Ao Seu Lado
Crítica do filme
Vencedor do prêmio de melhor filme de estréia na ultima edição do Festival de Berlim e candidato mexicano ao Oscar 2016, 600 Milhas, dirigido por Gabriel Ripstein, acompanha os passos de Arnulfo Rubio (Kristyan Ferrer), um jovem mexicano, alguém aparentemente igual a qualquer outra pessoa de sua idade, ele ama baseball, sabe de cabeça o nome dos seus ídolos, ainda que confunda a nacionalidade de alguns deles, mas que possui um trabalho incomum: laboriosamente, com a ajuda de um amigo, Carson (Harrison Thomas), ele trafica armas dos Estados Unidos para um cartel de drogas comandado por seu tio, Martín (Noé Hernandez), no México. A operação é bastante simples: Carson vai as lojas, compra o armamento solicitado, eles escondem em pontos específicos de um carro, e Arnulfo atravessa a fronteira sem levantar suspeitas, sempre com a desculpa, caso seja parado, de que estava visitando um primo, em Tucson. Em sua simplicidade e engenhosidade, lembra, com mostrado em “Narcos”, série do Netflix, as primeiras vezes que Pablo Escobar (Wagner Moura) transportou pasta de coca para a Colômbia.
Apesar da discrição da dupla, a operação não escapou do radar das autoridades. Hank Harris (Tim Roth, que também exerce a função de produtor), um experiente agente da ATF (órgão federal norte-americano responsável pela fiscalização da venda de bebidas, tabaco, armamentos e explosivos), tem o hábito de ir às lojas e feiras onde são comercializados estes produtos; e procurar por comportamentos suspeitos. Tipo: alguém que esteja comprando mais armas do que deveria, a menos, claro, que queira declarar guerra a alguma república das bananas. Em uma destas incursões, ele descobre as atividades dos jovens e começa a segui-los de perto, com redobrado interesse. No entanto, na hora de efetuar a prisão, apesar de toda a sua experiência, o caçador é surpreendido e se transforma em presa. A partir daí, o longa-metragem dá uma virada de 180 graus e o centro das ações se transfere de terras ianques para terras astecas.
Com um roteiro desenvolvido a quatro mãos, pelo próprio diretor em parceria com a roteirista Issa López, e que reserva uma surpresa interessante para sua reta final, este é um filme diferente. Uma produção simples, se comparada a outras do gênero, que utiliza de bom humor em alguns momentos, como, por exemplo, a conversa entre Hank e Arnulfo, na qual o jovem diz acreditar que todos os jogadores latino-americanos do Arizona Diamondbacks são mexicanos. Aparentemente deslocada, ela serve para aliviar a tensão entre eles em uma obra que, apesar de retratar algumas mortes, prefere priorizar o lado humano de seus personagens e mostrar as consequências da vida que levam. Por estas características, sua fotografia onde os tons quentes acentuam a aridez da paisagem local e de determinados relacionamentos interpessoais, 600 Milhas está para os filmes sobre cartéis, assim como “Salvo: Uma História de Amor e Máfia” está para os de gângsteres.
Desliguem os celulares e ótima diversão.
(Filme assistido no 17º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro).
FICHA TÉCNICA:
Direção, roteiro, produção e montagem: Gabriel Ripstein.
Co-roteirista: Issa López.
Co-produção: Tim Roth, Michel Franco e Moisés Zonana.
Elenco: Tim Roth, Kristyan Ferrer, Harrison Thomas, Noé Hernández, Aurora Herrington-Auerbach, Monica Del Carmen, Craig Hensley, Harris Kendall, Greg Lutz, Tad Sallee, Julian Sedgwick, Antonella Cassia, Justice Lee, Rick L. Lobato e Ken Lownds.
Direção de Fotografia: Alain Marcoen.
Co-montagem: Santiago Perez e Rocha Leon.
Direção de Arte: Darren Clark.
Duração: 85 minutos.
País: México.
Ano: 2015.