Ao Seu Lado
Crítica do filme
“Quando eu era garoto, as páginas duplas do Millôr na revista ‘O Cruzeiro’ e (a revista) ‘Pif Paf’ me fizeram descobrir, de uma vez só, o desenho, as artes gráficas e o humor”, lembra o humorista Reinaldo, que divide a mesa com o eterno cúmplice Hubert para conversar com o mestre Jaguar sobre o Guru do Méier, homenageado da Flip 2014.
“Era altamente estimulante, me dava vontade de fazer aquilo. Mais tarde, nos anos 1970, comecei a trabalhar no Pasquim e conheci pessoalmente Millôr, Jaguar, Ziraldo, Ivan Lessa e aquela turma toda. Foi o meu período de formação, minha escola. Foi lá também que conheci os colegas cartunistas Hubert e Cláudio Paiva. Nós três começamos a fazer nossas experiências no Pasquim, editávamos páginas e mais páginas em conjunto. Isso foi uma espécie de laboratório para o que viria a ser mais tarde ‘O Planeta Diário’, que lançamos em 1984.”
A dupla Hubert e Reinaldo, embora conhecidos hoje como “cassetas” por pertencerem ao grupo humorístico Casseta e Planeta, formam a ponta de lá do título da turma. Faziam o jornal “concorrente” à ‘Casseta Popular’, fanzine que virou revista e marcou época no humor carioca – e nacional – durante os anos 1980.
Mas enquanto Bussunda, Beto Silva, Marcelo Madureira, Hélio de La Peña e Claudio Manoel criaram sua publicação durante o curso de Engenharia da UERJ no fim dos anos 1970, “O Planeta Diário” de Hubert, Reinaldo e Claudio Paiva nascia como filhote editorial do Pasquim, principal publicação independente do Brasil na época da ditadura militar. Mais tarde uniriam as forças à Casseta para assumir um programa semanal na TV Globo, mas é evidente a influência do humor e da inteligência de Millôr na publicação dissidente do jornal que editava nos anos 1970.
“A importância dele é enorme”, segue Reinaldo, “principalmente porque fazia várias coisas e embaralhava as fronteiras dos estilos. “Era um desenhista que escrevia, um escritor que desenhava. As páginas do Millôr podiam ser tudo ao mesmo tempo: desenho, humor, pintura, poesia, artes gráficas… E ele se dedicava a muitos gêneros: poesia, crônica, fábula, conto, teatro, filosofia, sátira política – sem falar dos desenhos, que muitas vezes misturam texto e imagem com resultados surpreendentes. Na verdade, ele só não escreveu romances. Mas isso não importa.”
O humorista ainda exalta o senso de liberdade total do autor, “que é uma das qualidades do humor com H maiúsculo”. “Ele parecia que não tinha, nem queria ter, compromisso com nada e com ninguém. Era um cara independente, com uma visão muito pessoal do mundo. E, ao mesmo tempo, nunca se levava tão a sério, o que era muito bom”, lembra antes de celebrar um dos aforismos clássicos de Millôr – “livre como um táxi”. Reinaldo também lembra da relação pessoal com o mestre, ainda na redação do Pasquim, nos anos 70. “Ele sempre me deu muita força. Felizmente, pude aprender vendo o Millôr e toda a equipe do Pasquim em ação.”
Reinaldo também enfatiza a importância da escolha de Millôr como homenageado da edição deste ano da Flip. “Mostra que literatura não é sinônimo de ‘seriedade’, no mau sentido. A boa literatura não tem que ser necessariamente grave, solene e sem graça. Mesmo sendo engraçado, Millôr conseguia ser mais profundo do que muitos autores considerados ‘sérios’ e ‘importantes'”.
Sobre a apresentação no evento, Reinaldo convida o público da Flip a uma conversa informal dele com Hubert e Jaguar. “Vamos lembrar e comentar as várias facetas do Millôr: humorista, desenhista, jornalista, editor, escritor, pessoa física, jogador de frescobol e todos os outros millôres que puderem ser lembrados”, promete.
Fonte: Texto de Alexandre Matias no site oficial da Flip 2014
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