Em tempos de Conchita Wurst, a cantora drag barbuda, foi um grande acerto a ideia de apostar na androgenia dos atores na peça A importância de ser Perfeito. Com isso, o espetáculo ganha um tom ainda mais farsesco. A divertida adaptação/tradução de Leandro Soares contextualiza a peça para o Rio de Janeiro dos dias de hoje, mas sem perder o estilo irônico e as tiradas sarcásticas de Oscar Wilde.

“The Importance of Being Ernest” é uma das mais famosas peças de Wilde, junto com “Salomé”, o “Marido Ideal” e “O leque de Lady Windermere”. Oscar Wilde alcançou imensa popularidade nos teatros, mas até hoje ainda é mais conhecido pelo seu único romance “O Retrato de Dorian Gray”. Na peça A importância de ser Perfeito, Oscar Wilde critica a sociedade vitoriana do século XIX, seu machismo, preconceitos sociais, preocupação com as aparências e o falso moralismo. A atualidade da peça nos revela o quanto ainda somos dominados por esses falsos valores.

O nome do personagem principal Ernest possui duplo sentido na língua inglesa, o que reforça a ideia da peça que é a de se passar por outra pessoa. Oscar Wilde se utiliza desse jogo de palavras para reforçar as máscaras sociais que tentam esconder quem realmente somos. O adaptador foi muito feliz com a escolha da tradução dos nomes, principalmente do “Ernest” para Perfeito e “Mr. Bunbury” para Fanfarrão.

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Todos os atores desempenham muito bem seus papéis. Porém, pode-se destacar pela comicidade e riqueza de construção de personagem, o trabalho de George Sauma e João Pedro Zappa, ambos engraçadíssimos nos personagens femininos. Destaque também para o figurino inventivo e premiado de Thanara Schönardie.

No entanto, a peça ficaria mais enxuta, são 2 horas de duração, sem as inserções musicais e o sapateado do George Sauma, que mesmo bem realizados, não são necessários dramaturgicamente. A excelente luz de Aurélio de Simoni compensa a quase ausência de cenografia. A cortina funciona bem, dá um efeito estético e funcional, mas as poucas cadeiras empobrecem a cenografia.

Nada disso interfere seriamente na qualidade da peça. A plateia se diverte durante todo o espetáculo. É muito louvável a montagem de um texto clássico por uma galera jovem que soube recriar, sem trair a proposta do autor.

FICHA TÉCNICA

Texto: Oscar Wilde.
Tradução e adaptação: Leandro Soares.
Direção: Daniel Herz
Figurinos: Thanara Schönardie
Cenário: Nello Marrese
Iluminação: Aurélio de Simoni
Programação Visual: André Vants
Elenco:
George Sauma
João Pedro Zappa
Leandro Soares
Pedro Tomé
Anderson Mello
Leandro Castilho
Márcio Fonseca
Samuel Toledo