Ao Seu Lado
Crítica do filme
Finalmente ele está entre nós, ou melhor dizendo, eles estão. Peter Parker e Miles Morales consolidam uma ótima dupla dinâmica no aguardadíssimo Marvel’s Spider-Man 2. É simplesmente o exclusivo de maior sucesso no lançamento dentre todos os consoles da família PlayStation.
O Homem-Aranha original foi criado há mais de 60 anos e é reconhecido mundialmente, Miles chega apenas em 2011. Sua história vem de uma HQ que se passa em uma Terra alternativa, dessa maneira o personagem vê sua popularidade crescer desde então. Colocando a disposição dois homens-aranha que representam gerações diferentes de fãs, o querido estúdio da Sony, Insomniac Games, acerta novamente. A empresa traz o terceiro título que se passa no universo criado pelo estúdio, em 2018, quando o primeiro jogo foi lançado.
Nesta nova aventura os desenvolvedores conseguiram fazer uso da fórmula utilizada nos dois títulos anteriores. No entanto, a evoluíram para um novo patamar de qualidade. O resultado foi um produto: mais rápido, sem telas de loading e movimentação mais frenética pela cidade. Além de mais forte, com a dupla ganhando novos poderes e habilidades que se complementam durante a pancadaria no combate ao crime. E melhor, utilizando poderoso sistema do PS5 para entregar um jogo com performance e melhorias no sistema de jogo, que exigem bastante do console da nova geração.
A história de Marvel’s Spider-Man 2 se passa alguns meses após os eventos acompanhados no jogo do Miles. Ela se desenrola em uma Nova Iorque com o dobro do tamanho do mapa anterior, que conta com a adição de mais bairros, como Brooklyn e Queens, moradas dos dois heróis. Novamente os protagonistas estão tentando combinar da melhor forma possível suas vidas particulares com as heroicas.
Miles tenta conciliar seus estudos com a vida como o novo Spider-Man, enquanto lida com a perda de seu pai e ainda tenta arrumar uma namorada. Já Peter, enfrenta problemas financeiros após a morte da tia May. Além disso, Parker vem se mantendo como o Amigão da Vizinhança principal, ao mesmo tempo que reata o relacionamento com Mary Jane Watson. Já MJ trabalha para o incansável editor J. Jonah Jameson, enquanto Parker tem como meta de vida formar os heróis aracnídeos sempre que pode. Ademais, enquanto tudo isso acontece, o melhor amigo de Peter, Harry Osborn reaparece misteriosamente curado e com uma possível solução para o problema de grana do herói.
Vilões conhecidos da franquia da Marvel fazem participações expressivas, no entanto, com destaques para os que vimos nos trailers, como Venom, Lizard e Kraven. Sem querer dar spoilers, o começo do game traz uma batalha épica contra um inimigo clássico do Aranha que consegue ficar gigante ao se fundir com uma praia inteira.
Marvel’s Spider-Man 2 faz uso de vilões conhecidos há décadas para contar uma história original que se baseia em versões de personagens já vistas em diversos tipos de mídias, sejam HQs, filmes e animações recentes e antigas. Destaque merecido para o vilão/anti-herói, Venom, que ganhou a sua melhor versão em décadas. Sombrio e perigoso como ele deve ser. O personagem contribui de diversas formas para uma conclusão de perder a cabeça que facilmente se encaixa em qualquer lista de melhores conclusões do mundo dos games.
A jogabilidade recebeu uma revisão geral para se adequar aos novos equipamentos e habilidades dos heróis. Caso você já tenha jogado os jogos anteriores irá perceber que existem tantas novidades quanto familiaridades na maneira de jogar. Os comandos são basicamente os mesmos, com botões para correr e se balançar nas teias, saltar, atacar, mirar, esquivar, atirar teias nos inimigos ou fazer uso dos equipamentos, e por aí vai.
A novidade fica por conta da possibilidade de aparar ataques específicos dos inimigos e chefes ao pressionar o L1. Apertando o botão na hora certa será possível realizar um contra-ataque ao rebater a investida, e desferir combos especiais que causam mais dano.
Algumas outras mudanças presentes estão sendo criticadas pelos fãs da franquia. Temos alguns exemplos a seguir: ainda é possível se curar apertando o direcional digital para baixo, gastando o foco acumulado na barra. A diferença é que agora a barra precisa estar cheia para realizar a ação, obrigando o jogador a escolher entre se curar ou executar uma finalização cada vez que a barra se enche. Isto é, o fato de existirem combates contra mais de 10 inimigos que são “esponjas de socos” ao mesmo tempo na tela, somente contribui para aumentar a dificuldade do jogo de forma precária ou preguiçosa.
Outras decisões do estúdio que ficaram aquém das expectativas estão na jogabilidade. A remoção da saudosa teia de impacto, que servia para prender inimigos em superfícies com apenas um tiro certeiro. Além da implementação de uma roda de habilidades e uma de dispositivos que são acionados com L1 e R1, respectivamente, que somente podem equipar 4 opções por vez. Isso reduz a fluidez do combate e faz com que seja necessário deixar de lado alguns ataques e habilidades destravadas durante a campanha.
Com esses e outros pontos acometidos no jogo podemos perceber que os combates estilosos e até estratégicos vistos no jogo de 2018 principalmente, deram lugar a uma porradaria desenfreada e caótica em Spider-man 2. Podemos dizer que essas não foram as melhores decisões do estúdio.
Em compensação, quando falamos sobre a movimentação dos Aranhas ou exploração dos mapas, o jogo é só elogios. a Insomniac fez uso do poder do PlayStation 5 para deixar o jogo veloz em todos os sentidos, acabando de vez com qualquer tela de loading que poderia existir, até mesmo entre as transições entre cenas de animação e gameplay. Tudo acontece de forma instantânea e natural chegando a pegar os jogadores distraídos de surpresa e fazendo o protagonista apanhar ou cair dezenas de andares até perceber que podemos tomar o controle.
Outra implementação certeira é a troca entre Peter e Miles, que pode ser feita a qualquer momento durante a exploração e que em questão de segundos coloca no controle do outro Aranha. Outra prova do poder do hardware da Sony que pode ser citado é a viagem rápida, que agora acontece instantaneamente, independente da distância entre os pontos do mapa, mal dando tempo de piscar. Sem dar o spoiler da história, também existem algumas situações onde é necessário atravessar portais no melhor estilo Ratchet & Clank: Em uma Outra Dimensão, onde não acontece queda alguma na contagem de quadros por segundo.
O estúdio entregou o jogo completamente otimizado quanto a performance, isto é, sem travamentos ou lags. No máximo alguns bugs acontecem vez ou outra. Comigo foram apenas três vezes: uma em que o Peter atravessou uma parede e ficou travado tentando escalar uma tubulação, outra em que uma parede invisível impedia o avanço pela fase, e uma terceira que ele ficou preso de ponta cabeça antes de cair no chão após um salto. Estas situações podem aparecer em um jogo desse tamanho e serão corrigidas com o tempo.
Ainda falando sobre velocidade de deslocamento pelo cenário, o estúdio elevou a agilidade dos protagonistas a um novo nível com a adição das Asas de Teia acopladas aos trajes, que em um apertar de botão faz os Aranhas planarem por túneis de vento ao redor da cidade de forma que balançar com a teia deixa de ser a forma mais divertida e rápida de explorar Nova Iorque. Até mesmo plataformas para serem usadas como estilingue estão espalhadas por diversos telhados, permitindo decolar em voos de mais de 1 km sem precisar soltar uma teia sequer.
A adição dos túneis de vento, sistemas de ventilação, plataformas estilingue, novas habilidades com a teia, poder planar e até deslizar com graça pela água dos rios etc. Tudo foi pensado e desenvolvido visando manter os Homens-Aranha em movimento rápido sem interrupção, tornando até um passeio pela cidade mais divertido do que algumas das muitas missões presentes no jogo.
Pode parecer que não, mas jogar com Peter ou Miles garante algumas diferenças entre o estilo de cada um. Quanto ao mais velho, e naturalmente mais forte e pesado, sua movimentação e ataques são baseados nesses dois pontos, retratados com ataques visualmente mais brutais. E já Miles, que é mais ágil e rápido em seus movimentos e habilidades, consegue balançar com mais velocidade e encaixar combos mais longos em poucos segundos ao mesmo tempo que faz uso dos seus poderes elétricos e invisibilidade.
Até mesmo o web swing dos 2 é diferente, com Miles conseguindo se balançar e planar com mais rapidez e estilo, com a maioria dos seus movimentos vindo direto do seu próprio jogo. Já Peter ganhou dezenas de animações e manobras novas para que pudesse mostrar muito mais versatilidade do que foi visto no game de 2018. Em uma das manobras novas, ele consegue montar um cubo mágico durante um mergulho do topo de um prédio poucos segundos antes de chegar ao chão. Isto mantem a característica do grande nerd que o personagem é.
Ambos possuem suas missões durante a história principal colaborando com a incrível campanha do jogo. Enquanto as missões secundárias voltadas para cada Aranha complementam o universo de cada um. Com todas elas sendo mais complexas e recompensadoras do que nos jogos anteriores, as tarefas secundárias também estão de volta. Elas trazem seus crimes repetitivos para serem impedidos a todo momento. Além de bases inimigas para serem tomadas, ninhos de simbiontes para destruir, colecionáveis como tirar fotos para o jornal e encontrar os spider-bots espalhados pela cidade ao invés das mochilas do Peter, dentre outras coisas. Tudo em troca de pontos de experiência e itens para conseguir evoluir os protagonistas, seja destravando novas habilidades, melhorando dispositivos, ou ainda, criando novos trajes e ampliando suas tecnologias.
Os trechos de história onde jogamos com os outros personagens estão de volta. Podemos jogar com Mary Jane em fases mais furtivas que ganharam uma repaginada em seu gameplay. Jogar com MJ lembra muito a jogabilidade de Ellie (The Last of Us), com a ruiva sendo muito mais ativa do que no primeiro jogo. Há outro personagem disponível para jogar, mas eu só vou dizer que a surpresa foi tão grande que todos os jogadores irão torcer para ver mais deste protetor no futuro da franquia com sua jogabilidade insana.
Os minigames e os quick-time events, onde os comandos aparecem na tela com momentos específicos como nos God of War antigos, retornam e não adicionam muito ao gameplay. Chegam a destoar de todo o resto do jogo que possui uma cara de nova geração com ações que envelheceram mal.
O dualsense transmite o feedback do que acontece em tela na palma da mão do jogador. É possível sentir desde os passos do Spider até o girar das hélices de um helicóptero nas proximidades. Além do uso inteligente do alto-falante embutido e da pressão dos gatilhos adaptáveis em alguns puzzles.
Assim como em outras franquias, como em God of War e o Horizon, não existe um salto tão grande entre os gráficos do jogo anterior. Ainda assim, Spider-Man 2 consegue entregar um visual lindo durante todo o jogo. Com detalhes incríveis em todos os trajes, principalmente nos simbiontes que parecem estar realmente vivos quando usados pelos hospedeiros.
A iluminação possui um nível altíssimo de qualidade, independente da hora do dia. Outro destaque é o tamanho da cidade de Nova Iorque, um mapa enorme renderizado de uma vez sem que haja queda de frames durante a exploração. Entretanto, mesmo com o poder do PS5 alguns pontos merecem um pouco mais de capricho e atenção. Assim como a água e as expressões faciais dos personagens principais e npcs, que ficaram abaixo do esperado.
A trilha sonora é épica durante todo o gameplay. Assim, não importa se o momento é tenso, tranquilo ou se estamos apenas balançando pela cidade com as teias entre os prédios. Sempre estará tocando uma música agradável. Poderia ser melhor se houvesse mais músicas licenciadas além da faixa tema “Swing”, criada para o jogo, e cujo vídeo já tem mais de 1 milhão de visualizações no YouTube. Ela toca logo no início da aventura e depois só nos créditos finais de jogo.
A dublagem está ótima e conta com o retorno das vozes originais dos jogos anteriores. O título ainda ganhou o reforço de Rodrigo Lombardi, conhecido ator da Rede Globo, que dá voz a Kraven, The Hunter.
E sim, os nomes dos personagens mantidos em inglês estão de volta por determinação da Sony. Esse fato não atrapalha, mas soa estranho ouvir o nome dos personagens conhecidos há décadas por aqui, como Lagarto e Abutre serem chamados de Lizard e Vulture, quebrando a imersão a todo momento.
Um menu de acessibilidade está presente e traz dezenas de opções para conseguir adequar o título às necessidades dos mais diversos tipos de jogadores. Portanto, quem tiver dificuldades motoras, visuais ou auditivas, provavelmente conseguirá aproveitar o jogo da melhor forma possível.
As já clássicas opções gráficas de desempenho e fidelidade estão presentes. A primeira roda em 60 frames por segundo em detrimento de resolução, quantidade de pedestres e veículos, além de detalhes dos cabelos que são simplificados. Já fidelidade, trava o jogo em 30fps e oferece a melhor qualidade de imagem e resolução com todos os recursos de ray tracing ativados. Estão disponíveis também as opções VRR e 120 Hz, que mantêm a taxa de quadros mais elevada entre 40 e 120 FPS, dependendo da configuração escolhida, disponibilizando muito mais fluidez de movimentos, caso a sua TV seja compatível.
Marvel’s Spider-Man 2 é o jogo definitivo do Homem-Aranha complementando e melhorando a fórmula usada nos dois títulos anteriores. O jogo traz uma história original incrível. Além de contar com um final bombástico, digno tanto das melhores produções de Hollywood, quanto das grandes sagas das HQs. E ainda dá indícios de que a família-aranha irá ganhar mais um membro nas cenas pós-créditos.
O jogo traz uma experiência espetacular para fãs do aranha, ou mesmo para quem não é. A parceria entre Peter Parker e Miles Morales se desenvolve muito bem, além de retratar os heróis com estilos próprios, mas que se tornam melhores juntos.
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