Ao Seu Lado
Crítica do filme
Após temporada de sucesso de crítica e público no Sesc Consolação, o espetáculo O Desvio do Peixe no Fluxo Contínuo do Aquário, concebido e dirigido por Evill Rebouças, reestreia no Teatro do Incêndio. A peça aborda as relações de isolamento e aproximação entre pessoas que vivem sob o mesmo teto; fala da solidão provocada pela individualidade exacerbada.
A ambientação da montagem da Cia Artehúmus de Teatro envolve o espectador logo na entrada do teatro, marcada por uma luz fraca que sugere proximidade. Os cômodos são separados por uma planta baixa e demarcados por abajures; nos quartos, observamos cadeiras e pequenos armários de aço escovado brilhante; e o peixe Tom nada sozinho em um aquário de 1,80m por 1,20m, em aproximadamente 100 litros de água. Segundo Evill Rebouças, “o peixe Tom faz lembrar a impotência, o isolamento e a pequenez do indivíduo na grande metrópole”.
Indicado, entre outros, ao Prêmio Shell de 2013 por Maria Miss (adaptação da obra de Guimarães Rosa) e vencedor do prêmio APCA (2002 e 2006), o diretor, dramaturgo e ator Evill Rebouças concebeu uma encenação, na qual atores buscam uma cumplicidade direta com o espectador ao mergulhar em temas como convivência, qualidade das relações, individualidade e interação social.
Durante um ano, a companhia foi a campo, literalmente, para ver de perto como as pessoas se relacionam nos dias de hoje: albergues, conjuntos habitacionais e condomínios de luxo foram visitados. Além de observar a interação entre os moradores, o grupo entrevistou diversas pessoas para criar personagens que sigam protocolos comuns à nossa época.
As histórias dos cinco personagens de O Desvio do Peixe no Fluxo Contínuo do Aquário são complementares. João Paulo (Edu Silva) e Dalva (Solange Moreno), pais de Téo (Daniel Ortega), repetem estranhamente juras de amor; estão próximos fisicamente, mas completamente distantes na relação. Em tom patético que beira ao cômico, a peça aborda a solidão da individualidade exagerada. São relações de isolamento e aproximação entre cinco pessoas que vivem em um condomínio e têm como confidentes os espectadores. Como testemunha, apenas um peixe dentro de um aquário. Teria o bicho a mesma vida que os homens? Ou os homens aprisionam-se, qual o peixe do aquário?
A solidão é um ponto fundamental do espetáculo. Evill explica que não se trata de uma solidão da tristeza, “mas da solidão própria da individualidade exagerada, que nasce das necessidades do mundo atual, onde, por exemplo, jantamos com amigos e falamos ao celular ao mesmo tempo”. Os personagens, no entanto, se dizem felizes, são queridos, corretos e profundamente isolados e sós. “O que demarca essa situação é o ritmo acelerado de nosso tempo, legitimado por um sistema de ‘necessidades’ contemporâneas”, afirma o encenador.
Téo é o personagem que conduz e participa das ações: ele vê, opina, ironiza e provoca boas doses de humor. Apresenta, por exemplo, Anamélia (Natália Guimarães), sua irmã que está de casamento marcado com um colombiano que conheceu pelo Facebook. Clóvis, o porteiro (Cristiano Sales) é, curiosamente, o personagem mais próximo de Téo. Situação hilária acontece quando ele comenta o grau de exigência para a admissão do porteiro: Clóvis teve que fazer prova sobre as teorias do Panóptico de Foucault. Ironicamente o porteiro tem que comentar sobre os “dispositivos de controle”, teoria refletida por Michel Foucault.
:: SERVIÇO
Temporada: 11 de novembro até 17 de dezembro de 2014
Dia/Horário: novembro – terças e quartas, às 20h e dezembro: terças, quartas e quintas, às 20h
Local: Teatro do Incêndio
Endereço: Rua da Consolação, 1219 – São Paulo
Telefone: (11) 2609.8561
Ingressos: R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia)
Gênero: drama
Duração: 80 minutos
Lotação: 50 lugares