Ao Seu Lado
Crítica do filme
Quando se trata do nazismo, inúmeros livros e documentos históricos versam sobre a trajetória dos não alemães que lutaram contra o regime autoritário e os sobreviventes desta época tão bárbara e trágica. Por isso, é comum pensar que Hitler conquistou um apoio praticamente unânime da população alemã ou então que não houve qualquer oposição interna às atrocidades cometidas pelo ditador. Porém, um livro fundamental supre essa lacuna no que diz respeito àqueles que se opuseram a Hitler e mostra um dos grupos que se tornou símbolo da resistência alemã: A Rosa Branca, que deu origem ao livro homônimo, escrito por Inge Scholl.
Publicada originalmente em 1952, a obra conta a história do pequeno grupo de jovens estudantes da Universidade de Munique cuja proposta era conscientizar a população sobre a extrema brutalidade do nazismo. Dois estudantes eram os irmãos mais novos da autora: Sophie e Hans Scholl, que foram covardemente assassinados pelo Estado em fevereiro de 1943.
Vale ressaltar também a história interessante por trás da tradução brasileira, que não surgiu como um projeto editorial, mas como uma ação didática iniciada em 2009 na Universidade de São Paulo (USP). Durante três anos, estudantes da instituição se dedicaram a estudar a história do grupo e a traduzir seus textos e este trabalho resultou no livro publicado pela Editora 34 em 2013.
Desde o momento em que passamos a conhecer mais sobre a Rosa Branca, percebemos que estes estudantes optaram pela não violência e se mobilizaram por meio da produção e distribuição de panfletos que denunciavam os horrores do nacional-socialismo.
Conforme apontado na apresentação feita por Juliana Perez e Tinka Reichmann, um dos fatores que mais chama a atenção é a resposta absurdamente violenta do regime à disseminação dos textos feitos pelo grupo. Os irmãos Scholl e seus companheiros sabiam que a informação é uma ferramenta muito poderosa e, por isso, a escolheram como um meio de vital importância para alertar os alemães que apoiavam ou ainda aqueles que se submetiam ao Estado porque sabiam que, caso se opusessem, seriam torturados, viveriam em condições miseráveis em campos de concentração ou seriam assassinados.
Entretanto, os jovens estudantes não mostram leniência com estes indivíduos, pelo contrário, buscam despertá-los falando sobre as tragédias que ocorriam na época e projetando as repercussões e percepções históricas dessa mudez: “Não há nada mais indigno para um povo civilizado do que se deixar ‘governar’ sem resistência por uma corja de déspotas irresponsáveis, movida por instintos obscuros”. Estas são fases iniciais do primeiro de um total de seis panfletos publicados e que também refletem um questionamento de um dos membros do grupo, segundo a autora: “Mas não é um absurdo que fiquemos em casa, em nossos quartos, estudando como curar as pessoas, enquanto lá fora o Estado diariamente provoca incontáveis mortes de jovens? O que estamos esperando? Que um dia a guerra acabe e todos os povos apontem para nós e digam que suportamos um governo assim sem resistência?”.
Nesta narrativa, que além de um documento é também uma homenagem, Inge mostra a coragem e a luta dos seus irmãos e de outros membros da Rosa Branca, como Christoph Probst, Alexander Schmorell e o professor Kurt Huber que – até mesmo quando foram acusados de traição e julgados no Tribunal do Povo – jamais abandonaram as suas convicções para preservar as próprias vidas.
Além do relato da autora sobre A Rosa Branca, a obra contém os seis panfletos escritos e distribuídos por seus integrantes, depoimentos de pessoas que os conheceram, as sentenças atribuídas a cada um deles e reações e manifestações de apoio ao grupo. Há também o rascunho do sétimo panfleto, o discurso de defesa de Huber realizado no Tribunal do Povo, um posfácio e um glossário.
Este livro possui um inestimável valor histórico e é uma fonte precursora das publicações sobre a resistência contra o nazismo. Embora soubessem que seriam condenados à morte por suas ações, os membros da Rosa Branca recusaram-se a abandonar, até mesmo em seus últimos momentos, o que lhes era mais precioso: seus ideais e sua liberdade de pensamento.
FICHA TÉCNICA:
Título: A Rosa Branca – A história dos estudantes alemães que desafiaram o nazismo
Autora: Inge Scholl
Tradução: Anna Carolina Schäfer, Eline de Assis Alves, Eraldo Souza dos Santos, Flora Azevedo Bonatto, Janaína Lopes Salgado, Luana de Julio de Camargo, Renata Benassi e Yasmin Cobaiachi Utida
Especificações: Brochura, 272 páginas