Ingrid Bergman dá saudade. É estranho falar assim, mas a protagonista de Casablanca (1942), Notorious (1946), Stromboli (1950) e Sonata de Outono (1978) deixou uma marca no Cinema por vários motivos e é impossível esquecê-la. A atriz que morreu há mais de 30 anos ultrapassa sua filmografia e comprova sua relevância em obra e vida. Este documentário lindo e íntimo de Stig Björkman nos aperta o peito.

Eu Sou Ingrid Bergman (Ingrid Bergman – In Her Own Words) traça a biografia da atriz a partir de suas cartas, filmes familiares e diários, trazendo um olhar subjetivo, de alguma maneira dando voz a quem não mais podemos ouvir. É uma forma que parte do íntimo para mostrar o todo e sair do modelo entediante da cronologia rasa. Ingrid viveu uma vida plena e intensa, se reconstruindo sempre que achava necessário e com as duras consequências de suas escolhas. Nascida em 1915 na Suécia e órfã aos 12 anos, iniciou sua carreira aos 20, sempre buscando algo além da mera exposição da beleza, entendendo a arte como uma forma de viver.

O star system americano, esse que molda o elenco, forjando a ferro e fogo suas personalidades também o fez com ela. Ingrid faz parte daquele Olimpo de grandes e inalcançáveis estrelas, com a aura mística da era de ouro. Ela conseguiu ultrapassar esta construção artificial dos grandes nomes e garantiu seu espaço em uma carreira internacional. Ao escolher Roberto Rossellini como o novo amante e depois marido, foi julgada por uma Hollywood invasiva e convencional. Adúltera, quebra o padrão de comportamento da época, é quase banida dos Estados Unidos e decide viver na Itália. Na América dos anos 50, as liberdades eram privilégio masculino e imagina-se o perigo de uma mulher adorada por todos, servindo de modelo feminino e imaginário masculino, tomar a dianteira de sua vida e romper o casamento.

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Além da história com Rossellini, que lhe deu mais 3 filhos além da que já tinha do primeiro casamento – entre eles, a atriz Isabela Rossellini – outros homens de peso passaram por sua vida e um deles foi Robert Capa. O celebrado fotógrafo de guerra pode ter sido a primeira grande paixão da atriz e a certeza de que seu casamento não teria força suficiente para ser de vida inteira. Ela viveu seus romances, deixando aos maridos boa parte da responsabilidade sobre os filhos, tentando conciliar uma vida de mulher, mãe e, primordialmente, atriz.

Talvez seja neste aspecto que o filme peque um pouco, por nos deixar querendo ver mais sobre sua vida profissional, além do retrato pessoal. O que apreendemos aqui é sua avidez, a luta por seus papeis, o encontro com os diretores geniais do mundo – Rossellini, Hitchcock, Renoir, Curtiz, Bergman, Lumet, mas ainda superficialmente demais, não satisfazendo nossa curiosidade. Quase não ouvimos muito sobre seus trabalhos, à exceção de algumas curtas entrevistas com Liv Ullman e Sigourney Weaver, algumas falas da própria Isabella e os encontros finais com Ingmar Bergman – para Sonata de Outono – nos deixam sedentos e ansiosos. O processo criativo dos grandes artistas é sempre interessante de visitar.

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Em suas correspondências há muito da vida familiar, surpreendentemente, e ansiedades quanto aos projetos, mas nada detalhadamente sobre eles. É um ponto fraco do filme, que poderia ser o definitivo sobre a atriz, mas opta pelo percurso íntimo, sublimando a carreira. Esta opção nos regala com o que não costumamos ver, é bem verdade, e nos aproxima de sua protagonista, evidenciando sua humanidade, a tornando ainda maior, mas não dá o devido peso que a tornou grande para o mundo, sua qualidade e experiência enquanto atriz.

A graça maior, que retoma a importância desse documentário, é vê-la nos filmes de família, reencontrando sorrisos em contraste com os densos personagens que fez. Vê-la à vontade e ouvir suas cartas e diários é sempre um presente para a cinefilia e seus seguidores. O que falta aqui traz de volta a nostalgia e a vontade de revê-la, buscá-la em sua filmografia, confirmando sua importância para o Cinema e tentando entender porque este sim, sempre foi seu grande amor.

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Documentário
Direção: Stig Bjorkman
Roteiro: Stig Bjorkman
Elenco: Ingrid Bergman, Isabella Rossellini, Liv Ullmann, Roberto Rossellini, Sigourney Weaver
Produção: Stig Bjorkman
Fotografia: Malin Korkeasalo
Montador: Dominika Daubenbuchel
Trilha Sonora: Mario Adamson
Duração: 114 min.
Ano: 2015
País: Suécia
Cor: Colorido
Estreia: 24/12/2015 (Brasil)
Distribuidora: Zeta Filmes
Estúdio: Chimney / Mantaray Film
Classificação: 10 anos