Ao Seu Lado
Crítica do filme
A história do sucesso dos jogos de plataforma 2D se estende muito além de “Megaman”, “Cadillac and Dinosaurs”, “Mario”, “Sonic” e “Final Fight”. Seria muito fácil apontar o sucesso de todos os games que tiveram altos níveis de vendas massivas e até mesmo quando os arcades ficavam entupido de pessoas por volta dos anos 80 e 90. Muitos títulos fizeram tanto sucesso que, mesmo com os lançamentos do Playstation 1 e do Sega Saturno, surpreendentemente, os gráficos não importavam tanto. Os jogos, por mais que fossem 16 bits, tinham uma boa mecânica de plataforma. “Donkey Kong Country”, no Super Nintendo, por exemplo, fez duas coisas muito, muito bem. A primeira era o aspecto multiplayer. Enquanto duas pessoas podiam jogar ao mesmo tempo, era divertido ver como se sobressaíam com tamanha falta de tecnologia. A diversão era o que importava. Assim também foi em “Mario”, do Wii, que muitos reclamavam que não possuía gráfico decente, mas a diversão de quatro pessoas juntas morrendo, caindo, fazendo besteira… Isso era realmente demais! E é aí que Shantae Half Genie Hero entra: o fator diversão conta demais aqui!
Shantae Half Genie Hero teve seu desenvolvimento um bocado conturbado. Produzido pela WayForward e publicado pela XSeed/Marvelous, o jogo tentou arrecadar fundos no Kickstarter para que, enfim, fosse desenvolvido e lançado após certo tempo. Nascido em 2002 para Game Boy Color e criado pela Capcom, a franquia acabou ganhando, algum tempo depois, outros títulos: “Shantae: Risky’s Revenge” e “Shantae and the Pirate’s Curse”. Ambos não tinham tantos alardes em seu desenvolvimento como Half Genie Hero tem. Particularmente, só tenho a agradecer à equipe de criação do jogo. Eu passei muito tempo jogando, com um sorriso que parecia o Coringa de Batman, vendo o quanto o gênero ainda pode respirar sem maiores dificuldades. Vale lembrar que a WayForward foi a mesma que desenvolveu outro belo jogo plataforma, neste caso, Ducktales Remastered. Não é nada difícil, para mim, querer repetir uma refeição ou até mesmo um lindo jogo que você sente prazer em ‘degusta-lo’ da mesma forma que estivesse comendo camarão ou lagosta.
Algo que todo game de plataforma terá em excesso – e isso acontece aqui em Shantae – são os blocos. Eles estarão praticamente em todos os cantos de todas as fases para que a ‘geniazinha’ mais bela que já vi tenha que ficar pulando. Isso irrita um bocado e SEMPRE há aquela fase onde saltar nas coisas é a unica opção de ponto em ponto até que você caia, se espatife e morra.
Shantae definitivamente dispensa apresentações. A trama do jogo é bem direta e específica. Por se tratar da edição limitada, temos outros personagens que estão disponíveis na história tanto quanto seus respectivos modos. No menu, temos à nossa disposição o modo Normal, Hero, Hardcore, Pirate Queen Quest, Friends to The End, Ninja Mode, Beach Mode e Officer Mode. Cada um deles, insere uma heroína a ser jogável de forma que seu visual se pareça exatamente com o modo escolhido. No modo Beach Mode, por exemplo, a piratinha fica toda ‘fiufiuzinha’ de biquíni, enquanto no modo Ninja, ela já está toda vestida como uma Shinobi. Não somente mudando o visual, há uma breve questzinha a ser resolvida nestes modos, dos quais dispomos não somente do visual, mas de outras coisas a serem feitas com tal vestimenta. No Nintendo Switch, o console que utilizamos para fazer a análise, os skills mudam de acordo com o modo escolhido. No Ninja Mode, por exemplo, ao pressionarmos ZR, ela fará aquele golpe padrão Ninja de sumir de um lugar e aparecer em outro, como se fosse um teleporte. Já no modo Praia (beach), o skill do mesmo botão permite que nossa protagonista levante voo numa bolha de sabão gigante. A graça do jogo está justamente está nestes modos apresentados ao jogador. Toda a narrativa acaba sendo divertida com gigantescas doses de ação, mantendo o jogo simples de início, mas que vai enganar. Na história principal, do modo normal, da qual envolve Shantae, faz da ‘metade’ geniazinha ter um um sonho em que uma misteriosa presença do Reino Genie a adverte sobre uma força maligna que estaria ameaçando os reinos ao redor. Como esperado, o enredo não chega a ser memorável, mas a escrita e o humor retratado na premissa cedem espaço a aplausos dignos de uma linda história, que lembra muito – em certos momentos – os jogos de Aladdin.
O que nunca fará falta em games do gênero são as fases, certo? Shantae demonstra uma certa dificuldade quando o assunto é a variedade delas. Apesar de bem feitas – e com uma trilha sonora estonteante – o que vemos como cenários de diferentes formas e tamanhos, aqui, muitas vezes se repetem. Por diversas vezes, por exemplo, o personagem vai ficar perambulando de um lado pro outro no mesmo estágio. Daí, ao invés de variar em diferentes tipos, acontece uma certa redundância, forçando-o a retornar em mapas já visitados para que possa buscar uma pista ou item deixado para trás no início. Apesar de ter estágios clássicos como os da floresta, da cidade, da fase da água e do fogo, aqui é o deserto quem manda de certo ponto de vista. No entanto, o que não falta é a criatividade nos elementos que os envolvem.
Jogabilidade é algo primordial em jogos de plataforma e, em Shantae, isso é incrível. Você vai gastar seu tempo pulando em níveis moderadamente difíceis, chicoteando inimigos com o longo cabelo roxo de Shantae. Muitas vezes terá de comprar xampu (é isso mesmo, xampu) com intuito de deixar seu cabelinho mais ”forte” e também poderia ocasionalmente transformar-se em outras formas animais, a fim de encontrar segredos e atravessar certos obstáculos. Você pode gastar todas as gemas que coletar na loja e pegar upgrades para a protagonista, como o poder de chicote mais rápido ou um ataque de bola de fogo.
A série Shantae sempre teve uma característica muito forte envolvendo a plataforma 2D. Shantae nada mais é que, uma caricatura autoconsciente de ícones de 16 bits – ela é temperamental demais, mas não deixa de ter sua candura demonstrada durante toda a jornada. É fácil se apaixonar pela protagonista, ainda mais que o enredo – apesar de simples – é bem direto ao ponto e rapidamente estabelece personagens e elementos da história com pouca explicação. Ou seja, muito mais fácil de ser assimilado para jogadores que odeiam certas dificuldades e ”blah blah blah”. É verdade que ninguém liga muito para a profundidade da trama em um jogo plataforma 2D side-scroller e isso está longe de ser o foco aqui. No entanto, temos muito mais do que o necessário para fazer deste título, algo totalmente impecável.
O que mais irrita no jogo está longe de ser gráfico ou trilha sonora, mas os loadings que não demoram tanto, mas que sempre me pergunto a razão pela qual jogos 2D plataforma, nos dias de hoje – com consoles altamente equipados – ainda carregam tanto seu conteúdo. É de se questionar se o console em questão é realmente tão poderoso quanto falam que é. Aquela tela que aparece geralmente toda escura e com um nominho, relógio, barra de carregamento ou apenas três pontinhos (seja lá o que for) na parte de baixo da tela é trocada pela doce Shantae dançando a dança do ventre. Eu ri muito vendo isso, pois até assim o jogo é cativante. Muitos vão indagar a razão disso: só mesmo pra encher o saco? Que nada… Até nisso o título consegue cativar e, ao invés de perder horas e mais horas esperando carrega-lo, não perdemos sequer 10 segundos, fazendo com que a dancinha dela, de olhinhos fechados, seja mais um charme.
Não há como negar que Shantae Half Genie Hero: Limited Edition é o melhor jogo 2D plataforma lançado até agora. Mais uma prova que as coisas não dependem somente de dinheiro, que – neste caso – foi feito através de uma vaquinha pelo Kickstarter. Tudo depende, principalmente, de boa vontade e parar com os famosos jogos ”fast food”, com intuito apenas de ter mais um entre vários para uma plataforma. Certamente que, com o hype de Shantae, a Wayforward se sentirá incentivada a continuar desenvolvendo ótimos jogos e não somente esta franquia. Foi divertido e único. Um jogo fofo, viciante e simplesmente genial. Altamente recomendável.