Ao Seu Lado
Crítica do filme
Baseado no best-seller homônimo de Sarah Vaughan, a nova minissérie da Netflix, Anatomia de um Escândalo (Anatomy of a Scandal) desenvolve, em apenas seis capítulos, um drama político de tribunal, com uma pitada de suspense. Com episódios relativamente curtos, a série tem sido um fenômeno desde que estreou no catálogo do streaming vermelhinho.
A saber, a trama segue a história de Sophie Whitehouse (Sienna Miller), esposa de James Whitehouse (Rupert Friend), ex-ministro do governo e assessor próximo do primeiro-ministro britânico. Ela vê sua vida privilegiada de “mulher de político” desmoronar depois que um escândalo de infidelidade do marido vem à tona. No entanto, as coisas só pioram ainda mais quando o poderoso parlamentar é acusado de um crime chocante em consequência do seu ato reprovável.
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Essa pergunta pode ser um pouco confusa para quem não assistiu à minissérie. No entanto, James Whitehouse faz parte de um grupo de amigos que se consideram libertinos, cujo significado passa longe do termo liberal. A libertinagem é descrita como uma forma extrema de hedonismo, valorizando os prazeres físicos.
A palavra surgiu quando João Calvino quis depreciar opositores de suas políticas em Genebra, na Suíça, em 1548. O grupo, liderado por Ami Perrin, argumentou contra a “insistência de Calvino de que a disciplina da Igreja deveria ser aplicada uniformemente contra todos os membros da sociedade genebrina”.
Contudo, alguns estudiosos entendem o termo de maneira diferente. De acordo com especialistas, libertinos pode significa o sujeito que, ao exercer a liberdade de reflexão, “desconsidera regras e dogmas religiosos”. Dessa forma, a expressão acaba tendo uma conotação política mais forte.
No que tange à série em si, a produção consegue surpreender o espectador a cada episódio. A situação do político vai piorando cada vez mais que mergulham no passado dele. Além disso, a trama alterna entre o trabalho da defesa e da acusação, mostrando os dois lados da Justiça, o que é sempre interessante, mas foca, principalmente, na perspectiva humana da mulher que confiava no parceiro. A direção precisa de S. J. Clarkson também ajuda a aprofundar esses ângulos, pois coloca o espectador dentro de cada cena durante a narração dos fatos.
Embora não seja inovadora, tenha alguns diálogos discutíveis e reviravoltas improváveis, Anatomia de um Escândalo conta com uma produção bem-feita e boas atuações, principalmente de Sienna Miller e Michelle Dockery, que interpreta a promotora Kate Woodcroft, responsável pela acusação; bem como de Josette Simon, que vive Angela Regan, advogada de defesa. Aliás, Rupert Friend também se destaca, especialmente durante uma cena de debate no tribunal.
Com uma analogia muito clara do sobrenome Whitehouse à Casa Branca, residência oficial do presidente dos Estados Unidos, pense em como esse não é um roteiro muito comum na vida real. Tanto na terra do “Tio Sam” quanto aqui no próprio Brasil. Em determinado momento, a advogada chama o cliente de “homem moderno, conservador, mas feminista”. Então é ou não é um paradoxo interessante para refletir sobre os tempos atuais?
Quando Sophie diz “eu conheço o meu marido”, fica a dúvida: será que conhece mesmo? Assim, abordando temas importantes como política, feminismo, misoginia, machismo, abuso de autoridade, assédios sexual e moral, estupro, consentimento e a hipocrisia dos cidadãos de bem, Anatomia de um Escândalo tem seus problemas (alguns até graves, como o da “juíza justiceira”, por exemplo). Entretanto, a minissérie é um bom exemplo de como nem tudo é o que parece e de que a Justiça falha em qualquer lugar do planeta.
A saber, a série Anatomia de um Escândalo está disponível para assinantes da Netflix. Aliás, vai comprar algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.
Por fim, não deixe de acompanhar o UltraCast, o podcast do Ultraverso:
Lucie Zhang
Makita Samba
Noémie Merlant
Jehnny Beth
Título original da minissérie: Anatomy of a Scandal
Temporada: 1
Episódios: 6
Duração: de 43 a 48 minutos
Direção: S. J. Clarkson
Roteiro: David E. Kelley e Melissa James Gibson, baseado no romance de Sarah Vaughan
País: Reino Unido
Gênero: drama
Classificação: 16 anos