Visões Periféricas: Confira como foi a abertura do festival
Alan Daniel Braga
A 7ª edição do Festival Visões Periféricas, que acontecerá até o dia 22 de agosto no Rio, teve sua abertura na última quinta-feira, dia 15 de agosto, no Oi Futuro Ipanema. O evento contou com a presença de convidados, realizadores e a do homenageado desta edição, o músico, poeta e ativista social Marcelo Yuka.
Depois da exibição do vídeo oficial de divulgação do festival, os coordenadores Marcio Blanco e Karine Melissa deram as boas vindas ao público. Karine, a primeira a falar, lembrou que a edição de 2013 traz uma identidade visual que sintetiza o espírito do festival desde sua criação: a pipa, um objeto que representa o movimento, a alegria e a democracia, visto que está em todos os pontos da cidade. A produtora ainda leu o poeminha “A pipa e o vento”, de Cleonice Rainho, desejando que todos “alcancem o céu”.
Logo após, foi a vez de Marcio Blanco, o idealizador do festival, agradecer ao público pela presença, lembrando que o sétimo ano não apenas representa um número cabalístico, mas é o fim de um ciclo para o evento. Com 550 curtas inscritos e muita procura, a pipa pretende alçar novos voos e cogita-se até a inserção de mais longas-metragens nas futuras programações do festival. O coordenador ainda deu um apanhado geral do que foi programado para a edição de 2013.
Roberto Guimarães, diretor da área cultural do Oi Futuro, foi convidado então para dar o seu recado. Para ele, o festival segue a uma máxima do saudoso comunicador Chacrinha: Eu vim para confundir, não para explicar! Segundo Guimarães, o ponto de destaque do festival é a grande mistura, a diversidade de realizadores e de tipos de periferias, além de mostrar que hoje qualquer um pode se apoderar dos meios de produção. O diretor do Oi Futuro ainda destacou a Ocupação da Praça General Ozório, um dos eventos que acontecerão durante o festival, que contará não apenas com filmes, mas com poesia e performances. “ – Confundam, misturem!” – decretou e finalizou.
O homenageado do festival, Marcelo Yuka, foi convidado em seguida para conversar com o publico. Em 2007, o músico participou da 1ª edição do Visões Periféricas com o curta “O filme do filme roubado do roubo da loja de filmes”, co-dirigido e roteirizado com Júlio Pecly e Paulo Silva, que também estavam presentes. Na época, a ideia era formar um grupo de produção de cultura independente. Foi assim que nasceu a Companhia Brasileira de Cinema Barato, composta por realizadores cariocas da periferia e do cárcere, com a qual o compositor lançou um manifesto que declarava que qualquer pessoa tinha o direito de fazer um filme. A Companhia não prosseguiu, mas a essência de seus mandamentos é a essência do festival e do cinema independente de hoje.
Em meio à felicidade de estar em um espaço ocupado por um tipo diferente de cinema, Yuka disse ter achado aquela uma homenagem inusitada. Não apenas por não ser exatamente do ‘meio’, mas por estar mais acostumado a sofrer o que chama de uma “cassação velada”, por seu ponto de vista ou por não fazer concessões. O músico então falou do conceito de Cinema Livre seguido pela Companhia Brasileira de Cinema Barato, uma lógica contrária a de um mercado que prioriza quem tem dinheiro ou faz lobby. O filme exibido no festival foi feito sem verba, com amigos e voluntários. Marcelo ainda falou das ações desenvolvidas junto à população carcerária. Na época, eles contavam com a ajuda do delegado Orlando Zaccone, o mesmo que hoje investiga o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza. Para Yuka, os fatos se completam.
Muitos assuntos se seguiram no discurso entusiasmado de Yuka: a significação da periferia, o preconceito e a defesa do funk como expressão cultural e artística, a crítica aos chamados filmes de periferia, que retratam favelas cenográficas (- Neguinho não entendeu porra nenhuma!), o cinema periférico como a cultura de quem tá na rua. E o poeta, músico, cineasta ainda terminou seu ponto de vista de forma direta: – Eu quero fazer música e não posso. Eu não sei fazer cinema, mas foda-se!
Antes de passar a bola, Yuka ainda falou de um projeto que está produzindo, que irá aliar música e cinema. No novo álbum, cada faixa musical terá um cantor ou musico convidado e um cineasta, que fará um filme em cima da música. Uma delas é, segundo ele, a única música de amor feita para uma relação pessoal , a qual ele dedica à esposa, Maíra. E foi ali que, para consolidar o amor em filme, Yuka pediu à plateia que se juntasse a ele – no vídeo feito de seu celular – em um coro de “ – Eu te amo, Maíra”.
Os últimos convidados da noite a serem apresentados ao público foram André Novais Oliveira, diretor de “Pouco mais de um mês”, e Everlane Moraes, diretora e roteirista de “Caixa d´Água: Qui-lombo é esse?”, filmes que também estariam na sessão.
André, com seu sotaque mineiro, trouxe um filme pessoal, que fez com amigos e com a namorada Élida. Uma produção de muito amor pelo cinema, que, embora roteirizado, retrata fatos e imagens reais que vivera junto à namorada. O filme é sutil, lento como o tempo a dois e traz a naturalidade dos não-atores. Já a ‘baiano-sergipana’ Everlane, com seu forte sotaque nordestino, não ficou nada atrás com a pessoalidade de uma produção cuja ideia nasceu quando ela ainda tinha 9 anos. Através da narrativa de antigos moradores do Bairro Getúlio Vargas, descendentes de escravos, a produção enaltece a importância da oralidade no processo de preservação da cultura negra. O filme, que participou de um edital público, é repleto de imagens fragmentadas e poéticas. Muitos dos entrevistados morreram durante o longo processo de idealização e realização do curta.
Após a exibição dos três curtas-metragens, ainda houve um rápido debate sobre as produções e um coquetel para os presentes. O Festival Visões Periféricas seguirá até a próxima quinta-feira, com mostras fílmicas no Oi Futuro Ipanema e atividades espalhadas pela cidade. Confira a programação completa e conheça os filmes no site do festival.
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Assista abaixo ao curta-metragem “O filme do filme roubado do roubo da loja de filmes”, exibido na abertura do festival: