Ao Seu Lado
Crítica do filme
Victor (Celso Franco) e Liz (Lali González) são como Chaves e Chiquinha. Meninos pobres que sonham com uma vida melhor. Um sanduíche já é um regalo e tanto, mas um telefone celular é outra parada. São parecidos, contudo, não são iguais. Enquanto os personagens mexicanos vivem em uma vila e suas preocupações se resumem as broncas que, fatalmente, levarão dos adultos, suas versões paraguaias se aventuram em um lugar miserável, no coração de Assunção, povoado por comerciantes desonestos e tipos dúbios, chamado Mercado Quatro. Lá, eles precisam ganhar o pão de todo dia com muito suor. E, assim, vão sobrevivendo.
Um dia, Victor recebe uma proposta: transportar sete caixas até um lugar a ser combinado. Em troca, ele recebe metade de uma nota de US$ 100. Se cumprir sua missão, mais tarde, receberá a outra parte. O garoto não sabe o que há nas caixas e é melhor que não saiba mesmo. Boa coisa não pode ser. E não é, pois ele mal começa a levar sua carga e se vê envolvido em uma perseguição pelas ruelas sujas e fétidas do local.
Dirigido por Juan Carlos Maneglia e Tana Schémbori, Sete Caixas é o filme paraguaio de maior repercussão internacional. Participou de diversos festivais e foi aclamado pelo público e pela crítica. Desde o início, em grande parte devido à montagem, imprime um ritmo acelerado, bastante veloz para dizer a verdade, sendo quase impossível desgrudar os olhos da telona, embora às vezes seja um pouco cansativo. Tem a dinâmica de um videoclipe, o que pode ser explicado pela experiência televisiva de seu realizador.
Em sua carreira internacional foi diversas vezes comparado ao brasileiro “Cidade de Deus” (2002). Apesar de também poder ser enquadrado no sub-gênero ‘favela movie’, é bem diferente da obra-prima de Fernando Meireles. Seus personagens principais ainda guardam uma certa inocência juvenil, há muito perdida por Dadinho, Buscapé e companhia. Essa ingenuidade é notada no amor platônico de Victor por Liz e no sonho do garoto em aparecer na televisão, concretizado em uma cena sensacional.
Nos cinemas desde o último dia 24 de abril, mas em apenas uma sala do Rio de Janeiro e com legenda em espanhol, Sete Caixas é um daqueles filmes encantadores que você guardará por muito tempo na memória. Há quem o encare como ingênuo demais. No entanto, prefiro vê-lo como uma demonstração de que é possível mostrar a realidade miserável, as dificuldades vividas por um grupo de pessoas, sem perder a ternura jamais.
Desliguem os celulares e boa diversão.
BEM NA FITA: A proposta dos diretores. Diferente de outros filmes que mostram a miséria ou a violência de forma gratuita, sem um propósito aparente, aqui a realidade pobre é apresentada dentro de uma trama bem estruturada, com uma história envolvente e que prende o público. A química juvenil entre os personagens Victor e Liz.
QUEIMOU O FILME: A correria desenfreada que acontece na telona cansa um pouco. A sensação de que o filme dá algumas voltas a mais até chegar ao seu (excelente) desfecho.
FICHA TÉCNICA:
Direção: Juan Carlos Maneglia e Tana Schémbori.
Elenco: Celso Franco, Lali González, Víctor Sosa, Nico García, Paletita Closs, Manuel Portillo, Mario Toñanez, Nelly Dávalos, Roberto Cardozo, Johnny Kim, Luis Gutiérrez, Liliana Álvarez, Katia García, Atil Closs, Junior Rodríguez e Stephen Jang, Alicia Guerra e Beto Ayala.
Produção: Vicky Ramírez Jou e Camilo Guanes.
Roteiro: Juan Carlos Maneglia, Tana Schémbori e Tito Chamorro.
Montagem: Juan Carlos Maneglia e Juan Sebastián Zelada.
Direção de Arte: Carlo Spatuzza.
Fotografia: Richard Careaga.
Trilha Sonora: Fran Villalba.
Duração: 110 minutos.
Ano: 2012.