Sobre o Ser e o Voo

José Danilo Rangel

1.
Ser quem se é
é ainda estar preso
porque enquanto sendo
não se é senão o mesmo.
2.
Somos o que somos
ao custo do que poderíamos ser
e não somos, e até ao custo
do que sequer sonhamos,
Isto somos, estes somos, e mais, não…
simples e talvez, de alguma forma,
adivinhemos, nós, os que anseiam pelo voo,
Tantas partes abortamos
do que poderíamos ser, para sermos
um tanto a mais do que somos.
Um tanto a mais,
mas só do que ansiamos.
3.
A elaboração do ser
se dá num limitá-lo,
Como erguer uma casa
que não é só ocupar um espaço,
é ocupá-lo e substituir nele
o que houve de possível e vago,
tomando pelo menos uma, ou umas
dentre todas as possibilidades.
Talvez por isso, exista
quem insista tanto em ser mais,
para compensar tudo o que não é.
4.
Outro ciclo há para o ser,
e duvido, meu amigo,
que já tiveste pensando nisso:
Andamos para frente,
para nos libertar e livres
de novo nos emaranhamos
com todas as cordas
do ser livre que compomos,
e de novo, presos,
é por outra liberdade
que ansiamos.
5.
Romper o que a mim
me disse não, também o sim,
do pensamento ou da emoção,
Trapacear-me,
como no presente não valesse mais
aquela antigo compromisso,
deixar disso…
Transgredir-me,
a parte vigente da minha legislação,
outrora votada e validada,
um tanto mais no agora,
um tanto mais por fora.
Eis que em me negar,
nova forma encontro
de afirmação.

José Danilo Rangel

José Danilo Rangel tem 29 anos, é cearense, de Itaitinga, vive há 20 anos em Porto Velho, Rondônia, e já foi conhecido nas rodas undergrounds portovelhenses, por ser esportista radical e pela frequência (e confusões) em festas de metal. Sempre leu muito, mas não gostava de Poesia, na verdade, considerava-a futilidade. Escrevia artigos, crônicas, contos, mas nada em verso. Apaixonado, entanto, decidiu escrever um soneto para se declarar, foi assim que encontrou na Poesia um meio de falar sobre o que sempre achou importante falar.
NAN