Sob a sombra de ‘AM’, Arctic Monkeys faz apresentação madura e certeira no Rio

Fabricio Teixeira

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5 de abril de 2019

Ultimamente as pessoas têm usado bastante a expressão “viver dentro da bolha”. Política e socialmente, principalmente. Mas é um fato que na música também existe essa tal bolha. E dentro da minha, o Arctic Monkeys é a maior banda de rock da atualidade. Prova tirada na noite da última quarta-feira (3), na Jeunesse Arena, Rio de Janeiro.

E não é por acaso. Cada vez que Alex Turner sobe ao palco, ele faz questão de se portar como um autêntico rockstar: da interação com o público, passando pelo gestual até o figurino anos 50/60 – terno, sem gravata e com algumas pausas para ajeitar o penteado com aqueles infames pentes redondos de bolso. Cada movimento do líder da banda é cercado de um misancene que parecia em falta no rock. E isso agrega muito valor ao espetáculo.

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Turner é a grande estrela da banda. O abandono do estilo rapaz tímido e essa nova fase crooner ofusca os companheiros, que não parecem, de fato, se importarem com isso. Mesmo o baterista Matt Helders, que dividiu por um período o posto de rosto da banda com Turner (tendo inclusive atuado em videoclipes) vem aparecendo cada vez menos. Um solo de bateria em Brianstorm e os usuais backing vocals, apenas.

Mas é claro que essa análise é puramente estética. Em seus postos, a banda continua conversando muito bem. Nick O’Malley segue fazendo a cama com suas linhas de baixo certeiras – um dos pontos altos dos dois últimos discos, e Jamie Cook é um dos integrantes que acrescenta uma pitada de indie ainda tão necessária ao som da banda.

Porque a ousadia dos ingleses não está necessariamente em cima do palco. “Tranquility Base Hotel + Casino”, sexto álbum da banda e que dá nome à turnê, é ousado, e bastante sofisticado. É muito diferente de tudo que a banda havia apresentado até então, o que causou muito ruído entre os fãs. E isso se viu refletido no show. Em 2014, na turnê do “AM”, a banda lotou a então HSBC Arena e esgotou os ingressos. TBH+C não teve a mesma aceitação e a Jeunesse Arena não teve sua capacidade máxima preenchida – 13 mil pessoas, segundo números da organização.

Mas quem estava presente teve – além de um certo conforto – a chance conferir, durante mais ou menos 1h40, mais uma etapa de amadurecimento da banda. Dos rapazes tímidos que aportaram no Brasil pela primeira vez em 2007, sobrou pouca coisa. Talvez apenas os hits do primeiro disco, como Dancing Shoes e a pancadinha indie que lançou a banda, I Bet You Look Good On The Dancefloor.

Do novo álbum, cinco faixas: One Point Perspective, a balada The Ultracheese, que contou com um mar de celulares (os substitutos tecnológicos dos isqueiros) iluminando o ginásio, a faixa-título Tranquility Base Hotel + Casino, Four Out Of Five – que contou com um final estendido sensacional – e Star Treatment, tocada no bis com pompas de hit.

O show parece orbitar oAM, talvez o trabalho mais expressivo da banda. A abertura contacom a espetacularDo I Wanna Know  e o encerramento com R U Mine? para delírio do participativo público.No geral, todos os disco tem vez no set do Arctic Monkeys, mas a banda parece cada vez mais distante do início da carreira, a ponto de poder ignorar sucessos como Whe the Sun Goes Down,Fluorescent Adolescente Do Me a Favour, a última praticamente rogada por parte do público.

Misturando sofisticação, jovialidade e nostalgia, o Arctic Monkeys apresentou um show impecável para fãs de todas as gerações (vale lembrar que o primeiro álbum foi lançado há mais de uma década). O que as próximas turnês nos reservam é uma incógnita, se tratando de uma banda que não tem medo algum de arriscar. Até o momento, eles se mantêm como a maior banda de rock da atualidade (pelo menos dentro da minha bolha).

Setlist:
  1. “Do I Wanna Know?”
    2. “Brianstorm”
    3. “Snap Out of It”
    4. “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair”
    5. “One Point Perspective”
    6. “I Bet You Look Good on the Dancefloor”
    7. “Library Pictures”
    8. “Knee Socks”
    9. “The Ultracheese”
    10. “Teddy Picker”
    11. “Dancing Shoes”
    12. “Why’d You Only Call Me When You’re High?”
    13. “Cornerstone”
    14. “505”
    15. “Tranquility Base Hotel + Casino”
    16. “Crying Lightning”
    17. “Pretty Visitors”
    18. “Four Out of Five”

Bis:

  1. “Star Treatment”
    20. “Arabella”
    21. “R U Mine?”

(Foto em destaque na capa – Alex Turner, vocalista, guitarrista e principal compositor da banda. – Crédito: Alessandra Tolc – T4F)

Fabricio Teixeira

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