Sabe aquela viagem que você faria com seu pai? Essa não é aquela! Mas pode vir a ser quando Laura começa a conseguir resolver seus conflitos internos e aceitar que a vida possui caminhos tortos para levar ao seu veredito. Limites (Boundaries) é uma road trip repleta de emoções, encontros e desencontros, conflitos e discussões, e abordagens de temas familiares, que, tirando as partes mais irresponsáveis – e talvez impossíveis de acontecer de tão dramáticas ou satíricas que possam parecer -, acaba tratando das relações familiares que podem abranger a vida do espectador, retratada de maneira mais exagerada e caricata, mas que fará todo mundo se encontrar dentro dos conflitos.

Oscar 2019 | ‘O Grande Circo Místico’ é o escolhido do Brasil: entenda o motivo

A diretora Shana Feste trabalha com luz natural de grandes espaços abertos e a beleza natural de paisagens ao longo da estrada à beira-mar. Planos fechados nos rostos dos atores e câmera tremida durante os conflitos intensos para trazer proximidade ao espectador. A narrativa está disposta a sacrificar a verossimilhança em nome do humor, que, às vezes, pode soar um pouco forçado. O filme prefere se situar no limiar da fábula, das análises subjetivas, inclusive demonstradas em seu início, onde a personagem se encontra com a terapeuta. E toda essa composição deixa o longa bem poético, gerando empatia.

Obra de Quentin Tarantino é tema de curso do Estação NET Botafogo

Limites começa no consultório de uma terapeuta, onde Laura (Vera Farmiga) fala sobre seus problemas familiares e acredita não precisar mais de aprovação do pai que a abandonou há muitos anos. A terapeuta, então, pergunta por que ela trouxe um animal em seu consultório e relaciona essa “mania” de colecionar animais com seu pai. E, assim, o filme segue contando sobre sua vida pessoal, sua casa repleta de animais resgatados e um filho com problemas na escola. Mãe solteira, ela não sabe o que fazer com o jovem adolescente (Lewis MacDougall), que tem a orientação da direção do colégio de que ele deveria ir para uma escola destinada a pessoas especiais.

Clássico ‘Metrópolis’ será exibido com trilha sonora ao vivo em comemoração aos 50 anos do Cine Arte UFF

Não bastasse todos esses problemas citados, o pai idoso (Christopher Plummer) ainda é expulso do asilo. Quando ele alega que deseja estreitar laços com sua filha, conhecê-la melhor, apelando para o emocional. Indignada, ela tenta “jogá-lo” para viver com sua irmã, que aceita, porém, propõe que ela o leve de carro para que todos possam estar juntos, já que não se veem há muito tempo. É aí então que começa a real proposta do filme. Durante todo o percurso acontecem as maiores intempéries que se poderiam imaginar. O pai, a filha e o neto atravessam o país de carro, junto com cães, que, assim como eles, são excluídos e estão a mercê da sociedade.

ENTREVISTA | “O Doutrinador é uma espécie de niilista”, diz criador do personagem sobre adaptação para cinema e TV

Foto: Sony Pictures / Divulgação

Limites aposta no conceito de produções independentes, mesmo com elenco renomado, e adota um tom ácido, satírico, mas, ao mesmo tempo, agridoce, criando uma série de peripécias e situações inusitadas no caminho pela estrada, alternando longas discussões com doces e ternas reconciliações. “A família é tudo o que importa”, menciona uma personagem em certa altura da trama. E o filme afirma isso o tempo todo: deixar de lado as diferenças, se abrir para reconciliações, pois a família deve permanecer unida, independente de discórdias É um longa-metragem dramático, com um roteiro, por vezes, arrastado e maçante, mas que tem quebras com um leve humor.

CRÍTICA | Debochado, ‘O Banquete’ questiona se políticos não são um reflexo da sociedade

Temos a grande alegria de ver rostos conhecidos como Christopher Loyd, Bobby Cannavale e Peter Fonda em participações especiais. Ainda há no elenco Kristen Schaal, que interpreta a outra irmã (ou filha, dependendo do ponto de vista), Yahya Abdul-Mateen II, que faz o papel um amigo que quer sair com Laura. Ambos trabalham juntos com a personagem de Dolly Wells, que é sua chefe na trama. Os dois personagens são inseridos de maneira estranha e parecem deslocados na história, apesar de ser para demonstrar o quanto ela é insegura e está insatisfeita com seu trabalho e a vida pessoal. Os animais são tão fofos que também servem de alivio cômico para cenas que são bem dramáticas.

CRÍTICA | ‘Hotel Artemis’ tem muito potencial, mas se perde no meio do caminho

Foto: Sony Pictures / Divulgação

Em determinadas cenas, podemos encontrar referências interessantes. Uma delas com relação ao último trabalho da atriz: “Bates Motel”. Laura fala pra seu filho que ele poderia ser veterinário por gostar tanto dos animais e ele responde “ou Taxidermista” (profissão que o filho da personagem da atriz na série exerce).

CRÍTICA | ‘O Paciente: O Caso Tancredo Neves’ nos lembra de quando tínhamos fé no futuro

Limites trata sobre colocar para fora o que se sente, diluir situações antigas, onde todo mundo tem seu calcanhar de Aquiles, e, por isso, não pode julgar o outro. Além do ar de ternura representado pela adoção de animais, o longa marca pela frase citada por Laura quase no fim da trajetória que carrega todo o apelo e contexto emocional da trama: “os animais fazem mais por mim do que eu por eles, que, na verdade, só dou comida”.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Boundaries
Direção: Shana Feste
Elenco: Vera Farmiga, Christopher Plummer, Lewis MacDougall
Distribuição: Sony
Data de estreia: qui, 13/09/18
País: Canadá, Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Classificação: 16 anos