Ao Seu Lado
Crítica do filme
A arte e a cultura são ferramentas transformadoras de pensamento e comportamento da nossa sociedade, e o Festival For Rainbow é a prova viva disso.
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Chegando em sua 16º edição, o For Rainbow – Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual e de Gênero 2022 é idealizado pela cineasta, jornalista e militante Verônica Guedes, e aconteceu entre os dias 14 e 21 de dezembro, em Fortaleza, no Ceará. Nesta edição o festival recebeu 1670 inscrições de 109 países.
Verônica morou por alguns anos no Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista para a revista Manchete. Quando ia para Fortaleza percebia que nos jornais locais haviam muitas notícias de violências praticadas contra os LGBTs. E isso sempre a tocou profundamente. Finalmente ela decide voltar a morar no Ceará, e sente que precisa pensar numa forma de incluir a comunidade LGBT a sociedade. Como a própria diz: “o impacto mais imediato para sensibilizar as pessoas é através da arte”.
A partir daí nasce a 1ª edição do Festival For Rainbow, no ano de 2006, cuja proposta era justamente seguir essa ideia de união e convergência entre as diferentes artes (teatro, dança, música e cinema), assim como estender essa junção também para a diversidade de público, uma vez que, desde o início, o festival sempre foi gratuito.
A idealizadora do festival lembra que, quando realizou a 1ª edição do For Rainbow, havia muito mais recursos públicos para auxiliar na elaboração do evento. Tanto que existia, inclusive, uma mostra itinerante que viajava o Brasil, levando o festival, principalmente, às periferias das cidades.
Com o passar dos anos, os auxílios públicos para cultura foram diminuindo, até ficarem quase inexistentes com a atuação do governo atual. Até porque, segundo Verônica, “Bolsonaro considera os artistas como inimigos dele e o estado do Ceará, por ter um governador e um secretário de cultura de esquerda, foi severamente punido pela instância federal”.
Com isso, o festival assume ainda mais o seu caráter político e de resistência. Afinal, o, até então presidente, sempre se posicionou veemente contra qualquer tipo de manifestação ou expressão vinda da comunidade LGBTQIA+.
Esse viés declaradamente político do Festival For Rainbow é reforçado pela programação estabelecida da equipe de curadoria dos filmes selecionados, que, em 2022, foi composta pelas realizadoras e atrizes Cristiane Fragoso, da Paraíba; Júlia Katharine, de São Paulo; e o cearense, jornalista, pesquisador e crítico de cinema Diego Benevides.
Diego se expressa dizendo que a curadoria de qualquer festival já de uma grande responsabilidade, mais ainda quando se trata de um projeto que traz um enfoque específico, que busca múltiplas linguagens, diversidades artísticas e culturais.
“Nesse sentido, a curadoria de um festival pode ser vista como um gesto”, enfatiza o jornalista. “Qual gesto se vai articular dentro de uma programação, cuja intenção é trazer questões relevantes e pautas importantes para a comunidade LGBTQIA+”, questiona.
Diante do volume de inscrições em 2022, o Festival For Rainbow conseguiu realmente dar conta de abarcar o sentido da palavra diversidade de maneira extremamente ampla. Foram exibidos filmes de países como Burkina Faso, Irã, Botswana, trazendo temáticas que buscam refletir a transgeneridade, não binariedade, etnicidade, e muito mais. Além disso, apresentou pessoas LGBTs também na parte de direção das produções.
O resultado visto na tela do festival é de um imenso leque de pluralidades que funciona também como um processo didático-educativo para o nosso olhar quanto espectadores. Conseguimos perceber e nos sensibilizarmos com a ausência de visibilidade desses corpos que, geralmente, não são vistos em grande parte das produções cinematográficas.
A edição 2022 do Festival For Rainbow, Verônica relata que foi realmente muito difícil angariar recursos. Porém, ela já estabeleceu um nível de confiança tão grande com seus fornecedores, que todos se sentem felizes em contribuir com o festival.
Além disso, o For Rainbow também tem um forte caráter solidário. Durante a pandemia, foram doadas em torno de cinco mil cestas básicas para a classe trabalhadora artística, em parceria com o projeto “Gente é Pra Brilhar, Não Pra Morrer de Fome”.
E essa rede de relações que ela construiu é a prova da possibilidade de unir as pessoas em prol da vontade de revolucionar o pensamento e o comportamento da nossa sociedade perante os preconceitos e violências contra a comunidade LGBTQIA+. É claro que, infelizmente, sabemos que a crueldade não deixará de existir. Contudo, graças a pessoas como Verônica, podemos ter esperanças de que é possível sim acreditarmos no poder transformador da arte e da cultura. Vida longa ao For Rainbow!
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