Ao Seu Lado
Crítica do filme
Mais uma vez, o diretor Larry Clark fala de sexo, drogas e skate entre os jovens
Em 1995, o diretor e roteirista americano, Larry Clark, lançava seu primeiro e polêmico filme, “Kids” (idem). A polêmica girava em torno não só da temática, como também da forma narrativa que Clark usou para as filmagens. Um grupo de jovens adolescentes de Nova York usando drogas, fazendo sexo e praticando vandalismo. Tudo isso numa composição de imagens com um tom narrativo semelhante ao de um documentário, o que provocou um forte impacto das cenas filmadas. Alguns dos atores daquela época, sequer havia atuado e outros estavam em suas primeiras experiências, tais como Rosario Dawson e Chloë Sevigny. Inclusive, aconteceu, há pouco tempo, uma sessão comemorativa de 20 anos do filme, que reuniu todos os membros da equipe.
De “Kids” para cá, Clark permaneceu sempre sob o mesmo enfoque temático: jovens, skate, sexo e drogas. E “O Cheiro da Gente” (The Smell of Us, 2014), a sua mais recente produção, não foge à regra. Sendo que, dessa vez, a escolha da cidade como pano de fundo da história é Paris. Na abertura do filme vemos a cena de um mendigo (o próprio Clark) deitado no chão, ao som de um violão tocado em ritmo de blues, por um outro morador de rua (Michael Pitt). Diversos garotos de skate pulam por cima do mendigo, que permanece deitado e aos poucos vai se movendo. O roteiro se desenvolve de forma a introduzir o público na trama. Iniciando pelo ambiente que esses jovens vivem, com cenas de sexo, uso de drogas e o comportamento agressivo, como já mostrado nos filmes anteriores de Clark.
Os personagens vão surgindo aos poucos, e vamos percebendo que Math (Lukas Ionesco) e JP (Hugo Behar-Thinières), prestam serviços como garotos de programa. JP parece estar bem resolvido em relação a escolha que fez, porém Math fica totalmente apático enquanto faz sexo com seus clientes, que são homens mais velhos. E Clark aparece novamente em cena, como um dos homens que querem fazer sexo com Math. O olhar da câmera é como o olhar de Math, apático e que apenas observa o dia-a-dia desse grupo de jovens, que apresenta uma indiferença total em relação à família, escola ou qualquer outra coisa que lhes possa parecer impositiva. A família não consegue estabelecer nenhum tipo de conexão com seus filhos e a escola está completamente à margem de tudo que se passa entre eles.
Um dos personagens está sempre gravando com um celular ou com uma pequena câmera toda a movimentação do grupo. E essas imagens, aparentemente, também são usadas para compor o filme. Em uma determinada cena, um dos meninos pergunta por que esse outro grava o tempo todo tudo o que eles fazem. E essa também poderia ser a pergunta que o próprio diretor faz a si mesmo. E se não o faz, talvez assim o devesse.
Outros diretores já tiveram suas fases de abordar as dores e angústias da juventude no cinema, desde François Truffaut com “Os Incompreendidos” (Les quatre cents coups, 1959), passando por Francis Ford Coppola, com “Vidas Sem Rumo” (The Outsiders, 1983), até Gus Van Sant, com “Elefante” (Elephant, 2003). Porém, todos partiram para outros temas e construíram novas narrativas. Larry Clark é um diretor e roteirista talentoso, contudo, precisa urgentemente sair em busca de novos ares. Afinal, uma coisa é manter um estilo narrativo e temático, outra é se tornar extremamente repetitivo.
FICHA TÉCNICA
Direção: Larry Clark
Roteiro: Larry Clark, Mathieu Landais
Elenco: Lukas Ionesco, Diane Rouxel, Théo Cholbi, Hugo Behar-Thinières, Larry Clarke
Produção: Polaris Film Production & Finance, Morgane Production, Polyester
Fotografia: Hélène Louvart
Duração: 92 min
Ano: 2014