguns monstros que só poderão ser encontrados em uma determinada região do mapa, fazendo com que a caça fique ainda mais gostosa e equilibrada. Aliás, nem sempre seu personagem encontrará esses monstros, mesmo nessa determinada área, visto que, apesar de inúmeros animais rodopiando por aí altamente pacíficos, alguns são intensamente selvagens. Anjanath, por exemplo, é uma espécie muito mais muito feroz e, vira e mexe, fica andarilhando de um lado para o outro entrando em território que não o pertence, hostilizando outras criaturas que podemos considerar no mínimo dóceis.

A jogabilidade dá continuidade à progressão baseada em habilidade e ao robusto sistema de criação de itens pelos quais a série é conhecida. Com a experiência de jogo mais acessível e dinâmica da série até hoje, os jogadores podem encarar missões e derrotar monstros cada vez mais difíceis para conseguir materiais que podem ser usados para forjar armas e armaduras mais fortes contendo habilidades únicas das criaturas derrotadas. O terreno e a fauna desempenham um papel crucial nas caçadas, pois os jogadores podem usar estrategicamente os ambientes e a vida selvagem ao redor para ganhar a vantagem no combate.

Se esconder-se é algo que vai lhe ajudar a recuperar life e estamina, esteja certo de que será muito difícil acertar os monstros. Além dos controles serem completamente voltados para o público japonês (correr com RB/LS, atacar com B/Y ao invés de X/A), a maioria das armas é pesada e boa parte dos ataques não funciona como um hack n’ slash. Estamos em um jogo de exploração com elementos de Action RPG e que, ao mesmo tempo, não é tão simples assim de explicar a dificuldade que existe para conseguirmos atacar certos ‘dinossauros’. As espadas impõem respeito e lembram a arma de Dante, de Devil May Cry, mas fica só por aí. Por serem enormes, passam uma realidade de que o manuseio não é tão simplificado. Ao pressionarmos o botão de atacar, demora quase dois segundos até que a ação seja feita. Enquanto isso, qualquer monstro à sua frente poderá tomar a iniciativa e atacá-lo. Algumas armas, mesmo espadas enormes, possuem a opção de atirar e você habilita essa opção algumas vezes através do RT ou B. Tudo dependerá da arma e cada uma delas tem uma função de tiro ou ‘especial’ que só quando escolhê-la saberá qual botão habilitará especiais. Por algumas atirarem, consequentemente necessitarão de munição.

A busca por um NPC útil também é outra tarefa árdua. O menu é bastante confuso e quem não está familiarizado com um jogo que possua crafting, vai se embananar. De qualquer modo, o que o título peca na falta de um visual mais apurado, compensa nesse sistema. São inúmeras possibilidades de melhoria, desde deixar sua arma mais lenta com um peso maior ou até mesmo escolher que ela possa incinerar um ‘dinossauro’. Olha, ficamos mais de meia hora mexendo nas melhorias das armas, assim como as alternativas de melhoras junto ao ferreiro.

O modo online é divertido, mas sofremos para conseguir por a partida para funcionar. Foi tão complicado que até descobrirmos que ambos tinham que por a mesma missão para funcionar e tentar jogá-la, foi-se aproximadamente meia hora de pura frustração após diversas tentativas. Pensamos que apenas um seria o suficiente, mas não é toda missão que há a possibilidade de jogar com até quatro personagens. De qualquer modo, caso não encontre ninguém em uma partida online, você poderá enviar um chamado de S.O.S. através de um disparo de morteiro. Assim, outros jogadores que estiverem no mapa em uma espécie de dimensão paralela, visualizarão seu chamado e, consequentemente, poderão se juntar e ajudá-lo na jornada.

As missões ‘secundárias’, assim como as principais, podem ser canceladas a qualquer momento desde que você pressinta que não está preparado para a caçada. Na missão de caçar materiais de um ‘kestodonte’, por exemplo, após finalizá-la, aparece um Grande Jagras, e logo vi que não seria uma tarefa simples derrotá-lo. Mas como sou brasileiro e estou longe de desistir, dei as caras e tentei. Para minha surpresa (OH!), morri. Mas como uma missão alternativa, visto que a do kestodonte era a principal para aquele momento, voltei para a base, melhorei meus itens, comprei mais potes de vida e voltei lá matar esse maldito Jagras. Adivinhe? Não morri! Uma coisa interessante é que para aqueles que não estão familiarizados com a franquia Monster Hunter, é explícito como o jogo lembrará e muito a franquia de filmes “Jurassic Park”. Há inúmeras referências com menções ao Elo Perdido e até mesmo ao Novo Mundo, recordando outro clássico dos cinemas: “Indiana Jones”.

O que mais se destaca no jogo são as cutscenes. São muito bem desenvolvidas, e qualquer interação vale ser assistida. É muito divertido ver os gatinhos (Miauchef?) sendo seu Master Chef preparando a refeição. Essa refeição aumentará seus atributos por um limite de tempo. Neste caso, dependendo da escolha no menu, poderá ter maior resistência contra algum tipo de poder ou aumentar seu life. As cutscenes mostram tanto eles fazendo seu cardápio suculento quanto o ferreiro com uma equipe empenhada em melhorar seus pertences. Isso faz com que o jogo seja mais imersivo e você se sinta realmente em algo mais realístico.

Outro ponto interessante é a forma como alguns monstros ainda são desconhecidos para a equipe de pesquisa. Após terminar a missão, se faz necessário, até por bom senso, passar na equipe de pesquisa ecológica para avisar sobre os novos monstros que estão habitando ecossistema. Ali, o ‘biólogo’, por assim dizer, poderá encontrar respostas para o mundo misterioso no qual se encontra e que está passando por um holocausto. Exemplo disto é que a equipe de biólogos sequer tinha conhecimento de um monstro, aparentemente um boss, chamado Pukei-Pukei. Deu um trabalho da porra matar esse bicho, mesmo com a ajuda de meu amigo Rafael. Enquanto ele estava de posse de um espadão enorme, eu ficava com uma arma de disparo de longa distância. Dessa forma, preferi manter a integridade de nossa ‘heroína’.

Além das falhas acima mencionadas em Monster Hunter: World, há outras. Nas cutscenes, por vezes, a sincronização da voz está um pouco fora e nem sempre as expressões faciais dos personagens convencem. Estão fora de sincronia mesmo. Em certos momentos, o personagem (seja lá qual ele fosse) terminava de falar e a boca continuava. Igualmente acontecia no caso da legenda. A boca continuava a ‘falar’ mesmo que o texto já tivesse sido descrito. Realmente, o momento oportuno de encaixar uma fala no movimento da animação era fatídico. Sem contar que pra que temos uma protagonista muda? Ela não fala, somente a assistente. Com quase 10 horas de gameplay, sequer vimos ela falar uma vez, somente ouvir, ouvir e ouvir. Outro detalhe é que as armas, por serem enormes, deveriam cansar nossa protagonista, o que não acontecia. O armamento era tão pesado que dava dó de ver a moça manuseando-a. Temos uma Mulher-Maravilha com tamanha força em Monster Hunter? Se cansamos ao correr, qual a razão de não cansar ao manusear uma espada com quase seu tamanho e peso? Outra coisa estranha é que durante a customização do personagem, bem antes do início da campanha, mesmo que haja um X mostrando não ser ideal uma mulher ter barba e bigode, era possível essa personalização, masculinizando o feminino. Há detalhes espalhafatosos demais e muito penduricalho envolvido em um jogo apenas para inflá-lo e deixa-lo demasiadamente cheio de opções desnecessárias, como usar uma espécie de blush para deixar seu rosto mais rosado, um amigato que poderia ter sido um pouco melhor otimizado com itens mais imponentes, dentre outros ‘apetrechos’ que estão no jogo.

O VEREDITO

Apesar de alguns defeitos, Monster Hunter: World consegue ser uma boa aquisição para quem deseja sair do marasmo. Com um ótimo sistema de crafting, uma infinidade de missões a serem feitas, sendo elas opcionais ou não, e uma narrativa interessante, certamente o game irá atrair o público mais pelas suas qualidades que por seus defeitos.

Monster Hunter: World foi analisado pela equipe do Blah Cultural no console Xbox One Fat. O game foi gentilmente cedido pela Capcom.

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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