Parece que com os memes, os vídeos, gifs e montagens, decorrentes da ascensão da internet, a cultura de se contar piadas está sendo extinta. É raro, numa roda de amigos, alguém se propor a contar a história do “Joãozinho”. Ainda assim, é possível encontrar bons contadores de piada, ou Piadeiros, como o título do documentário diz.

Dirigido por Gustavo Rosa de Moura, o documentário acompanha este e sua equipe de filmagens em uma viagem por várias regiões do Brasil – e em Portugal – buscando por piadeiros, pessoas famosas em suas respectivas regiões por contarem boas piadas.

Durante o documentário, é possível acompanhar figuras tradicionais do campo e do interior do Brasil. A ideia aqui foi esquecer as grandes metrópoles e centros urbanos e partir em busca de terras “esquecidas” e cidades interioranas. Ainda assim, a equipe conseguiu passar por todos os nossos 5 territórios, e obviamente, é perceptível a diferença no uso da linguagem e na forma como as histórias são contadas.

A relação com a piada difere de um pra outro. Cada um a enxerga de um jeito: uns, apenas gostam de contar; outros, ao se verem sendo filmados, se acanham e não conseguem contar suas anedotas; já alguns, são fanáticos e colecionadores. Em determinado momento do longa, um motorista conta com um ar melancólico que sempre que ouvia uma piada, a anotava em um caderno, mas que com uma enchente, esse caderno foi perdido.

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A partir das piadas contadas, é possível observar machismo e homofobia, ainda que não haja piadas racistas, como pontua Moura. Assim, apenas deixando as piadas rolarem, o desconforto causado ao ouvir algumas piadas é notável, não pela piada em si, mas pelo atraso, pelo qual várias pessoas que não possuem informação ou contato com a diversidade estão sujeitas a ter. E não só isso: nos cortes finais, uma mesma piada é contada por piadeiros de todas os locais documentados, porém, com algumas alterações a fim de provocar uma região “rival”, mostrando que a piada passa de uma região pra outra por conta da tradição oral da mesma.

E sim, as boas piadas estão lá e são engraçadíssimas. Porém, a estrutura do documentário é repetitiva: Moura e sua equipe chegam em uma cidade desconhecida do país, procuram por um piadeiro, pedem informação pra um conhecido desse piadeiro, perguntam se ele é engraçado, chegam até o piadeiro, deixam a câmera estática com ele contando a piada e … próxima cidade. Ainda que o documentário tenha 90 minutos, essa repetição soa cansativa ao telespectador, já que não existe novidade, além das piadas.

Lançando um olhar sem julgamentos à cultura regional brasileira, Moura não só perde aqui uma boa oportunidade de levantar tabus da sociedade brasileira como um todo ao reduzir seu documentário a um filme de piadeiros, como realiza um filme enfadonho por culpa de sua repetição excessiva.


FICHA TÉCNICA

Título Original: Piadeiros

Gênero: Documentário/Comédia

Direção: Gustavo Rosa de Moura

Roteiro: Gustavo Rosa de Moura

Produção:  Carmem Maia, Giulia Setembrino, Gustavo Rosa de Moura

Ano: 2015

País: Brasil