Um bom conto é aquele que, enquanto lemos, nos dá vontade de continuar lendo e então começamos a nos preocupar com as páginas que faltam para seu fim. Ao mesmo tempo, é aquela história que, quando termina, nos deixa satisfeitos. O Rei Mocho, de Ungulani Ba Ka Khosa segue essa linha.

A história, a fundação da mentira, é baseada na tradição oral, quando os mais antigos se reunem para contar casos que representam alguma lição, de qualquer tipo, para a vida. Como uma metáfora sobre a crença e a farsa, aqui vemos um caso em que o homem, mais uma vez, se introduz na natureza, no cotidiano dos animais para causar algum desequilíbrio. A fundação da mentira ou a criação da descrença, por outro lado, me remeteu ao mito bíblico da serpente, ainda que o objetivo aqui seja outro.

Assim, o conto é curto, nos deixando com vontade de ler mais, de conhecer mais das tradições e cultura moçambicanas. Desta coleção Contos de Moçambique da Editora Kapulana ainda virão 9 histórias, mas talvez fosse mais interessante – para os ansiosos como eu – se fosse um livro apenas, assim não precisaríamos aguardar os meses que antecipam cada edição, como temporadas de um seriado.

Esta edição, contudo, é rica pois nos traz as ilustrações que identificam o mocho como uma ave similar à coruja, além de percebermos outras tantas aves que nossa vida urbana não nos permite conhecer, bem como os barulhos que fazem, muito além do trinar que, para mim, seria o único verbo para tal. Com ilustrações em cores vivas, o trabalho em batique de Américo A. Mavale ganha destaque. Válido para ser contado a crianças e jovens, esse curto livro é um achado.

FICHA TÉCNICA