*Texto feito com colaboração de Diogo Nunes.

Com mais de 30 anos de carreira como integrante dos Racionais MC’s, considerado o principal responsável por comunicar e traduzir o cotidiano da quebrada, Mano Brown experimenta novos meios de expandir as suas ideias, compartilhar conhecimentos e gerar diálogo, agora em um novo formato: o podcast Original Spotify Mano a Mano, que estreia nesta quinta-feira, 26 de agosto, grátis, na plataforma de streaming. Então, para falar sobre o novo projeto, o artista participou de uma conversa promovida pelo serviço e o ULTRAVERSO acompanhou.

Na coletiva de imprensa, Mano Brown falou sobre diversas questões e salientou a proposta do podcast ao afirmar que “no Brasil, a informação é negada, principalmente, para o povo afro.”

O cantor ainda completou: “A ideia é apresentar conteúdos úteis que nem sempre chegam nas pessoas. É entretenimento, mas também vamos levar informação”.

Sobre o podcast de Mano Brown no Spotify

Com episódios inéditos toda quinta, o Original Spotify Mano a Mano traz o cantor e compositor em um encontro “mano a mano” com personalidades de cenários. Do esporte à política, da música à religião. Karol Conká, bem como Drauzio Varella, pastor Henrique Vieira, Vanderlei Luxemburgo e Fernando Holiday são alguns dos nomes confirmados.

“O Mano a Mano é uma continuidade do que acontece no meu dia a dia. Eu não sou cercado apenas por pessoas que pensam como eu, então a gente conversa e debate. No podcast, não quero criar confronto de ideias, mas abrir uma possibilidade de diálogo”, comenta Mano Brown, que, quando anunciou o podcast, definiu os convidados como “diferentes, controversos, amados e odiados”.

Aliás, põe odiados nisso. Saca só quando ele fala sobre a entrevista com Karol Conká:

“Entrevistar a Karol Conká foi marcante, ainda mais depois da rejeição do BBB. E muitos falam: ‘Mano, você não assistiu BBB?’ Não! Nunca assisti e nunca vou assistir!”

Ele falou ainda sobre o clima com a rapper: “foi diferente porque também sofri rejeição e sei como é. Ouvi muita gente ser contra chamar ela, mas ela é uma mulher negra como minha mãe é.”

O polêmico Mano Brown

“Sou acusado de ser um xiita. Eu nunca fui o cara de agregar camada sociais. O Brasil não mudou como eu queria que mudasse. Mas acredito que o podcast pode ajudar porém devemos fugir do clichê. Temos que ter novas ideias. Entrei com a oportunidade do entretenimento, mas para conseguir falar coisas sérias, além da música. É um veículo que eu vou ter para falar com as pessoas, além da música”, afirmou Brown, que reconheceu que é polêmico:

“Sou contestado mesmo. Graças a Deus! A unanimidade é burra!”

Contribuição do podcast de Mano Brown à sociedade

“Que faça sucesso, que seja agradável, que alcance o objetivo que almejamos, mas, que seja útil! Que possamos ouvir nossos pensadores negros como o pastor Henrique Vieira, por exemplo! Artistas negros no geral.”

Além disso, Mano Brown também comentou como acredita que as pessoas vão ouvir seu podcast: “Eu imagino o cara, no metrô, com o fone, indo trabalhar. Ele ali pega uma informação de coisas que ele não escuta em outros veículos de informação.”

O hip-hop atual

“Eu sou da segunda ou terceira geração. Viver da arte é recente. Isso era raridade antigamente. Estamos no país do agronegócio, que investe no sertanejo… o país do pagode. Essa galera (do hip-hop) invadiu! Rael, Orochi, Hungria, Djonga… esses são os pensadores negros do Brasil! São as joias!”

A força da palavra no rap

“Eu acho que a força da palavra ganha mais quando é só o áudio. Não a distração com banalidades como roupas, cabelo e tal. Claro, autoestima e cabelo são importantes mas a palavra é algo muito rápido. Você consegue escutar andando de bicicleta e tal.”

Forma de debater problemas sociais

“Não sei! Eu não sei se debato de forma diferente… eu debato da minha maneira. Minha geração lutava para lutar por direitos básicos… lutar por ônibus, ler e escrever. Pra essa galera de hoje, a molecada de hoje, essas fitas não cola!”

Drauzio Varella

“É como um pai que eu não tive… ele tem muitas coisas além do seu conhecimento de doutor, ele fala sobre varias coisas da vida e eu nunca tive uma pessoa mais velha na vida para desabafar e perguntar coisas.”

Religião

“Onde estão os negros da bíblia? Onde andou Jesus? Quem foi Caim? Os próprios religiosos não dominam essas fitas. Eles lidam com povos na bíblia. Imagina o moleque saber que Jesus era negro? Se ele for branco, morre.”

O homem negro com dinheiro e informação

“O Brasil tem uma coisa interessante. Quando o pessoal vê um negro crescer, um grita: ‘Pega! Está fugindo.’ O triste que muitas vezes é um negro que faz isso. Só pode ter dinheiro para servir o sistema. Por isso tem quem não gosta de ver negro rico. Bom é ver o negro pobre até hoje. Por que é bom? Por que o negro não pode ganhar dinheiro? Porque o negro com dinheiro quer fazer a diferença.”

Informação e entretenimento

“Não há essa separação! A informação e o entretenimento nunca deveriam ter se separado. O rap, antes de ser informação, ele era entretenimento.”