O livro Dual demonstra em suas páginas sentimentos transformados em poesia como forma de expressão de duas realidades conflitantes, que receberam os pseudônimos de Sucre e Bitter, dois extremos que vão da ideologia fantasiosa à amargura do cotidiano metropolitano.  A autora, com sua paixão pelos animais, principalmente pelos cavalos, usa a mistura dos sentimentos para expressar a saudade da liberdade que a vida no campo a proporcionava. Entre esses sentimentos, encontram-se os seus medos e as suas dúvidas e questões existenciais, além disso, observa e ressalta criticamente a vida moderna, na qual estamos submetidos, a dependência dos aplicativos, das redes sociais e da comunicação virtual, que dispensa o contato e o convívio mais humanizado.

São muitas as críticas, as reflexões, os pontos de vista e o saudosismo. A coletânea de poesias é livre e contrastante. Livre porque não segue um padrão, uma pode ocupar uma página inteira, outra, por sua vez, apenas uma linha. Todavia, a importância de cada composição está naquilo que a compõe: o sentimento, a rima (ou não), a versificação, a verdade, a reflexão, o medo, a segurança e a dúvida ou a certeza expressa pelo eu lírico.

A coletânea gera uma reflexão por refutar questões e sentimentos que estão dentro de nós, como o ônus gerado pelo orgulho, a busca do sucesso profissional – que traz muitos prejuízos, pois é sempre necessário abrir mão de algo – o resgate de sonhos antigos, mas não esquecidos, e a luta incessante para equilibrar a necessidade/obrigação e o bem-estar, que corresponde à paz de espírito e é aquilo que nos deixa feliz e que efetivamente nos faz bem.

A poesia “Aos cavalos” se destaca, pois nela existe uma crítica à vida metropolitana, na qual se é obrigado a aturar os “risos forjados” por uma convivência profissional e social e o elevado ego das pessoas que fazem parte desse cotidiano no qual os cérebros são moldados para determinados fins, como destaca a autora.  Além do mais, exprime, por meio das críticas e dos elogios, um enorme desejo de regresso ao campo, aos animais, mais especificamente aos cavalos, e a liberdade que esse cenário representa para o eu lírico. O sentimento e as comparações entre o lugar que se deseja regressar e o lugar que se está lembra muito a Canção do Exílio, de Golçalves Dias, que por meio de seu afastamento eleva as qualidades e o sentimento de saudade do seu lugar ideal e deseja fortemente regressar para esse lugar e reencontrar o que fora deixado para trás. O exílio do eu lírico representa a mudança de ambiente ao qual ele foi “forçado” a aceitar, além disso, simboliza a obrigação, a rotina e o rumo que as coisas tomaram a partir dessa migração do campo para a cidade.

Dual é um livro pequeno, mas de grande impacto subjetivo, pois leva à reflexão acerca da vida cotidiana e da vida fantasiosa, contrastando e aproximando-as simultaneamente. A coletânea é, sem dúvidas, ideal para pessoas que vivem numa rotina metropolitana (a maioria), pois se trata de uma leitura rápida e de fácil compreensão, além de ser uma ótima oportunidade de melhorar a reflexão sobre a vida, a felicidade, a paz e a obrigação.