Mangia che te fa bene! Caso você tenha alguma ascendência familiar italiana, você provavelmente já ouviu essa frase de um parente. Se não tiver ou nunca tiver escutado, é bem simples de traduzir para o português: “Coma que te faz bem!” A saber, a frase é um dito clássico italiano que significa se manter a mesa, se divertindo, comendo bem e rejuvenescendo o espírito. Afinal, comida conecta.

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A trama

E é sobre isso que fala o gostoso filme, em todos os sentidos, Abe, do diretor brasileiro Fernando Grostein Andrade. Pode uma simples refeição entre pessoas tão diferentes aparar rusgas e conflitos? Seria possível uma receita saborosa unir povos e erradicar preconceitos?

A saber, tudo gira em torno da história do menino Abraham Solomon-Odeh, que gosta de ser chamado Abe – interpretado pelo ‘Stranger Things’ Noah Schnapp. Vivendo em Nova York, o garoto tem uma família multicultural e bem conflituosa: do lado da mãe, suas raízes são judias e israelenses. Por outro lado, o pai tem origem palestina e muçulmana. Imagine uma Faixa de Gaza na mesa do jantar e temos uma ideia de como tudo se desenrola. Convivendo diariamente em lados sociais e religiosos tão opostos, Abe tenta ligar a cultura árabe e muçulmana com a israelense e mediterrânea. Com um talento nato pela culinária, o menino tenta unir os povos com a mistura de seus pratos e o prazer de se comer em família. Para isso, conta com os ensinamentos do chef brasileiro Chico, interpretado por Seu Jorge.

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Abe - Still 2
Carinho e afeto

Fernando Grostein Andrade desenvolveu seus personagens com carinho, afeto e liga os Estados Unidos ao Brasil de uma forma muito simpática. Seu Jorge já está acostumado a interpretar o brasileiro cordial e boa praça nos filmes gringos, no entanto, suas cenas com Noah Schnapp são algumas das melhores do filme. O menino também está muito bem no papel e transmite força no olhar e desenvoltura para encarnar o ingênuo adolescente.

Mesmo com um roteiro simples, Abe reside na complexidade do ser humano, mas sem fazer um debate profundo. Apenas uma leve reflexão e com uma estética cativante onde condimentos, temperos, frutas, verduras e legumes são como pequenos quadros na tela grande. O Brasil aqui representado ainda é o clichê estereotipado. Entretanto, ao falar de nossa  gastronomia, como a tapioca e mandioca, bem como uma rica trilha sonora bem brasileira, é possível sentir um certo prazer com essa fusão cultural indo além das tradicionais bunda, carnaval e futebol.

Abe é um filme sensível com uma combinação não só de sabores, mas de culturas e línguas. Em resumo, aqui, com tantos retratos sociais, como a reunião de muçulmanos e judeus, brasileiros e norte-americanos, brancos e negros, homens e mulheres, o filme deve agradar quem espera que problemas socioculturais possam ser resolvidos com o tempo. Trata-se de uma utopia com uma narrativa inocente e sem soluções complexas para problemas reais, mas, por ora, pode servir para acalentar alguns corações em busca de alguma igualdade.

*FILME VISTO NO FESTIVAL DO RIO 2019

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Abe
Direção: Fernando Grostein Andrade
Elenco: Noah Schnapp, Seu Jorge, Mark Margolis
Distribuição: Downtown/Paris
Data de estreia: qui, 09/04/20
País: Estados Unidos, Brasil
Gênero: comédia dramática
Ano de produção: 2017
Duração: 85 minutos
Classificação: a definir