Ao Seu Lado
Crítica do filme
Quando surgiram os boatos de que o diretor Carlos Saldanha (Rio, O Touro Ferdinando) e o ator Marco Pigossi (A Força do Querer) estariam envolvidos numa série com personagens do folclore brasileiro para a Netflix, a expectativa foi grande. Isso porque o cineasta era reconhecido pela qualidade de suas produções. Por outro lado, Pigossi já havia iniciado uma carreira internacional na série australiana Tidelands.
Mas o temor de ver personagens toscos e infantilizados como tanto se vê nos filmes e séries sobre contos de fadas certamente passou pela cabeça da maioria. Afinal, Saldanha provavelmente estaria mais propenso a adotar o tom mais leve que ditou sua carreira.
Felizmente, os roteiristas envolvidos são Raphael Dracoon e Carolina Munhoz. Tratam-se de aclamados escritores da trilogias literária Dragões de Éter e Por Um Toque de Ouro, respectivamente. Além disso, já foram “experimentados” na série O Escolhido, também da Netflix.
O resultado foi Cidade Invisível, uma trama de mistério da Netflix em que o agente da polícia ambiental Eric (Pigossi) encontra um boto cor de rosa morto em uma das praias do Rio de Janeiro. No entanto, ele acaba abismado de ver o animal dar lugar ao falecido Manaus (Victor Sparapane), habitante de uma comunidade de pescadores acossada por uma grande empresa imobiliária e na qual a esposa do policial teve uma morte aparentemente acidental.
Então, no decorrer da investigação, ele é seguido e seduzido pelos peculiares frequentadores do bar de Inês (Alessandra Negrini). Isso porque eles sabem exatamente porque o boto virou homem e introduzem Eric em outra comunidade bem mais antiga e com a qual ele tem uma insuspeita ligação.
A narrativa em seis episódios delineia muito bem o assédio da grande corporação e a necessidade de preservar a floresta. Esta, por sua vez, já não é mais habitada pelas entidades folclóricas, forçadas a sobreviver na selva urbana. Mas ainda é a única opção digna para os ribeirinhos.
E já que não podem expor suas formas naturais, eles têm que se adaptar. Assim, usam próteses, cobrem-se da cabeça aos pés ou cantam para o público de Inês, a Cuca. Aqui, uma temida protetora das entidades e seus segredos.
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Os efeitos visuais, usados de forma orgânica pra contar a história, são um primor pra esse tipo de produção. Dão um ar natural que, além de encher os olhos e alcançam a tão almejada suspensão de descrença pra estabelecer um mundo à parte do nosso. Especialmente no que se refere aos poderes da Cuca, do Saci e do aterrorizante Curupira.
O elenco também cumpre com sucesso os seus papéis. Pigossi interpreta um soturno policial sem tempo pra filha. Já Alessandra Negrini dá um show naquele ar doce e voz suave que fazem um rebuliço na cabeça dos outros, bem como Fábio Lago e suas feições marcantes. Já outros poderiam ser mais bem aproveitados. Por exemplo: a parceira policial de Áurea Maranhão ou o grande (literalmente) Jimmy London. Mas isso poderia prejudicar a duração e a quantidade de capítulos.
E são episódios em quantidade e duração certeiras para que Cidade Invisível, da Netflix, não seja perfeita, mas estabeleça desde já uma identidade genuinamente brasileira com uma necessária mensagem de teor ecológico.
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Título original: Cidade Invisível
Temporada: 1
Data de estreia: sex, 05/01/2021
Criação: Carlos Saldanha
Elenco: Alessandra Negrini, Marco Pigossi, Julia Konrad, Jéssica Córes, Jimmy London, Wesley Guimarães, Victor Sparapane
Onde assistir: Netflix
País: Brasil
Idioma: Português
Gênero: fantasia
Ano de produção: 2021
Classificação: 16 anos