Ao Seu Lado
Crítica do filme
A essa altura da vida, você provavelmente já ouviu falar no WikiLeaks. Se não conhece, farei um breve resumo sobre o que é: um site criado em 2006 pelo australiano Julian Assange, que visava postar informações confidenciais dos governos e empresas do mundo todo, sempre sobre algum assunto sensível e sempre preservando o anonimato de suas fontes. Em 2010, o site postou imagens de um helicóptero Apache norte-americano atirando e matando 12 pessoas em Bagdá, incluindo dois repórteres da agência de notícias Reuters. O site já incomodava e esse foi o estopim que fez com que Assange fosse uma das pessoas mais perseguidas do planeta.
Em 2019, após ficar sete anos exilado na embaixada do Equador no Reino Unido, Julian Assange foi preso e teve que esperar o julgamento de sua extradição para os Estados Unidos, que ocorreria após nove meses desse fato. A partir daí, acompanhamos o pai de Julian, John Shipton, e sua mulher, Teresa Assange, começando uma batalha pela libertação de seu ente querido. Com isso, eles viajam o mundo atrás de aliados que possam ajudar na causa de um homem que fez apenas o seu trabalho, enquanto os culpados pelos crimes hediondos, dos quais denunciou, não são nem questionados.
O filme começa com uma frase que de cara me chamou a atenção. Parafraseando ela, diz algo como: “a tortura é mais efetiva se ela for vista por outras pessoas“. Resumindo, pegue alguém como exemplo e mostre para outras pessoas o que pode acontecer com elas caso façam a mesma coisa. Na hora não fez tanto sentido, mas aos poucos vamos entendendo. Julian é aquele famoso bode expiatório. A pessoa que foi escolhida para ser sacrificada. Afinal, tudo o que foi noticiado foi através de jornais grandes e famosos com a ajuda da WikiLeaks, mas somente ele foi caçado.
Claramente isso se torna um ato de covardia gigantesca, quando temos a maior nação do mundo querendo a extradição de apenas uma mísera pessoa que atuou de acordo com sua profissão. Ao trazer a verdade para as pessoas, assinou praticamente um termo de condenação. Esse precedente se torna maior ainda quando pensamos que a liberdade de expressão através do jornalismo está fadada a sucumbir quando vemos essa perseguição. Voltando ao parágrafo anterior, isso meio que fica de aviso a qualquer jornalista que queira se aventurar por esse caminho.
Nele, não acompanhamos o Julian Assange porque ele ainda continua preso, mas recebemos notícias de seu estado físico e mental. Se me abala, imagina a seus familiares. Acompanhar do lado de fora os desdobramentos desse caso me deu um alívio por não ser comigo, mas deixa a gente pensar como podemos perder uma vida inteira com uma injustiça. É cruel demais e isso afeta seus familiares de forma que eles parecem querer desistir de tudo. Esse é um documentário duro que fere claramente a liberdade de expressão e que nos dá um sentimento de que mesmo que estejamos certos, essa justiça nunca chegará.
Ithaka: A Luta de Assange é mais um ótimo documentário com uma história bem atual e que continua enquanto escrevo essa resenha. Não temos um final clássico. Batalhas são ganhas, mas a guerra continua e pelo jeito ainda está longe de acabar. Esse é um gênero que, para mim, dificilmente decepciona. Só por isso minha recomendação se torna mais do que obrigatória. Procurar sobre o caso depois de assisti-lo também vai enriquecer mais ainda esse conteúdo.
Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso que fala sobre Cultura Pop:
Aliás, vai comprar algo na Amazon? Apoie, então, o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link:
Título original: Ithaka
Direção: Ben Lawrence
Roteiro: Ben Lawrence
Onde assistir: Cinemas
Data de estreia: 31 de agosto de 2023
Duração: 106 minutos
País: Austrália e Reino Unido
Gênero: Documentário
Ano: 2021
Classificação: –