Ao Seu Lado
Crítica do filme
Paul (Jean Reno), um senhor machista e grosseirão, produtor de azeite, ex-motoqueiro e com problemas com bebida, recebe de surpresa em sua casa no sul da França os netos adolescentes para passarem o verão. Por um desentendimento com a filha no passado ele se afastou da família, porém, quando a mesma passa por um processo de divórcio complicado com o pai das crianças, a avó esperta e conciliadora decide levar os netos a contragosto de todos para conhecer o avô. E é assim que se constrói o longa Meu Verão na Provença.
O choque de gerações entre o idoso e os dois adolescentes é o que faz do filme tão interessante. Paul é um velho que ficou careta, parado no tempo no interior de um dos países mais agitados do mundo, sem tecnologias, sem amigos, entretido apenas com sua plantação de oliveiras, preso a teimosias típicas da idade. Os adolescentes Léa, Adrian e o pequeno Theo são os responsáveis por trazer os ventos da mudança a vida de Paul, ao mesmo tempo que os ventos do sul da França mudam as suas vidas e os levam a crescer. Logo que chegam, a perspectiva de ficar sem sinal de celular desespera-os. Nos pontos onde há sinal, os adolescentes falam com os pais por Skype, acessam o Facebook e questionam o fato do avô não ter um perfil. Questionam a irrigação da horta não ser mecanizada, reclamam da falta de comida orgânica e se recusam a comer carne (pois são vegetarianos). São os costumes, vícios e modismos do mundo moderno adentrando o interior tradicional da França com a irreverência (e também teimosia) dos adolescentes.
Os embates entre os dois lados vão flexibilizando os personagens e divertindo o espectador, aos poucos os adolescentes vão curtindo a vida do interior e as novas experiências (festivais, música animada, paquera) e o senhor Paul vai entendendo que a tecnologia e a vida em família tem suas vantagens. São dois meses de férias, o que permite que muita coisa aconteça; num dos melhores momentos do filme, Adrian cria um perfil no Facebook para o avô, permitindo que amigos do passado o encontrem pela internet. Os amigos aparecem para uma visita surpresa e dessa forma o passado aventureiro de Paul vem a tona, o movimento hippie, as viagens de moto, a temporada na Índia, a vida livre e fluida da juventude que os netos até então não conseguiam enxergar no velho.
Os cenários naturais do filme são magníficos e é bonito de ver o tal vento mistral (que dá o titulo original ao filme, Avis de Mistral) soprando pelas paisagens verdejantes da Provença. O vento é significativo (e o roteiro amarradinho) pois ele é o responsável pela polinização das oliveiras que são tão importantes para Paul produzir seu azeite. Esse clima solar perpassa o filme todo trazendo leveza e bom humor para o verão dos personagens.
O filme só peca na visão machista de mulher que é passada através da personagem adolescente Léa, que num diálogo ingênuo com a avó fala sobre perder a virgindade “com o cara certo”, e que é tapeada por um bonitão e consome drogas com ele como se não soubesse o que está fazendo. Nesse mesmo filme, seu irmão Adrian é mostrado sem roupas no banheiro com duas mulheres ao mesmo tempo que acabou de conhecer na rua. Essa ideia pueril de mulher ingênua é antiquada, e bate uma frustração grande ao saber que tal ideia vem de uma diretora. Porém, as outras personagens femininas do filme não deixam esse barco naufragar.
É o segundo filme de Reno com a diretora Rose Bosch, mostrando que tal parceria tem funcionado bem. A trilha sonora moderninha inclui Coldplay, Cat Power, Guns’n’Roses e Deep Purple entre outros, e contribui positivamente para o clima leve e delicado do filme. É um filme sobre o tempo que passa mas que é sempre o mesmo, pois a vida está sempre no presente, e o tempo de amar, se reconciliar e aproveitar é um só: agora.
FICHA TÉCNICA
Gênero: Comédia Dramática
Direção: Rose Bosch
Roteiro: Rose Bosch
Elenco: Anna Galiena, Aure Atika, Charlotte De Turckheim, Chloé Jouannet, Fabien Baïardi, Hugo Dessioux, Hugues Aufray, Jean Reno, Jean-Michel Noirey, Joris Zapiain, Laurent Fernandez, Lukas Pelissier, Oussama Abassa, Rodolphe Saulnier, Tom Leeb
Produção: Alain Goldman
Fotografia: Stéphane Le Parc
Montador: Samuel Danési