Ao Seu Lado
Crítica do filme
Então você se casa, pois era o que deveria ter feito e o fez. Constrói uma família perfeita e tem uma profissão estável. Agora é só esperar a vida seguir seu rumo e aguardar o fim. Sim, o cotidiano é massante e logo não tarda para se rebelar quanto a profissão não sonhada. O desejo de construir uma família não era tanto e você nem sabe muito bem como foi parar ali. Mas todos invejam a solidez do seu casamento. Ninguém percebe que você foi enclausurado pelas decisões tomadas ao seguir o fluxo dos acontecimentos.
O filme Paixão Inocente, um drama independente dirigido pelo norte-americano Drake Doremus, toca nessa questão nada banal e seu enredo nos faz lembrar “Beleza Americana”. Os elementos de insatisfação pessoal, desmantelamento da família classe média norte-americana, o amor romântico e paterno, a sexualidade, a beleza, o materialismo, a alienação, a libertação pessoal e a resignação mais redenção, estão presentes. E se pode dizer que a principal diferença entre as produções citadas é que a idade não foi uma questão a ser debatida.
Assim, temos um homem frustrado em crise de meia idade Keith Reynolds (Guy Pearce), sua mulher Megan Reynolds (Amy Ryanque), que vive em função da família, Lauren Reynolds (Mackenzie Davis), a adolescente insegura e como toda menina de sua idade fazendo escolhas erradas e o elemento desestabilizador – Sophie (Felicity Jones), a estudante europeia de intercâmbio, pianista profissional, inocentemente sexy. Sua estadia na casa da família será o ponto de ruptura e exposição de que a solidez do casamento mais a felicidade doméstica não eram tão reais quanto pareciam.
Keith dá aulas de música em uma escola secundária, num subúrbio de Nova York. Ele é um cara frustrado por ter abandonado a carreira como músico, mas ainda toca na Orquestra Sinfônica de NY, um trabalho de meio período. Sophie é dotada de talento musical admirável para idade. Guy insiste para que ela faça as aulas de música na escola com ele, o que não faz sentido, já que ela deve saber que é muito melhor do que ele musicalmente falando. Sophie resolve frequentar as aulas, pois obviamente tem interesse em se aproximar dele. Antes disso, já se sabe da existência da atração entre os dois. Nas primeiras cenas de sua chegada na casa da família Reynolds, o clima entre eles é sentido. No entanto, Keith só é fisgado após Sophie executar ao piano uma peça de Chopin, a pedido dele, na aula de música – uma veterana sem dúvida.
A direção de Doremus é insossa e chata. Tentou passar o nervosismo do protagonista em estar atraído pela jovem estudante com uma câmera trêmula, mas só acerta na cena em que ela o ajuda num exercício de respiração. É o único momento que se vê realmente tensão entre os dois. Guy Pearce (“Amnésia”) tem boa performance, Jones começa com sua personagem envolvida em certo mistério, acertando no tom, mas desanda no final. Mackenzie faz boa participação. Pena que o roteiro não explorou seu personagem, muito menos aprofundou os demais. De que adianta despertar sonhos, ir atrás deles, conseguindo o que se queria, mas não usufruir de tudo isso?
Paixão Inocente cansa, pois além de não apresentar nada de novo, seu desfecho deixa a desejar. Faltou criatividade e ousadia ao explorar um tema já tão batido. Fica sendo mais do mesmo. Doremus preferiu não correr riscos e apresenta-nos o previsível ao final.
BEM NA FITA: Sempre é bom lembra que há tempo de mudar as coisas, o que falta é coragem. O filme demonstra isso sem se prender num arquétipo moralista.
QUEIMOU O FILME: Direção sem criatividade ou ousadia. Personagens pouco explorados, mais do mesmo. Se enfiou a faca, então deveria tê-la girado.
Confira o trailer:
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FICHA TÉCNICA:
Título original: Breathe In
Direção: Drake Doremus
Roteiro: Ben York Jones e Drake Doremus
Elenco: Guy Pearce, Felicity Jones, Amy Ryan, Mackenzie Davis
Produção: Jonathan Schwartz
Gênero: Drama
Duração: 98 min
País: EUA
Ano: 2013