Ao Seu Lado
Crítica do filme
Quem já morou ou tem o hábito de ir a São Paulo sabe bem quais são as sensações despertadas pela maior capital brasileira. Seus odores e sabores alternam entre o doce e o ocre devido ao fato de, camaleonicamente, ela misturar, como poucas metrópoles, o que há de melhor e de pior. A linha imaginária que separa os casarões do Morumbi dos casebres de Paraisópolis, bairros tão antagônicos quanto próximos, é tênue e frágil como a paz reinante nas ruas da grande cidade.
Em Riocorrente, o primeiro longa-metragem de ficção de Paulo Sacramento, premiado diretor do documentário “O Prisioneiro da Grade de Ferro” (2003), o lar dos paulistanos surge na telona muito mais como personagem (daqueles verdadeiramente importantes) do que como cenário para a história envolvendo o triangulo amoroso vivido por Carlos (Lee Taylor), Renata (Simone Iliescu) e Marcelo (Roberto Audio).
Aos poucos, o roteiro escrito pelo próprio cineasta nos apresenta aos protagonistas. Carlos trabalha em uma loja de autopeças. Insatisfeito, vaga pela cidade em sua moto. Às vezes, vai até um ferro-velho onde tem negócios escusos. Sua função é roubar carros e levá-los para o desmanche. Suas poucas horas de prazer são dedicadas ao tórrido romance com Renata. Esta, por sua vez, é uma mulher ociosa, que consome todo o seu tempo com idas ao cinema, museu e academia. Vive sabe-se lá de quê.
O terceiro vértice deste triângulo é o jornalista especializado em artes, Marcelo, namorado oficial de Renata. Sua vida não é mais badalada do que a dos outros. Em compensação, ele parece conformado com o que possui e com o emprego em um jornal. Há, ainda, um quarto elemento nesta trama. De dia, o menino Exu (Vinícius dos Anjos) vaga pelas ruas cometendo pequenos delitos. De noite, busca abrigo na casa de Carlos, a quem chama de pai.
Apesar de todos os personagens serem bem delineados no texto de Sacramento, é São Paulo que se impõe na tela. Isto acontece graças aos seus contrastes econômicos e culturais, ressaltados pela oposição entre os ambientes mostrados (redação de jornal, galerias de arte, cinemas, academias, parques, boates, salões de bilhar, botecos, porões e ferros-velhos); e a tensão latente, pronta para explodir, vislumbrada na imaginação de Carlos.
Ambientada na maior capital do Brasil, a história de Riocorrente poderia ser tranquilamente passada no Rio de Janeiro, por exemplo. Afinal, trata-se da crônica de uma metrópole moderna. Mesmo que esta não tenha sido a intenção original do diretor, tal impressão é reforçada pelo desfecho aberto dos protagonistas e pela atuação opaca de todos os atores que, no conjunto, só aumentam o protagonismo da cidade.
Desliguem os celulares e boa diversão.
BEM NA FITA: A forma como São Paulo é mostrada. A bela fotografia.
QUEIMOU O FILME: O desempenho de todos os atores.
FICHA TÉCNICA:
Direção: Paulo Sacramento.
Elenco: Lee Taylor, Simone Iliescu, Roberto Audio e Vinícius dos Anjos.
Produção: Clarissa Knoll, Pablo Torrecillas e Paulo Sacramento.
Roteiro: Paulo Sacramento.
Direção de Fotografia: Aloysio Raulino.
Montagem: Idê Lacreta e Paulo Sacramento.
Direção de Arte: Akira Goto.
Produção de Elenco: Patrícia Faria.
Som Direto: Thiago Bittencourt.
Edição de Som: Ricardo Reis.
Trilha Sonora: Paulo Beto.
Mixagem: Armando Torres Jr.
Duração: 79 min.
Ano: 2013.
País: Brasil.