REVIEW | ‘Sundered’ usa de minimalismo para ser intensamente grandioso

Leandro Stenlånd

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2 de agosto de 2017

A cada dia que passa, particularmente, me surpreendo cada vez mais com jogos indies. Boa parte deles vão sempre em busca de referências e ao mesmo tempo, tentam inovar de uma forma sem precedentes. Em muitas ocasiões, independente do nicho que o jogo direciona, este pode ser muito bom, como o aguardado Cuphead ou ser frustrante como muitos que rodam nas lojas e também em formato digital. Cansamos de ter experiência com games razoáveis, mas ultimamente, os jogos indies estão surpreendendo muito e este é o caso de Sundered, jogo da Thunder Lotus Games que chegou chegando ao PC e Playstation 4 utilizando de minimalismo para ser grandioso.

CONFIRA NOSSO GAMEPLAY ABAIXO:

A narrativa é muito simples e não tem nada de mistério. Logo de cara seu personagem, nomeado de ESHE, aparentemente uma mulher, se mostra uma andarilha corajosa, que foi pega em uma tempestade de areia. Ao chegar em um certo ponto do mapa, seu personagem acaba sugado para o limbo por alguma criatura obscura. Lá, você entende que só poderá sair desse emaranhado de calabouço utilizando o poder de uma criatura mítica há muito adormecida, e que também lhe ajudará a combater perigos iminentes no decorrer do mapa. ela encontra um estranho cristal que consegue se comunicar, e diz que pode ajudá-la a escapar daquele lugar com vida, se ela permitir que ele a acompanhe. O principal tema do jogo é render-se ou resistir. E é isso mesmo que acontece no jogo. Por ser um dos principais temas da narrativa, por inúmeras vezes nos deparamos com incontáveis inimigos na tela a ponto de não conseguirmos enxergar nosso personagem e com isso essas duas opções se tornam bem evidentes. O personagem além do life, possui um escudo que se regenera e com isso, se por alguns segundos você resistir, ele continuará te ajudando a não perder life. Esse tipo de habilidade especial que pode ser consumida ou não, vai fazendo de Eshe uma personagem imbatível até certo ponto e  como vão utilizar as habilidades da menina, irá certamente te encaminhar para múltiplos finais.

Uma das coisas que mais me atraiu no jogo ALÉM do mesmo ser desenhado à mão, é o fato das lutas contra os chefes possuírem sempre um questionamento. Sempre que cheguei nos primeiros boss, vinha a pergunta de como mataria aquela criatura tão imponente. A dificuldade é plena, e cada chefe de fase tem sua mecânica e não da pra derrotá-los com os truques dos anteriores, pois muitos deles você precisará plainar, e em outros casos ficar escalando e descendo bases para poder balangar o vilão até que ele fuja para uma outra parte do mapa e tenha que ir caça-lo na marra.

Assim como outros jogos metroidvania, Sundered tem como potencial sua direção de arte que está estonteante, visto que o game foi desenhado à mão. Alias, não é uma característica muito forte do gênero, mas recentemente tem acontecido de outros jogos possuírem essa característica e acredite, são os melhores jogos até então. Seja Hollow Knight ou Cuphead, tenha certeza que Sundered é uma dessas adições que te fazem questionar se há necessidade de um jogo ter gráficos altamente trabalhados para que haja entretenimento. Aqui estamos falando de um jogo que parece um desenho em movimento. Aqui não há poluição visual e a cada parte do mapa temos um visual muito tenro, agradável e que mostra como a natureza é lindamente perfeita nesse tipo de jogo desenhado a mão.

A maior desgraça do jogo (até que olhando pelo lado positivo da coisa), é que o jogo tem um balanceamento muito bom, mostrando já picos de dificuldade de cara, ou seja, não terá aquela fase fácil e depois picos de dificuldade desnecessária. O jogo é extremamente difícil e pra piorar, quando morrer, sua personagem será enviada de imediato à zona central, onde poderá utilizar uma árvore para melhorar suas habilidades, mas tem sempre o lado negativo da coisa. Ficará mais forte, com mais life e novos skills, porém, terão de fazer todo o percurso de volta até onde morreu. Claro que no decorrer da sua progressão, algumas portas que outrora estavam fechadas, não mais estarão servindo assim de atalho para que possa chegar até onde morreu de uma forma obviamente muito mais rápida. Mas fica evidente que também o sistema de progressão do jogo que é mais um encanto do mesmo. Essa enorme árvore dividida em três direções possíveis, tem cada base associada à uma das três grandes áreas do jogo. Conforme vai eliminando bichos durante a progressão, eles vão ‘dropando’ points (ou gold) que acumulados tem como objetivo serem gastos nessa arvore para ajudar nossa protagonista. Confesso que de início nem quis novos skills, era mais necessário uma defesa maior, tanto quanto o life que ainda era bem pequeno. Então tasquei ponto de vitalidade e maior resistência no escudo de Eshe. Com os pontos que recebem ao eliminar inimigos, ou ao destruírem objetos, também ganhamos Perks, para destinar seus pontos a um tipo de novo poder diferente. Não da para por exemplo aumentar o poder de magia sem antes ter essas perks e distribuí-las na arvore lá no início do jogo. Então se dropar alguma, e caso queira de imediato usar, terá de morrer para algum vilão.

Na verdade, estes “perks” são conquistados ao derrotarem os sub-chefes de fase, ou chegar em um local da fase que seria muito complexo de ser alcançado. Tenha em mente que cada área tem um chefe final, que demora e muito para aparecer além de bosses secundários, e permitem alterar profundamente o funcionamento das característas da protagonista. Cada perk oferece uma vantagem, mas sempre tendo uma desvantagem em troca, e que na verdade na maioria das vezes será necessário pensar duas vezes antes de utilizá-las. Tínhamos uma Perk que trocava sua vitalidade por resistência, então, por mais resistente que seu personagem ficasse, de nada adiantaria ter um life extremamente pequeno, pois nas lutas contra os chefes de fase, tamanha defesa seria ineficaz, visto que o dano do boss é sempre maior que criaturas aleatórias. Ai é que entra a sua decisão, uma vez que o life não regenera, ele acaba acompanhando também o tamanho do escudo, que inicialmente pequeno não ajuda em muita coisa. Então sempre tem aquela busca incontável por uma Perk que venha a valer a pena de forma dupla, tanto para sua resistência quanto para sua vitalidade.

Outra coisa diferenciada no jogo é que tudo que aparece no mapa durante a progressão, quando você voltar ali após morrer, não necessariamente encontrará os mesmos inimigos, isso por que a Thunder Lotus optou por criar um sistema diferente, de modo procedural, o que tornará toda e qualquer experiência durante o game, altamente imprevisível. A pior parte por exemplo são as sentinelas e alarmes no jogo, que fazem com que de repente surja uma horda incontável de inimigos em sua tela cansando até mesmo seu polegar, e ai não resta nenhuma outra opção senão render-se à morte. São eventos no mapa randômicos demais e até fica cansativo tornando o contato com o jogo bastante injusto e por isso, na maioria das vezes era impossível de sobreviver, com inimigos e raios a aparecerem de todas as direções. Não haveria melhor chance de melhorar seu personagem ao regressar à famosa árvore que poderia até lembrar ”Yggdrasil”.

 O facto de muitos destes oponentes, sobretudo os voadores, atravessarem o cenário sem problema, dificulta ainda mais a missão do jogador, e até existem oponentes que conseguem disparar raios a grandes distâncias, ignorando também o cenário. Este sistema é terrível na nossa opinião, e prejudica seriamente o que poderia ser um jogo muito superior. Existe uma diferença entre um jogo desafiante, e um jogo injusto, e Sundered parece ser muitas vezes o segundo, o que odiamos.

A versão do Playstation 4, a qual recebemos o código para rodar o jogo, teve travamentos e bugs, e que segundo a desenvolvedora Thunder Lotus Games, iria receber uma atualização que pretende remediar boa parte desses tilts. Até o final desta crítica, o jogo ainda não havia recebido a atualização. Também recebemos o jogo para PC, e com isso efetuamos o jogo nesta versão, que obteve um desempenho mil vezes melhor e se esquivou dos travamentos mencionados e visíveis em nosso gameplay acima. Sendo assim, não nos resta opção senão escrever baseado em nossa experiência final, que de certa forma foi afetada ao menos no console da Sony.

A sonoplastia do jogo é perfeita também. Em momentos de perigo o climax imposto pela trilha mostra como podemos ficar aflitos com violinos pra lá e cellos pra cá. O alerta das sentinelas mostram por exemplo quando o mundo cairá sob seu crânio. Uma coisa interessante é que ao explorar qualquer cenário, o jogo se mantém em total silêncio, e somente quando alguns bicho aparecem que até rola um sonzinho de fundo, seja ele uma sirene ou até mesmo raios provindos de inimigos que desconsideram todo o mapa e mandam bala pra cima de Eshe. O som provindo dos inimigos também é muito bem produzido. Por vezes os inimigos parecem sangue-sugas com um barulho peculiar, ou até mesmo sentinela voadora que de uma hora pra outra se joga pra cima de você como um cometa halley.

O VEREDITO

Sundered é um jogo altamente viciante, altamente implacável em sua dificuldade e que fará com que você perca horas e mais horas para passar de um simples mapa recheado de inimigos que vão te fazer lembrar dos níveis de dificuldade da série Dark Souls. Com uma narrativa simples e envolvente além de possuir toda sua arte desenhada à mão, o estilo clássico de Metroidvania foi implementado sensacionalmente neste game. Além de ser um metroidvania, o game possui características roguelike simplistas, e o mesmo utiliza facilmente de minimalismo para ser tão grandioso quanto esperávamos. O jogo está disponível para Playstation 4 e PC.

Sundered foi analisado pela equipe do Blah Cultural no console PlayStation 4. O game foi gentilmente cedido pela Thunder Lotus.


 
 

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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