Ao Seu Lado
Crítica do filme
Uma noite marcada pelo discurso antifascista aliado à fúria do peso do metal, punk e hardcore. Assim foram os shows do Ratos de Porão, Black Pantera e Punhal no Circo Voador neste último sábado (21).
Organizado pelo produtor Luciano Paz, do Tomarock – que expulsou um otário fascista que foi tumultuar o ambiente -, o evento foi uma celebração do poder de luta de uma parte da sociedade que está viva após quatro anos de um governo que beirou à teocracia, o preconceito em todas as suas camadas e um culto à morte.
A primeira a entrar no palco foi a banda de punk hardcore Punhal. Esse grupo antifascista veio do subúrbio do Rio de Janeiro para dar seu recado: curto, rápido e letal. Focada na luta e resistência, “Guerra de Classes” tem tudo para ser um grande hino desse movimento. A casa ainda estava meio vazia, mas assim que os primeiros acordes começaram e o discurso foi absorvido, o público começou a abrir suas rodas de pogo e curtir o som.
Mal sabiam eles que o melhor chegaria em seguida…
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Foto: Carla Cardoso / ULTRAVERSO
Uma das bandas que mais tem crescido no cenário do metal brasileiro, o Black Pantera veio ao Rio de Janeiro mais uma vez levar seu discurso antirracista. Após uma apresentação matadora abrindo o Rock In Rio 2022, esses mineiros de Uberaba, trouxeram os petardos que fizeram de seu último disco, “Ascensão”, uma das melhores surpresas do ano passado.
O grupo abriu com o recente single “Legado”, que tem dominado a cena por conta de versos poderosos enaltecendo Malcom X, Martin Luther King e Zumbi dos Palmares. Em sua segunda apresentação na lendária casa do Rio – tocaram no Circo Voador em 2019 -, Charles Gama (vocal e guitarra), Chaene da Gama (baixo) e Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria), se apresentaram mais maduros no palco.
Frutos de uma ascensão um tanto como merecida, desfilaram por músicas pesadas em letra e melodia onde o público parecia abraçá-los literalmente com furiosas rodas de pogo e desejos de mais diversidade. O destaque de maior êxtase vai para “Padrão é o Caralho” de versos bastante literais:
“Jesus não era branco
Não era ariano
A vida começou no continente africano
Padrão é o caralho!”
Seguiram tocando o terror em quem ainda não entendeu que fogo e racista sempre será uma ótima opção com pauladas como “Mosha”, “Fogo no Racistas” e “Delírio Coletivo”. Ainda houve tempo para homenagens ao Rappa e à deusa-mulher Elza Soares para coroar uma noite com muito peso e consciência racial.
Foto: Carla Cardoso / ULTRAVERSO
Para fechar, João Gordo, Jão, Boka e Juninho vieram desfilar os “crássicos” do Ratos de Porão, ícones há mais de 40 anos do punk brazuca, no Circo Voador. E já de cara vieram com “Alerta Antifascista” para não deixar nada confuso para quem insiste em não entender o viés da banda e o quanto um certo ex-presidente não vai deixar saudades.
Musicalmente, vimos o de sempre: João Gordo ainda quebra tudo acompanhado por amigos e parceiros que soam ainda mais atuais. Destaque para como Jão e Boka são impressionantes na fúria de seus instrumentos e o quanto o baixista Juninho trouxe um fôlego novo para a banda.
No mais, o de sempre: “Crucificados pelo Sistema”, “Aids, Pop, Repressão”, “Beber Até Morrer”. Nessa última, uma ‘homenagem’ a Marcelo D2, que deveria ter vindo fazer uma participação especial, mas faltou devido à ressaca. No final apoteótico, uma sequência com “Sofrer”, “Herança” e “Obrigado a Obedecer” para mostrar porque o Ratos ainda é o Ratos.
Foto: Carla Cardoso / ULTRAVERSO
Legado
Padrão é o caralho
Mosha
Godzila
Taca o foda-se / Sexto Dia / Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro
Fogo nos racistas
A carne
(Elza Soares cover)
Abre a roda e senta o pé
Delírio coletivo
Revolução é o caos
Boto pra fuder
Alerta Antifascista
Farsa nacionalista
Amazônia nunca mais
Aglomeração
Crocodila
Suposicollor
Necropolítica
Crucificados pelo sistema
Descanse em paz
V.C.D.M.S.A. (Vivendo cada dia mais sujo e agressivo)
Morte ao rei
Difícil de entender
Engrenagem
Toma trouxa
Expresso da escravidão
Beber até morrer
Crise geral
Conflito violento
Aids, Pop, Repressão
Paranóia nuclear
Igreja universal
Sofrer
Herança
Obrigado a obedecer
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*Fotos: Carla Cardoso / ULTRAVERSO