O que é mais difícil: dirigir um filme ou controlar os rumos da própria vida? A cineasta Margherita (Margherita Buy) não tem esta resposta no momento. Com um longa-metragem em andamento, a mãe, Ada (Giulia Lazzarini), internada no hospital, um namorado, Vittorio (Enrico Ianniello), que não tira os olhos de uma mulher mais nova e uma filha, Lívia (Beatrice Mancini), que não segue suas ordens, ela se encontra em uma encruzilhada. A chegada do ator Barry Huggins (John Turturro), para trabalhar em seu filme, só tornará tudo mais confuso, já que, além de ser uma daquelas estrelas temperamentais, ele sofre de sérios problemas para decorar suas falas. Assim, correndo o risco de enlouquecer, ela precisará encarar estes problemas de frente para encontrar um equilíbrio profissional e pessoal em Mia Madre, o novo trabalho de Nanni Moretti, um dos mais badalados realizadores do cinema italiano na atualidade.

Moretti tem o dom de arrancar gargalhadas do público por meio de algumas situações dramáticas. Para ele, comédia e drama não são elementos antagônicos, uma vez que estão presentes nas vidas de todos nós e, em seus filmes, todos os personagens costumam ter um delineamento marcante. Quem assistiu “Habemus Papam” (2011) sabe bem disto. Apesar de algumas situações inverossímeis, como a presença de psicólogo dentro do conclave que elegerá o próximo Papa, tudo funciona. Aqui, a fórmula é repetida usando também um personagem que serve como alívio cômico, neste caso, o astro problemático. Contudo, apesar de provocar alguns risos, o resultado está longe de ser o de outros trabalhos. Com um humor pouco funcional, a trama roteirizada pelo diretor, em parceria com Valia Santella e Francesco Piccolo, acaba sendo apenas um drama superficial.

Mia Madre Meio

A superficialidade dramática da trama vem justamente desta tentativa frustrada, desta vez, de fazer graça com situações, problemas pessoais e profissionais, que ninguém está livre de viver. Ao apostar nesta dualidade, Moretti não aprofundou, como deveria, as histórias de alguns caracteres. Com a exceção de Barry e de Ada, pouco sabemos sobre Vittorio ou Lívia. A própria Margherita deveria ter sido melhor explorada. Existem boas cenas onde a protagonista devaneia, dormindo ou acordada, sobre coisas que aconteceram no passado. No entanto, elas não são suficientes para preencher todas as lacunas. Há ainda um personagem, Giovanni, interpretado pelo diretor, que é irmão da cineasta. A maior parte do tempo é ele que fica cuidando da mãe. Sua existência está condicionada a esta tarefa e fora o fato de que precisou largar o emprego para desempenhá-la, pouco sabemos também.

Apesar dos problemas do roteiro em relação à personagem homônima, o ponto alto de Mia Madre é a interpretação de Margherita Buy. A veterana atriz, sete vezes vencedora do Nastro D’Argento (Laço de Prata, prêmio do Sindicato de Críticos de Cinema da Itália) e do David di Donatello (o Oscar italiano), consegue defender muito bem seu papel e transmitir, com nitidez, a sensação de dor pungente diante da iminente perda da mãe. Sua confusão mental quando começa a questionar os rumos e objetivos do seu trabalho como realizadora cinematográfica é igualmente crível. Se as circunstancias de sua vida tivessem sido melhor explicadas, os personagens no seu entorno desenvolvidos com um esmero maior e, só desta vez, o humor deixado de lado, o resultado final seria, com certeza, mais auspicioso.

Desliguem os celulares e boa diversão.

FICHA TÉCNICA:
Direção: Nanni Moretti.
Roteiro: Nanni Moretti, Valia Santella e Francesco Piccolo.
Produção: Nanni Moretti e Domenico Procacci.
Elenco: Margherita Buy, John Turturro, Giulia Lazzarini, Nanni Moretti, Beatrice Mancini, Stefano Abbati, Enrico Ianniello, Anna Bellato e Toni Laudadio.
Direção de Fotografia: Arnaldo Catinari.
Montagem: Clelio Benevento.
Duração: 106 minutos.
País: Itália e França.
Ano: 2015.