Meu Mundial roney villela

‘Dias terríveis para o cinema nacional’ – Roney Villela, ator de ‘Meu Mundial’ | Entrevista

Alvaro Tallarico

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25 de setembro de 2019

Roney Villela está nos cinemas atualmente em “Meu Mundial – Para Vencer não Basta Jogar”. O ator e diretor de teatro atuou em televisão, cinema e nos palcos, tendo começado com o espetáculo “Capitães de Areia”, em 1982.

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A carreira

Roney dirigiu “Amor Bruxo”, “Romeu e Julieta”, “Godspell”, “Na Era da Brilhantina” e “Rocky Horror Show”. Em cinema, seu primeiro trabalho foi em “Um Trem Para As Estrelas” (1987), seguido por muitos outros, incluindo “Meu Nome Não É Johnny” (2008). Em 2010, esteve em “5x Favela”, “A Suprema Felicidade” e “Tropa de Elite 2”. Já na televisão, começou em 1991, na extinta TV Manchete, com “Amazônia”. Fez diversas novelas na Rede Globo, como, por exemplo, “Caminho das Índias”. Na Rede Record, por outro lado, atuou em “A História de Éster” (2010) e “Rei Davi” (2012).

O BLAH!ZINGA teve a oportunidade de conversar um pouco com Roney Villela, que não teve receio de falar sobre o momento do cinema nacional.

BLAH!ZINGA: Roney, como foi fazer o papel do Rolando em ‘Meu Mundial – Para Vencer não Basta Jogar’?

RV: Alvaro Tallarico, é um prazer gigante responder essa entrevista, assim como tive um prazer enorme fazendo o Rolando, em ‘Meu Mundial”. Nunca tinha filmado fora do Brasil, em língua estrangeira. Mesmo fazendo um personagem brasileiro que fala mal o castelhano do Uruguai. Foi uma experiência nova participar de uma produção dessas que une três países distintos (Argentina, Uruguai e Brasil). Essa solução de Mercosul é boa para fazermos cinema nesses dias magros, terríveis em que a gente vive com um governo pisoteando o cinema nacional. Enfim, fiz muitos amigos lá, fui recebido no Uruguai com muito carinho. Me dediquei, fiquei 45 dias inteiramente entregue ao universo do filme. O tema futebol me interessa muito, gosto bastante, rodei em vários gramados do Uruguai. Ou seja, um filme rico de atrativos, de coisas que me seduziram e me ajudaram a ficar feliz fazendo.

BLAH!: Quais as semelhanças e diferenças entre o cinema brasileiro e o uruguaio? Ou você percebe uma conjuntura muito parecida no geral dentro do cinema latino-americano?

RV: Vejo sim semelhanças, é bem similar. A única diferença que percebo… Gosto muito do cinema sulamericano, o argentino é uma obra de arte e o que talvez a gente precisasse aqui quanto a isso é um estímulo direto para o cinema independente, de orçamento mediano, onde prevalece a qualidade da história. De forma geral falta isso, um circuito mais poderoso com apoio do governo para lançar filmes de menor orçamento. Mas na conjuntura geral, lado artístico e técnico não vejo grande diferença, A gente é mais treinado, um pouco mais exercitado do que eles, mas são bastante parecidos, incluindo o argentino. Com algumas características que são mais ligadas ao diretor em questão, não ao país.

BLAH!: Se para vencer não basta jogar, o que é preciso para ser um vencedor? Qual a importância da mensagem que o filme passa?

RV: A mensagem é exatamente a de que você precisa se preparar em vários aspectos. Às vezes você é um grande jogador de futebol, mas precisa agregar outras qualidades e características a isso. Um somatório de fatores para formar um cara de destaque, um craque, no caso da temática do filme. Então, faltou ao menino uma orientação mais forte, uma vigília mais forte, pois o erro que ele comete é grave. Isso está sujeito a acontecer. Para ser um vencedor precisa de um monte de coisas. Estudo, dedicação, convicção, pensar, pensar, pensar, desenvolver na cabeça o que pensa das coisas. Mas cabem vários vencedores. Precisa de lealdade para ser um vencedor de fato. Se dedicar e ser o melhor que você possa, ampliar, potencializar suas qualidades.

Roney Villela, ator brasileiro

Roney Villela em “Meu Mundial” (Foto: Divulgação)

BLAH!: Qual a relevância do cinema na América Latina?

RV: O cinema na América Latina é de muita relevância e cada vez mais. Vemos hoje filmes correndo diversos festivais no mundo. Colômbia, Argentina, que faz um cinema independente espetacular, o próprio Uruguai tem fases muito boas. México faz cinema. Esperamos manter essa relevância. Aqui no Brasil onde o cinema é muito desestimulado e está sofrendo amputações horrorosas com esse governo, derrubando coisas que levamos décadas para construir dignamente. Estão vendendo uma imagem do artista de cinema completamente deformada, longe da realidade dos fatos, diria até que burra. Tenho essa dor hoje. Cada vez que a gente abre o jornal, a internet, tem notícia ruim de algo que arrancaram da gente.

Jogar a Ancine para dentro da Casa Civil… querer cortar a lei de 30%, que protege o artista brasileiro… Só comecei a ganhar algum dinheiro depois dessa lei, em 2011. Tenho 37 anos e meio de carreira, quatro filhos para sustentar, sempre no sufoco. Essa lei foi a única coisa que me deu estrutura para cuidar da minha família. Até isso estão querendo derrubar para entrar todos os enlatados americanos, japoneses, estrangeiros, e a gente ficar a ver navios. Com o estúpido argumento de reserva de mercado que, nossa, não convence ninguém. Enfim, sou otimista e não pessimista e vamos mudar isso. Não falo só de cinema mas da arte em forma geral, todas as proibições, as censuras horrorosas que estamos sofrendo. Cortes financeiros abruptos, enfim, estão afim de derrubar a gente.

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
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