Teto das Nuvens

Teto das Nuvens inova para alcançar público maior

Monique Ferreira

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12 de março de 2021

Fundada em 2019, a Teto das Nuvens é uma banda gaúcha com uma história de muita experiência. Entretanto, isso não os impediu de também abraçar as mudanças. Antes chamada Swansea, um grupo de post-hardcore com letras em inglês, a banda sentiu que deveria iniciar uma nova fase em seu projeto. Por isso, em junho de 2020, foi lançado o primeiro álbum de um novo grupo que, na ocasião, foi resultado da necessidade de criar uma abordagem mais abrangente que pudesse chegar em cenas e nichos que a Swansea não conseguiria.

A Teto das Nuvens é formada por Luiz Fernando Santos (vocal), Douglas Jacques (guitarra), Tiago Rezende (guitarra), Daniel Farias (bateria), e Jotapê Gomes (contrabaixo). Com músicas novas sendo trabalhadas, eles estão produzindo e experimentando influências e testando novas sonoridades.

Para conhecer mais dessa história, convidamos os artistas para uma conversa que abordou mudanças, regionalidades e a força do nicho do rock.

Confira!

A maior queixa das bandas na cena independente é esse momento de formação de identidade e público. Vocês já tinham isso como Swansea e mesmo assim decidiram recomeçar como Teto das Nuvens. O que incentivou esse recomeço?

Tiago: Essa questão é bem complexa. Por um lado, a formação de identidade e público é sim muito difícil, visto que o digital parece ter nos últimos anos ficado muito pouco orgânico, e o alcance é cada vez mais atrelado a investimentos financeiros, que não é algo possível para uma banda independente. Essa frustração de sentir que “não chegamos” em pessoas que poderiam gostar é bem cansativa em projetos independentes.

Por outro lado, desde que nos juntamos em 2014 como Swansea fazemos músicas primeiramente para nós mesmos, então o caminho de Swansea para Teto das Nuvens foi também um amadurecimento nesse sentido. Não era o momento da gente parar de tocar e desistir de sermos um grupo que compõe e toca juntos, mas, ao mesmo tempo, o caminho que a Swansea trilhava também já não nos animava muito. O recomeço como Teto das Nuvens é tanto pra nosso gosto pessoal quanto pra explorar novas maneiras de chegar em mais gente. 

“Swansea” é uma cidade galesa, mas também pode ser traduzido como “Mar dos Cisnes”. E agora vocês são o Teto das Nuvens. A mudança de nome também representa uma busca por patamares mais altos?

Luiz: Tínhamos um público, mas bem pequeno e específico. O projeto da Teto foi uma coisa que discutimos juntos e todos concordamos que era preciso criar uma conexão maior com o ouvinte para aí então começar a formar um público e chegar mais longe.

O nome, assim como a mudança para letras em português, era peça chave pra tudo isso. Não fazia sentido manter um nome tão “alternativo” num projeto voltado pro rock nacional. A gente fez muito brainstorm pra chegar nesse nome. E deu super certo. Manteve nossa essência musical e ficou mais fácil pra galera gravar. Como disse o Dani: “O mar evaporou e transformou-se em nuvens”, risos.

O primeiro álbum de vocês foi lançado ano passado e traz uma riqueza de referências. Vocês acham que abrir o rock através da mistura com outros ritmos pode ser uma maneira de expandir o nicho a novos públicos?

Luiz: Acho que o caminho pra quem busca um público novo é esse. Se olharmos para as grandes bandas de Rock que estão bem posicionadas no mainstream hoje, foi isso que aconteceu: adicionaram elementos. Como sempre tivemos muitas referências distintas entre os integrantes, isso ajudou a dar originalidade no som.

Nunca decidimos “vamos fazer tal gênero musical”, apenas vamos compondo as músicas como elas nos parecem pedir pra ser. Colocamos muitos elementos de fora do Rock. O Wagner Schwertz, produtor do álbum, nos ajudou muito nisso. Conseguiu adaptar muita coisa diferente que levamos pra dentro do estúdio.

A mudança artística da banda também causou alguma mudança de estrutura? A maneira de compor e produzir foi afetada?

Tiago: Nos últimos tempos, tivemos duas mudanças mais substanciais. Uma foi tentar fugir um pouco do modelo antigo, onde o instrumental era feito praticamente em separado da voz, e depois “encaixamos” alguma letra por cima. No álbum ‘Caso Você Esteja Errado‘, as coisas andaram juntas, letras, melodia, estrutura das músicas. Esse processo de trabalhar os arranjos instrumentais e as linhas de voz mais concomitantemente  abriu espaço pra pensar em coisas mais abstratas como o “clima” ou a “atmosfera”, assim como a progressão das músicas no álbum, coisa que antes não acontecia.

E depois disso, a pandemia impactou bastante. Começamos o disco em 2019 e terminamos em 2020. Ou seja, as mudanças impactaram bastante o processo de produção. No início nos reuníamos todos sempre, mais pro final, foi ficando cada vez mais distanciado e individual a parte de cada um. Isso se mantém agora, nas músicas que estamos criando pós CVEE. Encontros com menos integrantes, mais espaçados, e colaboração a distância são a única maneira por enquanto.

O mercado musical do sul do país é muito comentado em outros estados por ter o rock como um nicho que manteve a sua força. Como é a relação de vocês com as outras bandas da região?

Luiz: Temos muitos amigos na cena, a maioria de nós toca em banda desde os 15, 16 anos. Muita gente nem toca mais, mas ainda nos acompanha, nos apoia. Isso é essencial. A esperança de fomentar uma nova cena pós-pandemia dá um ânimo, saca? Estamos em uma playlist, que também é um grupo, chamado “Faça a Cena”, tem muita banda dahora ali, mesmo que não tenha muito a ver com nosso estilo.

E a galera se engaja legal pra rodar playlist, divulgar os trampos. É uma nova fase do “rock gaúcho”, que precisava dar uma renovada mesmo. Agora só falta as mídias darem uma atenção a mais pra gurizada nova. Tem MUITA banda nova boa correndo atrás e fazendo um som irado. Aproveito o espaço pra dar aquela indicada: Reforme, We Are The Cosmos, Rezalenha, Celeste, The Tape Disaster. Tem várias.

Foto por Broken Hearts Fotografia

E como a regionalidade afeta a música de vocês?

Luiz: Olha, afeta um pouco pra chegar em coisas maiores, como playlists grandes e festivais renomados. Quem falar que não afeta, tá mentindo. Todo mundo sabe que o eixo Rio-SP acaba tendo mais destaque. Claro, com a Internet e todas as plataformas e redes sociais, melhorou muito. Mas na questão comercial ainda pesa bastante. Um show em SP pra nós de largada já custa mais de mil reais só em passagens e isso dificulta pra todos os lados. Morando em São Paulo, por exemplo, você consegue tocar muito mais, aparecer muito mais.

No momento nosso foco está em buscar público e entregar o melhor possível pro ouvinte através das redes sociais, YouTube, plataformas de streaming, etc. Sinceramente falando, acho que nunca nos encaixamos nesse “Rock gaúcho” que é difundido em alguns meios. Galera aqui não é nem um pouco bairrista.

Quais são as três bandas ou artistas da cena nacional que deixam vocês nas nuvens?

Luiz: Olha, praticamente impossível citar apenas três (risos), mas vamos lá: Menores Atos, Black Alien e Milton Nascimento.

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Então você é artista e acha que não tem muito espaço? Fique à vontade para divulgar seu trabalho na coluna Contra Corrente do ULTRAVERSO! Não fazemos qualquer distinção de gênero, apenas que a música seja boa e feita com paixão!

Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho. Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail guilherme@ultraverso.com.br! Aquele abraço!

Monique Ferreira

Monique Ferreira é produtora artística, de eventos e audiovisual. É CEO da agência Na Beira do Palco, que realiza eventos no mercado independente do Rio de Janeiro e atua com lançamentos e produção artística de bandas e músicos. Se dedica à produção de conteúdo web sobre music business para artistas independentes.
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