Ao Seu Lado
Crítica do filme
A igualdade de gênero, é um assunto que a cada dia vem ganhando mais notoriedade, espaço e cobranças pelos militantes em defesa da igualdade de gêneros. No ano passado, a atriz e Embaixadora da Boa Vontade das Organizações das Nações Unidas (ONU), Emma Watson, em discurso no lançamento global da campanha “HeForShe” (em português, Ele Por Ela), na sede da ONU, foi ovacionada ao convocar homens, jovens e meninos a lutar pela igualdade entre os sexos.
Este ano, a vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, Patricia Arquette, foi destaque. Com fala feminista, Arquette cobrou igualdade de salários nos EUA e foi ovacionada por grandes nomes do cinema, como a veterana Meryl Streep.
O selo Nemo, do Grupo Editorial Autêntica, lançou reportagem em HQ que retrata as condições misóginas do Iêmen, um dos países mais pobres do mundo, trata-se de O Mundo de Aisha – A revolução silenciosa das mulheres no Iêmen, o livro desvenda a violência vivida por mulheres do Iêmen.
Ugo Bertotti, o autor. Foto: Editora Autêntica/Divulgação.
Na trama, obrigadas a se casarem ainda meninas. Escravizadas, violentadas, por vezes assassinadas. Cobertas com o véu negro – o niqab – as mulheres do Iêmen parecem fantasmas. Contudo, pouco a pouco, com delicadeza, coragem e determinação, elas travam uma batalha corajosa por sua emancipação. Uma revolução silenciosa está em marcha para fazer valer seus direitos e sua liberdade. Aisha, Sabiha, Hamedda, Houssen e tantas outras: aqui estão algumas de suas histórias. Uma extraordinária reportagem em quadrinhos de Ugo Bertotti inspirada pelas imagens e pelas entrevistas da fotojornalista Agnes Montanari.
Muito mais que uma graphic novel O Mundo de Aisha – A revolução silenciosa das mulheres do Iêmen é um documento que trata sobre a situação das mulheres no Iêmen, o Estado fica ao sul da Península Arábica, onde o islamismo sunita é a principal religião praticada e marcadamente patriarcal, que relega as mulheres da sociedade e as deixam em um estado de subordinação ao homem. A obra retrata a vida de algumas mulheres iemenitas que tiveram destinos diferentes, mas em todos os casos, elas tiveram que lidar com as regras não escritas que permitem que os homens as prevaleçam abusando-as e violentando-as.
Desenhadas em preto e branco e com o apoio das fotografias da fotojornalista e documentarista Agnes Montanari, a graphic novel traz três histórias sobre a difícil condição das mulheres iemenitas. Em seu trabalho o quadrinista, Ugo Bertotti investigou o tema a partir dos relatos do que viu, ouviu e foi fotografado por Montanari durante uma viagem ao Iêmen.
A primeira história contada nos quadrinhos, choca pela crueldade, fala sobre a jovem Sabiha que chegou ao hospital com um ferimento terrível nas costas feito por um projétil disparado de um fuzil AK-47, atingiu a coluna vertebral da menina, deixando-a paralítica. O responsável? O marido atirou porque ela estava olhando pela janela sem usar o véu niqab. Agnes a fotografou, mas não foi capaz de entrevistá-la. Ao saber da história, enviou releases para vários jornais iemenitas. A partir daí, o leitor saberá que, para essas jovens, não existem muitas chances de escapar do seu caminho predestinado. A mulher não tem escolha, se é pobre: tem que casar ainda criança, muitas vezes antes completar seus quatorze anos; o pai a troca por uma pequena quantia com a qual pode reparar o motor do seu carro que usa para trabalhar ou comprar animais para ajudar no seu sustento.
Nas ruas, as mulheres são como manchas negras, que se movem flutuando. De vez em quando um rápido múrmurio, um preço que se pergunta, depois se afastam deslizando… A partir de certa idade seus corpos se preparam para desaparecer. E sob aqueles véus negros parece não haver mais mulheres de carne e osso. Parecem pássaros negros, inamistosos, inabordáveis.
No geral, as outras histórias mostram os fortes reflexos do Islamismo, a tradição dos casamentos arranjados, a submissão das mulheres aos seus maridos, o uso do véu por meninas que anseiam por exercer direitos que lhe são sistematicamente negados, a coragem e a determinação dessas mulheres são apenas alguns dos temas que estimulam o leitor a um mergulho no Iêmen até então desconhecido.
Em outras histórias, Ugo Bertotti mostra que há mulheres que reagem e lutam contra o machismo secular imposto pela tradição e pela religião. Hammeda, a protagonista da segunda história, foi tema de uma reportagem da TV Al Jazeera. Foi ao vê-la na TV que Agnes saiu à procura de sua história: uma empresária de sucesso, dona de restaurantes e hotéis, que venceu o machismo e não usa mais o niqab.