“Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma a sua maneira”. A frase célebre de Tolstói, que inicia o romance Anna Karenina, parece ajustar-se à família de May Brennan, personagem do filme O Casamento de May. Guardadas as devidas proporções, ao menos essa é a impressão até certa parte do filme, produzido e dirigido por Cherien Dabis que, pela primeira vez, também se coloca em frente às câmeras ao interpretar a protagonista May.

May Brennan (Cherien Dabis) é uma escritora que vive em Nova York e está às voltas com os preparativos de seu casamento. Faltam poucas semanas para a realização do evento quando May visita a família em Amã, na Jordânia. Lá, ela se encontra com as duas irmãs mais novas – Dalia (Alia Shawkat) e Yasmine (Nadine Malouf) – a mãe Nadine (Hiam Abbas), o pai Edward (Bill Puman) e a sua nova esposa Anu (Ritu Singh Pande). Assim, não demora muito para que o clima entre a família piore e vários conflitos venham à tona.

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O primeiro deles é o posicionamento de Nadine em relação ao casamento da filha. Pouco tempo depois da chegada de May, Nadine relembra que não irá à cerimônia. Como uma cristã fervorosa ela desaprova o casamento de May com o renomado professor Ziad (Alexander Siddig), que é mulçumano. Destaca-se uma frase de Nadine que mostra sua intolerância: “Eu não tenho religião, eu tenho a verdade”. Ao longo do filme, Nadine manifesta-se contra essa união e declara que um relacionamento inter-religioso está fadado ao fracasso.

Outra questão diz respeito às discussões entre as irmãs Dalia e Yasmine; como uma irmã mais velha, May tenta acalmar os ânimos das duas. Paralelamente a isso, as três irmãs voltam a lidar com o divórcio dos pais e o fato de que o pai Edward trocou a mãe por uma mulher muito mais nova do que ele. Chega o momento de conhecer a nova esposa do pai, Anu, e fica claro como a relação entre o pai e as filhas é distante e todos se sentem desconfortáveis com o encontro.

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As rusgas que (res)surgem entre os personagens conforme o filme se desenrola mostram que a família permanece voltada ao passado e a capacidade de superá-lo torna-se cada vez mais difícil. Esses problemas, é claro, refletem-se na atualidade e os papéis de cada um são quase que estagnados. Por exemplo: apesar de May não morar mais com os pais e as irmãs e de viver em Nova York, ainda a tratam como uma mediadora que deve apartar as discussões. Nesse sentido, a personagem deve lidar consigo mesma, as dúvidas que emergem sobre o casamento e a desordem protagonizada pelos seus familiares. Pode-se falar em dois núcleos narrativos: o ambiente externo a May e o interno, no qual prevalece a descoberta de si mesma.

É curioso notar que, embora o filme trabalhe com dilemas interiores e exteriores, há um tom de leveza que perpassa a narrativa. Há momentos engraçados e tiradas irônicas – especialmente das irmãs de May – mesmo quando a situação é um tanto quanto séria. Essa escolha da autora rende um tom cômico ao filme, mas ao mesmo tempo impede que ele se aprofunde em questões importantes e tabus citados como a homossexualidade (da irmã Dália), o sexo antes do casamento, o choque cultural, entre outras. Por isso, O Casamento de May consegue passar por assuntos interessantes, mas não os aprofunda e permanece na lembrança mais como um entretenimento com um potencial não de todo explorado.

BEM NA FITA: a trilha sonora e a fotografia, com destaque para o diálogo das irmãs May e Dália enquanto nadam no Mar Morto.

QUEIMOU O FILME: o desfecho rápido dos conflitos familiares.

FICHA TÉCNICA:

Título original: May in the Summer
Direção: Cherien Dabis
Roteiro: Cherien Dabis
Elenco: Hiam Abbas, Cherien Dabis, Alexander Siddig, Bill Pullman, Elie Mitri, Nadine Malouf
Produção: Cherien Dabis, Alix Madigan e Christopher Tricarico
Fotografia: Brian Rigney Hubbard
Edição: Sabine Hoffmann
Gênero: Comédia/Drama
País: Jordânia, Qatar e EUA
Ano: 2013
COR
Tempo: 99 min.
Classificação: a verificar