Ao Seu Lado
Crítica do filme
A SEGA vem tentando manter certa constância em seus remasters. Antes do mundo aberto de GTA, o primeiro console 128 bits a praticar interação em um mapa considerado grande foi o Dreamcast com Shenmue. Qualquer pessoa que tenha escutado falar de Yakuza tem um pezinho em Shenmue. Jogar este título em plena era da batalha dos consoles da nova geração, ou seja, em 2018, é como uma viagem ao passado.
Neste jogo de dreamcast podemos controlar muitos elementos que hoje são comuns, mas que no final da década de 90 nem tanto. Havia o controle do tempo onde podia-se dormir e os quick time events, onde a interação do personagem se fez muito precisa. Até hoje as razões para ambos os títulos serem obra prima são incontáveis. Shenmue ainda é uma espécie de RPG, é possível vasculhar cômodos, abrir gavetas, comprar refrigerantes e colecionáveis, fitas cassete para seu walkman, ter um emprego para ganhar dinheiro, jogar fliperamas (com jogos antigos de arcade da sega) e mais.
Na verdade, a SEGA não queria ficar muito atrás do vindouro Playstation 2. Com a informação de que o console da Sony seria lançado diferente do usual (com leitor de DVD), foram necessárias 4 mídias para conceber a estrutura gráfica de Shenmue no console poderoso que a então desenvolvedora japonesa tinha criado. Outro fator é que Shenmue 1 levou o Dreamcast ao seu máximo com a criação de Yu Suzuki. A produção — até então a mais cara de sua época — foi o passo mais ousado para aquele momento.
O mundo criado por YU está repleto de NPC’s que possuem suas próprias vidas e que tem um peso narrativo dentro da trama. A todo o momento o jogador terá que ir de um lugar para o outro, tanto no primeiro jogo quanto no segundo. A abertura cinematográfica com gráficos belíssimos para 18 anos atrás, onde a história era anunciada com um vilão: Lan Di, um chefão da mafia chinesa mata o pai de Ryo e rouba um espelho que se chama Dragon Mirror. O protagonista então descobre que existe outro espelho, Phoenix Mirror. Logo, a missão de Ryo no jogo é: encontrar o Phoenix Mirror, recuperar o Dragon Mirror, descobrir as razões da morte de seu pai e, consequentemente, vingá-lo.
No segundo jogo, a história continua, mas com Ryo indo até Hong Kong para descobrir mais respostas. Shenmue 2 foi lançado no ano de 2001 em um momento de desespero da japonesa, o Dreamcast já havia se rendido aos poderes do Playstation 2, assim como o Sega Saturno sucumbiu diante do Playstation 1 e Nintendo 64. Ao lado do PS2, havia também o console da Nintendo, o Gamecube e o Xbox, que começavam a aparecer para o público. Os três concorrentes ofereciam o mesmo que o Dreamcast (128 bits), porém de forma melhorada, visto que eram consoles que foram lançados depois e aprenderam com as limitações do Dreamcast. O segundo jogo chegou nos Estados Unidos apenas em 2002 e para o Xbox original, já com o console descontinuado e a SEGA funcionando apenas como desenvolvedora.
Pouco antes de jogarmos Shenmue no Playstation 4, fomos verificar as semelhanças visuais no nosso Dreamcast aqui na redação. Temos em nosso hall um Dreamncast Limited Code Veronica, comprado no ebay em maio de 2016. Com ele, tínhamos alguns jogos originais guardados por aqui pegando poeira. Um deles era Shenmue, então revivemos a obra clássica de Suzuki e em paralelo rodando a versão de PS4. Por se tratar de um remaster, aparentemente há melhoras gráficas (nada tão grandioso), mas há. Além de a sonoridade apresentar uma melhora, o sistema de cores está mais vívido, talvez pelo HDMI melhorar a imagem da nova versão. Já ao rodarmos num sistema de conversão de VGA para HDMI no Dreamcast, realmente é de se perceber nitidamente algumas modificações no sistema visual e sonoro do título. Shenmue foi tudo isso mesmo, mas ao mesmo tempo foi o que levou a SEGA a beirar a falência. Enquanto alguns pensam que o mercado de cinema é o mais caro entre os dois, engana-se. O projeto inicial custou cerca de 80 milhões de dólares naquela época, sendo um valor exorbitante para um jogo exclusivo, em um console que não havia vendido muito, já que não se tratava de um Sony.
Os dois títulos se tornaram o marco máximo da história da SEGA, mostrando que eles tinham potencial para desenvolver jogos belíssimos, ainda que custassem o olho da cara. No entanto, também serviu para mostrar à SEGA que, mesmo que exista um Xbox One e Dreamcast 2, nada irá remover da mente do pessoal que a Sony era o melhor console, mesmo que o Saturno tenha provado por A+B que seus cartuchos de memória e desbloqueio de região fossem também melhorias que eram para serem consideradas.
O VEREDITO
Independente do que for, qualquer um que jogue Shenmue 1 e 2 pode se considerar uma pessoa feliz e de sorte por ter tido a chance única de jogar nos dias atuais um título que transcenderá gerações, proporcionando uma experiência indescritível no ímpeto da alma.