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‘Soul’: Pixar emociona com existencialismo para crianças

Victor Lages

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26 de dezembro de 2020

Tenho a impressão de que toda animação do estúdio Pixar começa com uma pergunta simples e, ao mesmo tempo, complexa: “o que os brinquedos fazem quando ninguém está olhando?” (Toy Story, 1995); “até onde um pai vai para salvar seu filho?” (Procurando Nemo, 2003); ou “qualquer ser vivo pode ir atrás de seus sonhos?” (Ratatouille, 2007).

Seu salto mais inventivo foi com “como nossas emoções são moldadas?” ao apresentar Divertida Mente, em 2015. Ensinando psicanálise por meio de cores para o público infantil, a Pixar logrou com imenso sucesso respondendo sua questão.

Mas no dia de Natal de 2020, depois de um ano extremamente difícil para o globo inteiro, a Pixar lançou Soul no Disney+ partindo de uma pergunta básica: “qual é o sentido da existência das pessoas no mundo?”. É existencialismo puro, didático e brilhante para crianças.

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Jazz e a vida

Trazendo o jazz como pano de fundo de um professor de música apaixonado pelo estilo, temos Joe Gardner, um homem que está no melhor dia da sua vida. Conseguiu finalmente a oportunidade única de tocar em uma consagrada banda e mostrar todo o seu talento. E morreu…

Cai em um buraco no meio da rua e sua alma, um espectro verde e azul, é levada para o que será seu pós-vida. Mas encontra uma pequena falha no sistema e conhece 22, uma alma desmotivada que não encontra seu dom para poder encarnar na Terra. Juntos, precisam superar suas diferenças e se ajudar para cada um atingir seu objetivo.

Uma trilha genial

Diferente do que se espera, em Soul, o roteiro não é o maior trunfo, pois uma história bem contada, emocionante e sensível já é de se esperar nos filmes da Pixar. Desse modo, os roteiristas buscam subterfúgios para encaixar a obra no pódio do estúdio.

Não temos um personagem extremamente carismático que vai vender muitos brinquedos, como foi com Dory, Bing Bong ou Mike Wazowski. Os dois protagonistas aqui são antipáticos quando precisam e divertidos quando é conveniente ao roteiro.

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Ora, se não é o roteiro, seria o visual a melhor coisa do filme? É bem bonito, em especial nas cenas do além-vida. Mas o ápice de Soul vem com a trilha sonora, assinada por Jon Bastite, Trent Reznor e Atticus Ross, esses dois últimos vencedores do Oscar por A Rede Social (2010) e responsáveis por Garota Exemplar (2014) e Mank (2020).

Os integrantes da banda Nine Inch Nails saem da sua zona de conforto de trabalhar com David Fincher e encaram um desafio grande: como criar em função das crianças? O sucesso é tão absoluto que chega a arrepiar.

No plano terrestre, Batiste apresenta um delicioso jazz que pode atrair para o gênero pequenos novos fãs inesperados. Já no plano espiritual, Reznor e Ross colocam um som etéreo e misterioso clássico do trabalho deles, mas com uma delicadeza ainda não explorada. Os três talentos da composição fundem-se e criam a melhor trilha sonora deste ano, facilmente utilizada daqui para frente para os espectadores usufruírem seus estudos que demandam concentração.

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Um alerta para a Pixar

Mas nem tudo é perfeito. Sim, temos um filme lindo. Sim, a Pixar arrasou de novo em Soul e, possivelmente, só não levará o Oscar de Melhor Animação em 2021 porque Wolfwalkers estará no páreo. No entanto, o estúdio está a se repetir em uma fórmula que está ficando bem batida.

Tirar dois protagonistas, com personalidades tão discrepantes, de suas zonas de conforto para trabalharem juntos, superarem suas diferenças e aprenderem entre si não é uma nova estratégia de roteiro. Woody e Buzz são assim em Toy Story (1995); Marlin e Dory foram representantes disso em Procurando Nemo (2003); Carl e Russel de Up (2009) igualmente; assim como Alegria e Tristeza também vieram do mesmo jeito em Divertida Mente (2014).

Então, Pixar, fica alerta. O público está ficando mais exigente. Não basta apenas questionar as origens da vida. Dessa vez, você conseguiu mais uma vez nos emocionar, mas é bom começar a abrir os olhos.

TRAILER

FICHA TÉCNICA

Título original: Soul
Direção: Pete Docter
Elenco:
Jamie Foxx, Tina Fey, Questlove, Phylicia Rashad, Daveed Diggs, Angela Bassett
Onde assistir: Disney Plus
Data de estreia:
sex, 25/12/20
País: 
Estados Unidos
Gênero: 
animação
Ano de produção: 
2020
Duração: 
100 minutos
Classificação: 
livre

Victor Lages

Feito no coração do Piauí, onde começou sua aventura cinematográfica depois de descobrir as maravilhas do filme “Crepúsculo dos deuses”, o jornalista Victor Lages ama tanto a sétima arte que a leva para tudo em sua vida: de filosofias do cotidiano à sua dissertação de mestrado.
8
Créditos Galáticos

Créditos Galáticos: 8

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