Uma das disciplinas que mais gostei de cursar, na faculdade de Jornalismo, foi “História da Arte”. Não era nada demais. A professora, que para ser sincero nem me lembro o nome, passava aulas e mais aulas mostrando slides de quadros famosos. E para cada pintura exibida ela contava uma curiosidade acerca do processo criativo da obra ou do autor. Estas explanações aumentaram, consideravelmente, o meu interesse pela Terceira Arte, mas não a ponto de desenvolver uma obsessão como a de Virgil Oldman, o esquisitão protagonista de O Melhor Lance, primeiro longa-metragem em inglês do cineasta siciliano Giuseppe Tornatore.

Brilhantemente interpretado pelo australiano Geoffrey Rush, Oldman é um renomado leiloeiro e especialista em arte, obcecado por quadros de mulheres, que ao longo da carreira amealhou uma belíssima coleção com a ajuda de um falso colecionador, Billy Whistler (Donald Sutherland). A tática é simples: Billy comparece aos leilões comandados pelo protagonista e dá o melhor lance pela obra desejada. Uma vez arrematadas, as pinturas são penduradas em uma sala secreta, longe dos olhos de todos, destinadas a se tornarem objeto de contemplação apenas de seu proprietário.

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Virgem e sem amigos, fatos que explicam tanto sua obsessão como o motivo de não expor as obras, a vida de Oldman corre bem até ele receber o telefonema de Claire Ibbetson (Sylvia Hoeks), uma jovem órfã, rica, que deseja vender todo o espólio dos pais. Depois de algumas tentativas frustradas de encontro para a realização do negócio e da quase desistência do leiloeiro, estas duas almas atormentadas, ele com suas particularidades e ela com a fobia de lugares abertos que a impede de sair de casa desde a adolescência, começam a se relacionar de forma inesperada. A partir daí, eles não serão mais os mesmos e o filme também não.

O drama sobre a vida de duas pessoas incomuns e envolvendo os bastidores dos leilões de arte, se transforma em um thriller ágil e dinâmico. Há muito mais semelhanças entre o ofício de um especialista em arte, capaz de descobrir uma perfeita falsificação entre tantas obras originais, e o oficio de um detetive. Ambos precisam descobrir pistas que os conduzam a verdade, evitando, assim, serem lubridiados, do jeitinho que o ótimo roteiro escrito pelo próprio diretor faz com o público. Acontece que, neste caso, é um bom engodo. Como detetives, somos convidados a resolver o mistério engendrado por Tornatore, uma das coisas mais estimulantes dos últimos tempos.

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O mundo das artes nunca foi tão intrigante. Além do roteiro e das interpretações, não é só Rush que brilha, a trilha sonora de Ennio Morricone e a fotografia de Fabio Zamarion complementam perfeitamente esta película que, sonora e visualmente, mais se assemelha a uma obra de arte, igualzinha as leiloadas pelo personagem principal. Aos amantes do cinema feito na Itália, uma dica: O Melhor Lance derrotou Viva a Liberdade, na categoria melhor filme do David Di Donatello (o Oscar italiano), em 2013. Ambos estão em cartaz no Rio de Janeiro. Vejam e tirem suas conclusões.

Desliguem os celulares e boa diversão.

BEM NA FITA: Geoffrey Rush e as demais interpretações. O roteiro e a direção de Giuseppe Tornatore. Trilha sonora e fotografia.

QUEIMOU O FILME: Maledetto cinema italiano que me fez adorar todos (sem exceção) os últimos filmes que assisti.

FICHA TÉCNICA:
Direção: Giuseppe Tornatore.
Elenco: Geoffrey Rush, Sylvia Hoeks, Donald Sutherland, Jim Sturgess, Philip Jackson, Dermot Crowley, Liya Kebede e Kiruna Stamell.
Produção: Isabella Cocuzza e Arthuro Paglia.
Roteiro: Giuseppe Tornatore.
Trilha Sonora: Ennio Morricone.
Direção de Fotografia: Fabio Zamarion.
Montagem: Massimo Quaglia.
Duração: 124 min.
Ano: 2013.
País: Itália.