Os atentados terroristas que derrubaram as torres do World Trade Center, em Nova York, completam 13 anos. A data marca ainda os primeiros movimentos de retaliação dos Estados Unidos. Em nome de uma então inédita e subjetiva “guerra ao terror”, dois países foram invadidos (Afeganistão e Iraque) e o resto é história.
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Neste momento em que o mundo relembra os fatos que mancharam aquela tarde azul de verão americano em 2001, faço um relato pessoal de um período em que vivi nos EUA, um ano antes dos atentados.
Ideologias à parte, os EUA são um país fantástico. Casa do MIT, de Harvard, Yale, Stanford e NYU. Dos scholars, da educação levada a sério e da pesquisa científica. País que incentiva a cultura, as artes e a literatura. Nação da liberdade, ferida em seu coração. E um país peculiar, por certo.
Ameaça nuclear
Indicação de abrigo nuclear em um prédio residencial (Foto: Jeff Brouws)
Viver na
terra das oportunidades é experiência singular. Marcante por outro motivo, contudo: a paranoia NUKE (ataque por
bomba atômica), que está por toda parte. Mesmo num bairro bucólico, onde os
prédios brickstone não passam de seis andares e a
neighborhood é das mais agradáveis, os traços da
ameaça nuclear da destruição em massa são presentes. Mas não parece haver pavor.
Viver à espera do
juízo final faz parte do cotidiano, assim como fazem parte as carrocinhas de hot-dog nas esquinas multiculturais de Nova York. A paranoia acompanha os americanos desde o início da
Guerra Fria. Convivem com isso há gerações. Portanto, já foi completamente assimilado. Tiram de letra.
Num primeiro momento, porém, chama a atenção do estrangeiro. Em NY, todo bairro tem um
fallout shelter, ou seja, um
abrigo nuclear. É comum vermos nas fachadas placas indicando a localização desses espaços.
Os avisos são onipresentes e nos causam impacto na primeira vez em que nos damos conta da sua existência. Assusta mesmo. Trazem à tona a lembrança de que “estamos sob constante ameaça externa”. Nas escolas, alunos são orientados sobre os procedimentos que devem ser adotados em caso de ataque repentino. Espantoso.
Esteja pronto!
Ameaça radioativa: ilustração do manual do Departamento de Segurança Interna dos EUA (Foto: Reprodução)
E é tudo levado muito a sério, como se estivéssemos a qualquer momento prestes a enfrentar uma chuva de
mísseis intercontinentais. Para se ter uma ideia, o Department of Homeland Security (Departamento de Segurança Interna) mantém no ar a página
Ready America, dedicada exclusivamente à orientação sobre os procedimentos que devem ser adotados caso o país sofra um
ataque nuclear terrorista, sempre iminente.
O órgão disponibiliza também um sistema nacional de informação contra terrorismo (
National Terrorism Advisory System), que mede o grau de ameaça enfrentado pelo país e orienta a população sobre possíveis riscos. Ele conta com um serviço de alertas presente nas
mídias sociais como
Twitter (
www.twitter.com/NTASAlerts ) e
Facebook (
http://facebook.com/NTASAlerts).
Um país refém
Recomendações com estética de quadrinhos (Foto: Reprodução)
Apesar de toda sua sofisticação, os EUA são um país refém, como uma criança, de um sistema baseado no medo que data do início do século passado. Desde os
ataques do 11 de setembro, esse medo tem o respaldo do Departamento de Segurança Interna, criado por Bush logo após os atentados.
Mantendo a população em alerta, o órgão disponibiliza na Internet um “guia de sobrevivência” onde há dicas para diversas ameaças como
armas químicas,
biológicas e explosões
nucleares, por exemplo. Há ainda um
guia para crianças, com ilustrações de aventura, além de um
game. Já o respeitável
businessman pode recorrer a
este guia. Além disso, o Departamento publica um
manual detalhado de prevenção em caso de emergência, em PDF.
Agora, os EUA se preparam para uma nova cruzada. Desta feita, rumam para o Oriente Médio a fim de exterminar o grupo terrorista da vez, que atende pela alcunha de Estado Islâmico.
Os americanos têm mais uma bela oportunidade de atualizar seus conhecimentos sobre proteção pessoal.
Emiliano Mello é jornalista e pesquisador. Ruma por aí desde os tempos em que se podia comer de garfo e faca de metal nos aviões. Editor de vídeo, mata no peito, corta pra direita, corta pra esquerda e põe onde a coruja dorme. é rock do bom ou, quem sabe, jazz.