Ao Seu Lado
Crítica do filme
Uma das principais características da obra O livro amarelo do terminal é seu projeto gráfico. Isso é compreensível quando nos deparamos com uma organização visual tão elaborada e, de certa forma, até inusitada. O livro chama a atenção desde a capa até a contracapa, ambas com fundos amarelados e estampados com várias referências ao universo rodoviário, como por exemplo: símbolos de sinalização, pedaços de notícias de jornais, instruções fornecidas pela rodoviária entre outros.
A mistura de tantos elementos resulta em um visual que faz jus à escrita e à composição do livro. Por dentro, as páginas amarelas permanecem e relacionam-se ao título como se a obra tivesse a pretensão de ser um guia de informações. O papel possui uma espessura fina e chega a ser transparente, mas isso não atrapalha a leitura, pois as linhas foram impressas com um espaçamento confortável para que as palavras da frente não esbarrassem no que está escrito no verso.
O título e a capa já fornecem uma boa ideia do assunto tratado por Vanessa Barbara: o Terminal Rodoviário do Tietê. Fruto de um Trabalho de Conclusão de Curso (no caso, de Jornalismo), a obra flerta principalmente com os gêneros de livro-reportagem e também com a crônica. Ao discorrer sobre o terminal, Vanessa utiliza uma linguagem informal, sem academicismos. O texto é repleto de coloquialismos que servem não apenas para falar da rodoviária e de seus personagens, mas também para que a autora narre os bastidores da produção do livro e emita a sua opinião sobre determinados assuntos. Assim, Vanessa Barbara não é apenas autora que escreve, ela também é personagem que aparece nas páginas da obra. Por isso, de antemão, já percebemos que estamos diante de uma observadora que não se julga como imparcial e distante do seu objeto de pesquisa, já que ela faz comentários (normalmente críticos e irônicos) ao longo do texto.
“A rodoviária do Tietê é uma cidade de coisas perdidas” é a primeira frase do livro. A autora segue e descreve a rodoviária por meio de diversos fatos e situações: “Uma cidade onde é necessário pedir autorização para conversar com os funcionários; onde é proibido fotografar os ônibus, e os seguranças cumprem ordens do diretor assistente administrativo, detentor de um escritório espaçoso e um farto bigode”. E assim, a narrativa prossegue. Inicialmente, conhecemos o espaço da rodoviária (a de embarque e de desembarque), depois passamos pelo Balcão de informações e por algumas funcionárias do setor como Cintia e Rosângela, sabemos um pouco mais sobre as pessoas que chegam à rodoviária e sobre aqueles que partem dela em direção a tantos destinos.
Há Marcos, detentor da ‘’voz mais bonita do terminal’’, Augusta (que limpa os banheiros e corredores e fica no balcão de cobrança do banho) e vários outros funcionários que surgem no livro. A cada página, fica mais claro que o livro é um apanhado de informações do terminal e parece uma conversa de Vanessa com quem a lê. Até os entraves burocráticos, por exemplo com a assessoria de imprensa do terminal, são descritos e normalmente acompanhados de uma crítica da autora. Outro destaque é o ritmo de leitura das páginas amarelas. São tantos personagens, histórias, pequenas crônicas e informações que remete ao dinamismo de uma rodoviária. Ao mesmo tempo em que essa forma de contar a história é interessante, muitas vezes fica a vontade de permanecer mais tempo com um personagem. Nem sempre é possível, especialmente quando a autora começa outro assunto e entrega o bilhete para a próxima viagem. E assim, como na rodoviária, embarcamos.
FICHA TÉCNICA:
Título: O Livro Amarelo do Terminal
Autor: Vanessa Barbara
Projeto gráfico: Elaine Ramos , Maria Carolina Sampaio
Coordenação: Cassiano Elek Machado
Revisão: Raul Drewnick, Regina Pereira
Editora: Cosac Naify
Ano: 2008
Idioma: Português
Especificações: Brochura | 254 páginas
ISBN: 978-85-7503-236-7
Papel e impressão (miolo): Papel copiativo e copel amarelo
Peso: 230g
Dimensões: 210mm x 140mm