Alçado a condição de gênio logo no seu terceiro filme, “O Sexto Sentido” (1999), o cineasta indiano, radicado na Filadélfia desde a infância, M. Night Shyamalan já esteve na crista da onda. Por esta obra foi indicado ao Oscar de melhor diretor e roteiro original. A partir daí, emplacou mais alguns sucessos (“Corpo Fechado”, 2000, “Sinais”, 2002, e “A Vila”, 2004), nenhum tão estrondoso, mas a simples menção a um novo longa-metragem de sua autoria despertava grande curiosidade no público. Além disto, foi comparado ao mestre Alfred Hitchcock, tanto por realizar filmes em que o suspense é uma característica importante, como por fazer pequenas aparições em suas obras. Contudo, com o tempo, algumas coisas consideradas bem ruins foram produzidas (“A Dama na Água”, 2006, “Fim dos Tempos”, 2008, “O Último Mestre do Ar”, 2010, e “Depois da Terra”, 2014), as criticas positivas ficando cada vez mais escassas e o interesse dos espectadores desapareceu quase por completo. Ele parecia ‘morto’. Teve que se ‘refugiar’ em uma série de televisão antes de voltar à cena cinematográfica com A Visita. E se o resultado está longe de ser muito animador como suas películas iniciais, pelo menos, é superior as últimas bombas.

A história fala das férias de dois irmãos, Rebecca (Olivia DeJonge) e Tyler (Ed Oxenbould), de 15 e 13 anos, respectivamente, na casa dos avós a quem eles nunca foram apresentados, nem sequer por fotografia. De início, não há maiores explicações para o que aconteceu no passado. Só fica claro que a mãe deles, Paula (Kathryn Hahn), perdeu o contato com os pais, John (Peter McRobbie) e Doris (Deanna Dunagan), há muitos anos e algum trauma a impede de reencontrá-los agora. No entanto, ela decide não interferir no desejo manifestado pelos avós de finalmente conhecerem os netos. Logo, despacha os filhos, por uma semana, para algum rincão norte-americano de mala e cuia. Aficionados por tecnologia, de início, os adolescentes estranham a vida pacata do campo, a hora de dormir estipulada por aquele casal de velhinhos excêntricos e a dificuldade de usar um simples celular. Até que, em busca de algo para preencher o tempo, eles resolvem produzir um documentário usando a filmadora e o notebook de Becca. O objetivo final, na verdade, é promover a reconciliação da mãe com os avós através deste vídeo.

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Assim como nos demais filmes de Shyamalan, nem tudo é o que parece. As filmagens do documentário amador e a convivência diária com John e Doris vão, aos poucos, levando os jovens a perceberem que existe algo de estranho naquela pacata residência. E é aí que está o maior mérito do longa de número doze na carreira do indiano: apesar de sabermos de antemão que ele apresentará uma virada perto do fim, ela é diferente de tudo o que já foi feito em outras oportunidades pelo diretor. O caminho até a solução do mistério era longo e um roteiro mal estruturado poderia levar o público a perder o interesse, mas isto também não acontece. A trama, bem engendrada, prende a atenção e conduz os espectadores à surpresa derradeira. Sem querer tecer nenhuma comparação mais profunda, o modo como as pistas são jogadas durante toda a história é parecido com a de “O Sexto Sentido” (1999).

Entre aspectos positivos e negativos, o filme prima pelos protagonistas juvenis. O cineasta prova, mais uma vez, seu acerto na hora de escolher jovens atores. Depois de Halley Joel Osment, agora, é a vez de Olivia DeJonge e Ed Oxenbould esbanjarem carisma na telona. Juntos, eles têm ótimos momentos em cena, alguns deles gerados pela intimidade e a exposição proporcionada pela lente da câmera amadora de Becca. Há uma cena sensacional, em que ela vai as lágrimas ao ser filmada pelo irmão e obrigada a fazer uma confissão. Aspirante a cantor de rap, Tyler arranca boas risadas ao trocar, em suas músicas, palavrões por nomes de artistas da moda. E já que falamos em risos, um problema chato é o fato que, em alguns momentos, nem tanto por causa das tiradas deste personagem, as risadas são mais numerosas do que os sustos em um dito filme de terror. Neste ponto, é nítido que Shyamalan não soube calcular a dose.

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A Visita chega aos cinemas como um bom presságio. Apesar de não o vermos em cena, desta feita não há ponta como médico, traficante ou guarda, características do velho realizador de outrora, que arrebatou milhões de fãs pelo mundo todo no final da década de 90, estão presentes. Faltou um pouco mais de suspense, elemento que certamente sucumbiu aos muitos momentos de humor da obra, e a mesma câmera que propicia a ótima cena envolvendo os dois irmãos é exaustivamente usada a ponto de emular filmes como “Bruxa de Blair” (1999) ou “REC” (2007), referências de um estilo que já perdeu o viço e está cada vez mais cansativo. Se não fossem por estas questões, o resultado seria melhor e a nota também.

Desliguem os celulares e boa diversão.

FICHA TÉCNICA:
Direção e roteiro: M. Night Shyamalan.
Produção: Marc Bienstock, Jason Blum e M. Night Shyamalan.
Elenco: Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Kathryn Hahn, Deanna Dunagan, Peter McRobbie, Benjamin Kanes, Celia Keenan-Bolger, Jon Douglas Rainey, Brian Gildea, Shawn Gonzalez, Richard Barlow, Steve Annan, Erica Lynne Marszalek, Shawn Gonzalez e Michael Mariano.
Trilha Sonora: Paul Cantelon.
Direção de Fotografia: Maryse Alberti.
Montagem: Luke Franco Ciarrocchi.
Duração: 94 minutos.
País: Estados Unidos.
Ano: 2015.